27 agosto 2025
O governo brasileiro decidiu refazer a autópsia do corpo de Juliana Marins, 26, turista brasileira que morreu depois de cair em penhasco na trilha do Monte Rinjani, na Indonésia. A AGU (Advocacia-Geral da União) informou nesta segunda-feira (30) que vai cumprir voluntariamente o pedido da família.
“Imagens de drones de turistas sugerem que Juliana tenha resistido ao acidente inicial e esperado dias pelo resgate. A expectativa é de que um novo exame, agora em território nacional, esclareça definitivamente as causas e o momento da morte da jovem brasileira”, diz a AGU em nota.
O órgão afirma ter pedido uma audiência urgente com a DPU (Defensoria Pública da União) e com o estado do Rio de Janeiro para definir a forma mais adequada de atender ao desejo da família. O pedido foi aceito pela Justiça e a previsão é que a audiência seja feita ainda nesta terça-feira (1º), às 15h.
“A decisão de atender com urgência todos os pedidos dos familiares de Juliana partiu de uma determinação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva”, diz a AGU.
O encontro deverá definir os detalhes de como e onde será feito o novo procedimento. Segundo a AGU, a Polícia Federal se ofereceu para colaborar, por exemplo, com o traslado do corpo até o IML (Instituto Médico Legal) que for designado, caso seja essa a medida definida pelas instituições.
A família da jovem já havia manifestado interesse em uma nova autópsia feita no Brasil. A DPU ajuizou, no domingo (29), uma ação cautelar na Justiça Federal com esse objetivo.
Conforme a DPU, a necropsia deve ocorrer em no máximo seis horas após a aterrissagem em território nacional, a fim de garantir a preservação das evidências.
A companhia aérea Emirates havia informado que o corpo seria transportado para Dubai nesta terça e, posteriormente, para o Rio de Janeiro na quarta. No entanto, na noite desta segunda-feira, a empresa anunciou em nota que o corpo chegará nesta terça-feira (1º) a São Paulo. Não foi informado como será feito o traslado do corpo para o Rio de Janeiro. O enterro será em Niterói, onde a jovem morava.
“Com o auxílio do GGIM (Gabinete de Gestão Integrada Municipal) da Prefeitura de Niterói, acionamos a DPU-RJ (Defensoria Pública da União), que imediatamente fez o pedido na Justiça Federal solicitando uma nova autópsia no caso da minha irmã, Juliana Marins. Acreditamos no Judiciário Federal brasileiro e esperamos uma decisão positiva nas próximas horas”, afirmou Mariana Marins, irmã da brasileira, no perfil do Instagram criado para divulgar informações sobre o caso.
Relatos da imprensa internacional apontam que Juliana teria sobrevivido por até quatro dias após o acidente, aguardando socorro. Em entrevista na sexta-feira (27), um médico legista que atuou no caso afirmou que a jovem sofreu um trauma contundente, com lesões internas e hemorragia. A morte teria ocorrido cerca de 20 minutos após um dos impactos, possivelmente causados por quedas sucessivas na região íngreme da trilha. De acordo com a perícia, ela faleceu na terça-feira (24) ou na quarta-feira (25).
Essa versão, no entanto, foi contraposta pelo pai de Juliana, Manoel Marins, ao Fantástico, da TV Globo: “Na segunda de manhã [23], eles mandaram um outro drone, um drone comum, que foi o drone que achou a Juliana. Ela já estava morta na segunda de manhã”, afirmou, culpando o guia e a administração do parque pela morte da filha.
“Os culpados no meu entendimento são o guia, que deixou Juliana sozinha, para fumar, e a empresa que vende os passeios, esses passeios são vendidos em banquinhas como trilhas fáceis de fazer. Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil [a Basarnas]”, destacou.
“Juliana falou para o guia ‘estou cansada’. O guia falou ‘senta aqui, fica sentada’. E o guia nos disse que ele se afastou por cinco a dez minutos de onde Juliana estava, para fumar. Depois desses cinco a dez minutos de caminhada e dessa meia hora fumando, ele voltou. Quando voltou não encontrou a Juliana. Isso foi por volta de 4h. Quando ele avistou Juliana já eram 6h08”, contou.
A DPU também encaminhou ofício à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro nesta segunda solicitando a abertura de inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte.
O caso, embora ocorrido fora do território nacional, pode ser investigado e eventualmente julgado pela Justiça Federal brasileira, conforme o artigo 7º do Código Penal. A norma prevê a chamada jurisdição extraterritorial condicionada, aplicável a crimes praticados no exterior contra brasileiros, desde que algumas exigências sejam atendidas, como a presença do suspeito no Brasil, a tipificação do crime também no país de origem e a inexistência de julgamento anterior pelo mesmo fato.
Enquanto isso, na Indonésia, a polícia da ilha de Lombok, onde fica o vulcão, anunciou nesta segunda-feira que já ouviu testemunhas e inspecionou o local onde Juliana caiu para tentar identificar se houve qualquer tipo de irregularidade na morte dela.
Nesta segunda foram ouvidas quatro testemunhas: um organizador de trekking, um guia local, um carregador de Bayan, Lombok do Norte, e um policial florestal de Ampenan, Mataram, que era responsável pela segurança e proteção na área do Parque Nacional do Monte Rinjani.
Ana Pompeu/Francisco Lima Neto/Fábio Pescarini/Folhapress