Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
A apresentadora e influenciadora digital Virgínia Fonseca prestou depoimento à CPI das Bets, no Senado, nesta terça-feira (13) 13 de maio de 2025 | 17:00

Virgínia Fonseca nega em CPI que contrato com sites previsse lucro em perda de apostadores

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A apresentadora e influenciadora digital Virgínia Fonseca prestou depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Bets, no Senado, nesta terça-feira (13), negou lucrar com o prejuízo de seus seguidores e deixou a sessão tietada por senadores e assessores.

Virgínia tem mais de 53 milhões de seguidores no Instagram e é uma das principais garotas propagandas de casas de apostas. A influencer foi ao Senado acompanhada do marido, o cantor Zé Felipe, vestida com um moletom com o rosto de uma das filhas.

Mesmo munida de um habeas corpus que a permitia ficar em silêncio sobre perguntas que pudessem incriminá-la, Virgínia respondeu à maioria das dúvidas. Ela foi convocada pela comissão como testemunha.

A empresária negou receber um percentual do lucro da bet a partir da perda de cada apostador influenciado por ela. Virgínia disse ter “apanhado calada” quando surgiu essa informação porque o contrato tinha uma cláusula de confidencialidade.

“Era um valor fixo, se eu dobrasse o lucro [da bet], eu receberia 30% a mais da empresa. Mas isso não chegou a acontecer, então eu não recebi R$ 1 a mais do contrato. E lembrando que esse era um contrato padrão; na época, com todos os meus outros contratos, com outras empresas, era assim. Não eram só bets, todos os outros eram assim”, disse.

A apresentadora disse que o contrato de divulgação com a bet Esportes da Sorte, já encerrado, era de 18 meses. A influencer afirmou ter contrato hoje com outra empresa de apostas online. Virgínia se recusou a informar qual foi o maior valor já recebido por ela com propagandas nesse segmento, mas aceitou compartilhar com a CPI o contrato anterior. O documento foi colocado sob sigilo.

Virgínia disse que se recusa a divulgar bets irregulares e que não está fazendo “nada fora da lei”. A relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), afirmou que ela começou a divulgar as apostas online em dezembro de 2022, quando o tema ainda não havia sido regulamentado.

A empresária argumentou que, apesar da falta de regulamentação na ocasião, as bets já eram legais no país. Ao ouvir da relatora que a população está pedindo socorro, reagiu: “Acho que eles pedem socorro para a senhora, porque a senhora tem o poder de fazer alguma coisa. Eu não tenho o poder de fazer nada”.

Soraya e outros senadores pediram para que Virgínia parasse de fazer publicidade para empresas do gênero. A influencer afirmou que vai pensar a respeito, mas ressaltou que o Congresso tem o poder de proibir a propaganda de bets, se quiser.

“Não vou mentir, eu vou pensar. Mas eu também gostaria que a senhora chamasse aqui todos os times de futebol, todos os eventos patrocinados, todas as emissoras que têm [patrocínio de bet]. Tudo o que está no Brasil hoje; tudo tem bet. O meu trabalho é publicidade”, disse Virgínia.

s bets foram autorizadas por meio de projeto de lei em 2018, no governo Michel Temer (MDB), mas só foram regulamentadas no governo Lula (PT). Em todo o governo Jair Bolsonaro (PL), as empresas funcionaram em uma zona cinzenta da legislação: com sede no exterior, mas com usuários brasileiros e sem pagar impostos no país.

A presença do casal na CPI fez com que funcionários do Senado fizessem fila na porta da comissão. Enquanto Virgínia era questionada, Zé Felipe parou para tirar fotos e gravar vídeos com fãs —em uma das pausas, comia um pacote de bolachas.

Ao final da sessão, Virgínia tirou fotos com assessores e senadores, incluindo Soraya, o presidente do colegiado, Hiran Gonçalves (PP-RR), e a filha dele. Após um pequeno mal-estar, Soraya e Virgínia combinaram de se seguir nas redes.

Virgínia também foi tietada pelo senador Cleitinho (Republicanos-MG) durante o depoimento. Ele criticou a classe política —causando mal-estar com os colegas— e pediu para que a empresária gravasse um vídeo para a esposa dele e disse consumir um produto da marca dela.

“Agora, Virgínia, eu queria falar para você, se tocar seu coração, como um cristão: você não precisa mais disso. Acaba com isso. Não faz mais esse tipo de propaganda, de divulgação não. Divulga seus pré-treinos. Inclusive, eu tomei seu pré-treino hoje. Maravilhoso”, afirmou.

O habeas corpus do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes obrigava Virgínia a comparecer ao depoimento e a responder sobre os demais investigados, mas dizia que ela poderia ficar em silêncio sobre perguntas que pudessem incriminá-la.

Virgínia foi convocada pela comissão na condição de testemunha, mas a defesa dela alegou ao STF que uma convocação (em vez de um convite, em que a pessoa não é obrigada a comparecer) “escancara a sua posição de pessoa investigada”.

A convocação de Virgínia foi feita em novembro do ano passado pela relatora da CPI para “investigar o papel de influenciadores de grande alcance na promoção de jogos de azar e apostas online” e ajudar a esclarecer a necessidade de regulamentação da propaganda.

“A convocação de Virgínia Fonseca, apresentadora, empresária e influenciadora digital, é justificada por sua expressiva popularidade e relevância no mercado digital, onde exerce forte influência sobre milhões de seguidores em diversas plataformas”, disse a senadora.

Thaísa Oliveira/Folhapress
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