24 maio 2025
O líder conservador Friedrich Merz foi confirmado primeiro-ministro pelo Parlamento da Alemanha nesta terça-feira (6), horas após sofrer uma derrota histórica na primeira tentativa de chancelar a sua vitória nas eleições de fevereiro.
O fracasso anterior à segunda votação é inédito no período pós-guerra do país e um constrangimento para o homem que prometeu reavivar o crescimento econômico em um momento de turbulência global. Na primeira rodada, o Bundestag inesperadamente lhe deu 310 votos, apesar de sua coalizão de governo somar 328 parlamentares.
Em seguida, Merz conseguiu maioria absoluta, com 325 votos de um total de 630 deputados. A primeira votação, porém, expôs a fragilidade do acordo do conservador da aliança CDU/CSU com os sociais-democratas do SPD, partido do ainda primeiro-ministro, Olaf Scholz.
Após o fiasco, políticos passaram horas discutindo o caso. “Sem dúvida, esta é uma situação especial”, admitiu Jens Spahn, líder da CDU no Parlamento. “Toda a Europa, talvez o mundo inteiro esteja acompanhando esta eleição.”
O peso da votação se deve à conjuntura política europeia. Após vencer as eleições legislativas de 23 de fevereiro, Merz, 69, passou a ser visto com esperança em uma Europa desorientada pela política diplomática do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A aliança promete reativar o crescimento da economia alemã, que enfrenta seu terceiro ano de recessão em meio a uma guerra comercial desencadeada por Trump, e aumentar drasticamente os gastos com defesa, em um contexto de desconfiança dos EUA em relação à Otan.
“Toda a Europa olhou para Berlim hoje na esperança de que a Alemanha se reafirmasse como uma âncora de estabilidade e uma potência pró-europeia”, disse Jana Puglierin, chefe do escritório de Berlim do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores. “Essa esperança foi frustrada. Com consequências muito além das nossas fronteiras.”
Após a primeira votação, Merz, visivelmente chocado, levantou-se para conversar com colegas.
Mesmo antes de ser nomeado, o político já enfrenta irritação de uma parte de seu eleitorado conservador, por flexibilizar ainda no Parlamento antigo o freio da dívida, a versão local do texto de gastos. A manobra encerrou décadas de austeridade fiscal, marca de Angela Merkel, sua nêmesis entre os democratas-cristãos. A Alemanha se prepara para gastos sem precedentes no setor de defesa e terá € 500 bilhões em dez anos para recuperar a defasada infraestrutura do país.
O único vencedor do desastre de terça-feira é a extremista AfD (Alternativa para a Alemanha), que ficou em segundo lugar em fevereiro e liderou algumas pesquisas recentes, afirma Manfred Guellner, pesquisador do Instituto Forsa de Pesquisa Social e Análise Estatística. “A confiança nas instituições políticas está ainda mais prejudicada”, diz ele.
Atualizada às 12h.
José Henrique Mariante/Folhapress