19 junho 2025
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) classificam a condução dos depoimentos dos réus da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) como um “castelo de areia” e um “teatro” forçado, mostra monitoramento da Palver em mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram.
Os militantes também acusaram o ministro da Corte Alexandre de Moraes de conduzir o julgamento com parcialidade. E que o depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid foi feito sob coação.
“Em Cuba, pode ser que se encontre um julgamento abominável desse jeito. Em qualquer outro país democrático você jamais encontraria uma vergonha dessa acontecendo no Judiciário”, afirma um dos vídeos que circularam nos grupos.
“O Estado brasileiro virou piada de stand up”, diz outro militante em uma gravação.
As mensagens exaltaram a pergunta do ministro do STF Luiz Fux sobre se Bolsonaro assinou alguma minuta de golpe, respondida negativamente por Cid.
“Sabemos, Fux, que você também está de saco cheio disso”, comenta um usuário.
Foram 815 mensagens distintas, entre textos, imagens e vídeos, encaminhadas a diferentes grupos entre a meia-noite de domingo (8) e as 16h de terça (10).
O pico foi durante o depoimento do ex-ajudante de ordens na segunda (9), às 16h, com 532 menções por 100 mil mensagens. Nesse momento, a soma dos termos “julgamento”, “interrogatório”, “tentativa de golpe” e “STF” se equiparava às menções das palavras “Lula” e “Bolsonaro”, sozinhas, nos grupos.
Cid confirmou o envolvimento do ex-presidente na edição de minutas golpistas e na pressão sobre comandantes militares.
As mensagens alegaram que o delator foi pressionado a incriminar Bolsonaro sob “ameaça à sua família” e descreveram suas declarações como repletas de incertezas.
O ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem afirmou que documentos encontrados em seu computador com ataques às urnas eletrônicas eram anotações privadas e nunca foram enviadas a nenhuma pessoa.
O ex-comandante da Marinha Almir Garnier confirmou reunião com Bolsonaro, mas negou tropas à disposição do golpe. Ambos os depoimentos foram promovidos como evidências que “desmascaram” as acusações “frágeis” aos réus.
Os conteúdos podem ter alcançado até 162 mil usuários.
As mensagens classificaram o julgamento como perseguição política e pediram aprovação do projeto que concede anistia aos presos dos ataques golpistas do 8 de Janeiro, o que poderia beneficiar o ex-presidente.
Laura Intrieri/Folhapress