20 maio 2025
Uma praça tomada pelo povo católico. Durante quase duas horas, as ruas do entorno da Praça de São Pedro foram tomadas pela multidão, que se dirigia para ver o novo pontífice. Cerca de 100 mil pessoas estavam diante da Basílica de São Pedro quando Leão 14 lançou o primeiro apelo forte de seu pontificado ao lembrar os 80 anos do 8 de maio, o Dia da Vitória na Europa: “Guerra, nunca mais!”
E lançou um apelo pelo fim das hostilidades na Ucrânia e por um cessar-fogo em Gaza, com a liberação dos reféns. Era o primeiro Regina Caeli – a oração feita pelo papa aos domingos no período pascal – de seu pontificado. O apelo do papa Prevost demonstra mais uma vez a continuidade de seu pontificado com o de seu antecessor, Francisco, cuja última manifestação no domingo de Páscoa teve como tema central a paz.
O papa apareceu na sacada do Vaticano rigorosamente às 12 horas. E lá permaneceu por 13 minutos. Começou dizendo considerar um presente de Deus que o primeiro domingo de seu “serviço como bispo de Roma fosse aquele do Bom Pastor, o quarto domingo da Páscoa”.
Citou então a jornada mundial de orações pelas vocações, celebrada há 62 anos nesse domingo e lembrou que, naquele momento, Roma hospedava o Jubileu das bandas Musicais e dos Espetáculos Populares.
Dezenas de fanfarras e bandas haviam desfilado nas horas que antecederam a oração do pontífice pelo canteiro central da Via della Conciliazione, garantindo um clima de festa, dentro do qual desaparecia na multidão a presença ostensiva da segurança policial e militar que circundava todo o lugar.
Bandas de comunidades de toda a Itália, bandas militares, fanfarras alemãs e de outros países católicos da Europa – todas com uniformes, bandeiras e roupas tradicionais – desfilaram até a praça à espera do papa, que realizou sua primeira bênção aos católicos da sacada da Basílica de São Pedro.
“Saúdo com afeto todos esses peregrinos e os agradeço porque com a sua música e as suas apresentações alimentam a festa do Bom Pastor. De fato, como ensina o papa São Gregório Magno, as pessoas correspondem ao amor de quem as ama”.
Dirigiu-se, então, aos jovens, afirmando a necessidade que a Igreja tem de suas vocações. “E aos jovens, eu digo: Não tenham medo, aceitem o convite da Igreja e do Cristo Senhor e que a Virgem Maria os acompanhe”.
Foi, então, diante das bandas e dos jovens que o papa cantou o Regina Caeli, um gesto inusual, nunca feito pelo seu antecessor. Ao término da oração tradicional da Páscoa, o pontífice se dirigiu à multidão e começou o seu apelo pela paz.
“A tragédia da 2ª Guerra Mundial terminava há 80 anos, no 8 de maio, após ter causado 60 milhões de vítimas; no cenário dramático atual de uma 3ª Guerra Mundial em partes, como mais de uma vez afirmou o papa Francisco, me dirijo aos grandes do mundo, fazendo o apelo sempre atual: guerra, nunca mais!″
Começava, assim, o apelo do papa, que tratou em seguida de três grandes conflitos. O primeiro, o que ocorre na Ucrânia. “Trago no coração os sofrimentos do amado povo da Ucrânia. Que se torne possível alcançar o mais rápido uma paz autêntica, justa e duradoura. Que sejam libertados todos os prisioneiros e que as crianças possam voltar para as suas famílias”.
Depois, o papa abordou o conflito no Oriente Médio entre Israel e o grupo terrorista Hamas. “Entristece-me profundamente o que está acontecendo na Faixa de Gaza. Cesse imediatamente o fogo. Se preste ajuda humanitária à sofrida população civil e que sejam libertados todos os reféns”.
Em seguida, abordou o conflito entre a Índia e o Paquistão, e se disse contente com o cessar-fogo acordado pelas duas nações. “E desejo que, por meio das próximas negociações, se possa chegar a um acordo duradouro.”
Em seguida, Leão XIV lamentou a quantidade de conflitos hoje no mundo. E suplicou a Nossa Senhora que intercedesse junto a Jesus Cristo a fim de obter o “milagre da paz”.
Por fim, o papa fez uma saudação ao Dia das Mães, celebrado na Itália e em diversos países, como o Brasil. “Mando uma saudação a todas as mães com uma oração por elas e por aquelas que já estão no céu. Boa festa a todas as mães.” Em seguida, o papa despediu-se dos fiéis.
Ainda neste domingo, o papa celebrou uma missa na cripta da Basílica de São Pedro. Ali, começou sua homilia em inglês ao tratar do evangelho deste domingo sobre o Bom Pastor. Leão XIV lembrou mais uma vez do Dia das Mães e novamente reafirmou a necessidade de “escutar” para construir pontes.
“Durante meu recente encontro com os cardeais (a reunião aconteceu no sábado, 10, no Vaticano), nós falamos bastante sobre as vocações na Igreja e o quanto era importante que todos nós buscássemos despertá-las. Primeiramente, com o bom exemplo em nossas vidas, com alegria, vivendo a alegria do Evangelho e encorajando os outros a ouvir a voz do Senhor”.
Depois, o papa prosseguiu em italiano, afirmando que é importante o espírito universal para levar a Igreja adiante. E repetiu a exortação feita na praça aos fiéis. “Não tenham medo; é preciso coragem para dar o testemunho que damos, com a Palavra e, sobretudo, com a vida, servindo muitas vezes com grandes sacrifícios para viver essa missão”.
Ele prosseguiu, afirmando que é importante escutar. “Penso que seja importante que todos nós aprendamos a escutar sempre mais para entrar em diálogo, antes de tudo, com o Senhor. Depois, escutar os outros, saber construir pontes, saber escutar para não julgar, não fechar as portas pensando que nós somos os donos da verdade. É muito importante escutar a voz do Senhor. Caminhamos junto com a Igreja, pedindo ao Senhor que nos dê essa graça de poder escutar a sua Palavra para servir a todo o povo”.
Um dia antes, na tarde de sábado, 10, o pontífice havia visitado o túmulo do papa Francisco, na igreja de Santa Maria Maior, em Roma, onde orou e deixou uma rosa branca. Antes, fora até o santuário agostiniano de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Genazzano, a cerca de 65 km de Roma.
Ele rezou a Ave Maria e o canto do Salve Rainha. Em seguida, conversou com os fiéis e religiosos que estavam na Igreja, saudando o povo da cidade, reunido em frente à igreja. Era a primeiro contato do povo com o novo bispo de Roma. “Desejei vir aqui nesses primeiros dias do novo ministério que me foi entregue para levar adiante essa missão como sucessor de Pedro”.
Depois, o papa lembrou aos presentes sua eleição como superior geral da Ordem de Santo Agostinho e a escolha de “oferecer sua vida à Igreja” e reafirmou sua “confiança em Nossa Senhora do Bom Conselho”, companheira de “luz e sabedoria”.
Ao sair da basílica, o papa saudou os presentes e disse: “Assim como a Mãe jamais abandona os seus filhos, vocês também devem ser fiéis à Nossa Senhora”. E, então, abençoou os presentes antes de partir para a visita ao túmulo de Francisco.
Marcelo Godoy/Estadão