FIB15: Linguagem das redes reflete lógica do capital e afeta laços sociais, aponta Vladimir Safatle

Durante o 15º Fórum da Internet no Brasil, realizado em Salvador nesta terça-feira (27), o filósofo Vladimir Safatle analisou os impactos das novas tecnologias sobre a subjetividade contemporânea. Suas reflexões foram centrais no painel “Afetos, algoritmos, colisões: experiências subjetivas na cultura digital”. Ao dialogar com o público, Safatle abordou questões que envolvem os afetos, os modos de circulação de informação e os efeitos políticos e sociais de uma cultura mediada por algoritmos.

Segundo o filósofo, vivemos uma nova configuração da vida social marcada por transformações profundas na forma como construímos vínculos, identidades e relações. “São modificações estruturais na noção de tempo, na noção de espaço, na noção de identidade, na noção de vínculo social”, afirmou. Para o estudioso, as mudanças, ainda difíceis de mensurar em toda a sua complexidade, afetam todas as gerações, da infância à vida adulta.

Safatle destacou ainda que o impacto das tecnologias não se limita à esfera individual, e que o controle da informação está concentrado nas mãos de poucos. “Nós temos quatro pessoas que organizam toda a comunicação mundial. Elas podem intervir na política de qualquer país, definir o que é discutido ou não. Esse é um dado, o mínimo que posso dizer, aterrador.”

A linguagem das redes

Ao discutir os afetos na cultura digital, Safatle ressaltou que a linguagem predominante nas redes é marcada pela funcionalização e pelo espetáculo. “A gente está falando de uma linguagem baseada na estereotipia, no máximo impacto, na noção de espetáculo, na máxima visibilidade. É claro que uma série de experiências afetivas têm cada vez mais dificuldade de circular nesse horizonte.”

“Nós conseguimos fazer com que a sociedade toda convergisse a partir da generalização de uma forma só de linguagem, que é profundamente adaptada a um certo tempo, a uma certa ideia de tempo, a uma certa ideia de circulação, a uma certa ideia de exposição, a uma certa ideia de espaço, a uma certa ideia de convergência, que tem, efetivamente, uma proximidade enorme, que é uma consequência fundamental da generalização da lógica do capital para todos os espaços. É claro que isso traria consequências para a estrutura das subjetividades”, acrescentou.

Para Safatle, essa mudança profunda também tem mudando a capacidade dos sujeitos de saber lidar com os diferentes setores da vida, como a experiência social e o espaço da ação política. “As sociedades não são só sistemas de normas, de regras e de leis. As sociedades são, principalmente, circuitos de afetos. Isso significa o quê? Significa que o que eu sou capaz de perceber e não perceber, o que eu sou capaz de sentir e não sentir, o que eu sou capaz de ver e de não ver, não é simplesmente uma questão vinculada à minha configuração individual.”

Por fim, o filósofo defendeu a importância de espaços interdisciplinares como o Fórum da Internet para o enfrentamento desses desafios contemporâneos. “Acho muito bom que fóruns como esse chamem pesquisadores de várias áreas, porque, através disso, a gente vai poder realmente mensurar a dimensão dos problemas.”

O painel reforçou a urgência de se pensar criticamente o papel das tecnologias digitais na constituição das subjetividades e das estruturas sociais, num contexto em que os afetos e os algoritmos colidem em disputas profundas por sentido, espaço e poder.

FIB15

Realizado pelo Comitê Gestor na Internet no Brasil (CGI.br), a 15ª edição do Fórum da Internet no Brasil (FIB15) reúne especialistas do país e do exterior de diversos setores da sociedade para discutir o futuro da rede entre os dias 26 e 30 de maio de 2025 no Fiesta Convention Center, em Salvador. A ação marca os 30 anos CGI.br, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas para o uso e desenvolvimento da Internet em território nacional. Desde sua criação pelo CGI.br, o FIB funciona como uma atividade preparatória para o Fórum de Governança da Internet (IGF) da Organização das Nações Unidas (ONU), o que faz dele um dos mais importantes espaços de debates no país sobre temas ligados ao uso e desenvolvimento do ambiente digital.