21 maio 2025
A ViaBahia não deixou apenas um rastro de buracos, desastres, denúncias e mortes nas BRs 324 e 116, que administrou por 16 anos no Estado depois de ganhar uma polêmica concessão cuja modelagem, elaborada no segundo governo Lula, sempre foi alvo de críticas. Além de um rombo no erário de quase R$ 900 milhões, decorrente de uma surpreendente indenização pelo encerramento do contrato com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a despeito do péssimo serviço que sempre prestou aos baianos, a concessionária parece ter legado à Bahia um “encosto” pesado contra a realização de uma nova concessão que garanta segurança aos baianos.
A primeira audiência pública promovida pela ANTT para discutir a substituição da ViaBahia foi realizada sem comunicação suficiente e, portanto, com baixíssima participação da sociedade civil e de representantes populares. A pressa com que o projeto para a nova concessão foi apresentado, bem como a sugestão de novos critérios, como a elevação de 25 anos para 30 anos do prazo de concessão, foram outros elementos que deixaram os poucos participantes do encontro surpresos com a maneira como a Agência tem se comportado em relação à importância de colocar para trás a péssima experiência que os baianos tiveram com a concessionária.
Um dos mais aguerridos críticos do péssimo serviço que a ViaBahia sempre prestou no Estado e, pode-se dizer, um dos responsáveis pela saída da concessionária da operação de duas das mais importantes BRs do país, junto com tantas outras autoridades, além dos milhares de usuários insatisfeitos, o deputado estadual Eduardo Salles (PP) foi dos primeiros a chamar a atenção para a estranhíssima estratégia que a Agência adotou para discutir o processo de substituição da concessão. Um dos poucos presentes à audiência, fez um discurso corajoso em que não apenas criticou o açodamento que tem presidido o comportamento da ANTT como a proposta apresentada.
Lembrou, por exemplo, que o novo modelo amplia de 7 para 14 o número de postos de pedágio, prevê a elevação do valor da tarifa em pelo menos três vezes, estabelece que o prazo para a realização de obras de infraestrutura nas rodovias deixadas em péssimas condições – como é de conhecimento de quem as utiliza – seja de três anos e ainda prevê a saída das rodovias estaduais da nova concessão. Sem contar que estabelece como prazo final para a discussão e apresentação de sugestões ao modelo que a Agência vem apresentando o prazo de 25 de maio, considerado exíguo para uma mudança que vai interferir na vida de milhares de usuários.
São preocupações pertinentes do parlamentar, que, ainda por cima, pertence à base do governo, ou seja, é um político que está não apenas tentando evitar a repetição de erros que resultaram no baixíssima qualidade do serviço da ViaBahia como ainda alertando a administração do Estado para o custo político de uma substituição inadequada que, ainda mais com a proximidade do ano eleitoral, venha a ser colocada na conta dos governos Lula e Jerônimo. Pelo visto, a ênfase com que o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, anunciou, puxando para si, que a concessão seria revista, não tem sido percebida agora, na hora de se efetivar mudança tão importante.
*Artigo do edito Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*