Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula (PT) 29 de maio de 2025 | 20:01

Evento com Lula em SC tem governador ausente chamado de ingrato e fala de Wesley Batista

brasil

O presidente Lula (PT) participou nesta quinta-feira (29) da cerimônia de retomada das operações do Porto de Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina, sem a presença do governador do estado, o bolsonarista Jorginho Mello (PL), e do prefeito do município, Robison Coelho (PL).

O petista adotou tom eleitoral em discurso e criticou Jair Bolsonaro (PL), sem citar o nome do antecessor, afirmando que ele criou um ambiente de ódio quando estava no governo. Mencionou a ausência do chefe do Executivo catarinense, que foi chamado de ingrato pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos).

A cerimônia ainda contou com discurso do empresário Wesley Batista, dono da JBS. A empresa é controladora da JBS Terminais, que opera o porto da cidade via contrato de concessão temporária. O terminal de cargas está sob gestão do governo federal desde janeiro deste ano.

Lula iniciou seu discurso falando que um governo federal nunca investiu tanto em Santa Catarina e, sem citar o nome de Bolsonaro, disse que “o outro” apenas montou “um gabinete do ódio para contar mentira durante quatro anos”.

Em tom de campanha, criticou o governo anterior e fez menção à ausência do governador e do prefeito. “Eu sei que eles estão com raiva e eles nem vieram e não vão vir. Porque a desgraça de quem conta a primeira mentira é que passa o tempo inteiro mentindo”, afirmou.

“Eu quero ver no confronto direto. Se eles têm coragem de dizer o que fizeram nesse país a não ser gargantear, a não ser mostrar a arma, a não ser legalizar o porte de arma, a não ser mostrar metralhadora. Eu prefiro mostrar livro”, concluiu o petista.

As ausências do governador e de Robison Coelho foram lembradas logo no início da cerimônia, no discurso do superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares.

“Vivemos um tempo estranho. De pessoas que trabalham pela união e pessoas que alimentam a divisão. Até hoje não conseguimos nos aproximar de forma adequada da prefeitura. Até hoje não recebemos a visita do Jorginho Mello, que ignora a importância do porto. Parece cada vez mais difícil dialogar. Mas não vamos desistir”, disse ele.

Depois, Silvio Costa Filho subiu o tom: “Se tem um governador que está sendo ingrato com o presidente Lula é deste estado aqui”, disse ele. “Mas a verdade sempre vem. Quanto mais eles torcem contra, mais o presidente trabalha”, continuou Costa Filho.

A ausência de Jorginho no evento desta quinta já era esperada. O governo catarinense disse à reportagem que ele cumpriria uma agenda em São Lourenço do Oeste, município no oeste do estado, a 580 quilômetros de Itajaí.

A má relação entre o presidente e o governador do estado é pública. O bolsonarista frequentemente critica Lula em suas falas, e o petista já reclamou da postura do chefe do Executivo estadual.

Jorginho também não compareceu à primeira visita de Lula a Santa Catarina no atual mandato, em agosto do ano passado. Na ocasião, o mandatário visitou Itajaí e Palhoça para acompanhar o lançamento de um novo navio da Marinha e inaugurar o Contorno Viário da Grande Florianópolis, rodovia paralela à BR-101 no estado.

O porto de Itajaí também foi caso de atrito entre o petista, o governador catarinense e o prefeito itajaiense. Ele era administrado pelo município de mesmo nome, mas a movimentação de contêineres foi praticamente interrompida no final de 2022, dando início a um debate sobre qual modelo de concessão deveria ser adotado.

A discussão se estendeu até final do ano passado, quando o governo Lula optou por assumir a administração do porto. A federalização gerou protestos de Jorginho e de Robison Coelho. A decisão do governo federal chegou a ser barrada pela Justiça, mas autorizada posteriormente.

A gestão petista anunciou nesta quinta investimentos de R$ 844 milhões em modernização e ampliação da capacidade do porto, incluindo a dragagem do canal do rio Itajaí-Açu (R$ 90 milhões).

Wesley Batista fez uma fala breve e afirmou que “mais dois ou três meses e o porto estará operando na sua capacidade máxima”.

Ele e seu irmão, Joesley Batista, voltaram à cena política no terceiro mandato de Lula sete anos após estarem no centro de um escândalo político que quase custou o mandato de Michel Temer (MDB) e de fazerem delação premiada na Operação Lava Jato que atingiu o PT. O dois chegaram a se encontrar com Lula no ano passado no Palácio do Planalto.

Ambos ficaram afastados de 2017 até o começo de 2024 do conselho de administração da JBS, quando renunciaram aos cargos por pressão do mercado em meio a investigações da Lava Jato.

Em 2023, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os efeitos do acordo de leniência que a J&F (holding que administra os negócios da família) havia assinado com o MPF (Ministério Público Federal) em 2017. Ele atendeu a pedido dos Batista, que alegaram coação de procuradores da Lava Jato a representantes da holding.

A ida do petista ao porto acontece em meio à chegada de um navio com 7.000 carros da fabricante chinesa BYD. A operação para retirada dos veículos é considerada complexa e segue até o fim de semana.

Catarina Scortecci Thiago Facchini/Folhapress
Comentários