Foto: Ton Molina/STF/Arquivo
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) 26 de junho de 2025 | 18:50

Cid diz que advogados ligados a Bolsonaro tentaram convencer familiares a trocar sua defesa

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O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal que advogados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentaram convencer seus familiares a trocar a defesa do militar durante a investigação sobre a trama golpista de 2022.

Segundo o militar, a ofensiva teria sido realizada pelos advogados Fabio Wajngarten, Paulo Cunha Bueno e Luiz Eduardo Kuntz a partir de agosto de 2023.

“Em uma das ligações com a esposa do declarante, Fabio Wajngarten tentou convencê-la a trocar os advogados que defendiam o declarante; que Fabio Wajngarten realizou várias ligações para a esposa do declarante”, diz o termo de depoimento de Cid.

As datas das conversas dos advogados com familiares de Cid coincidem com o momento em que o tenente-coronel fechou o acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal. O termo de colaboração foi assinado em 28 de agosto de 2023 —dia também do primeiro depoimento de Mauro Cid aos investigadores.

Em seu depoimento à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que não era próximo de Luiz Eduardo Kuntz —advogado do réu Marcelo Câmara. Cid afirmou que eles se conheceram no primeiro semestre de 2023.

Mauro Cid disse aos investigadores que, após sua prisão em maio de 2023, Kuntz e Wajngarten começaram a fazer constantes tentativas de contato com sua esposa Gabriela Ribeiro Cid e com uma de suas filhas menores de idade.

“Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz e Fabio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram, de agosto de 2023 até o primeiro de 2024”, diz trecho do termo de depoimento.

Segundo o militar, ele só percebeu que os dois advogados tentavam se aproximar de sua filha quando analisou o celular dela. “Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz utilizou como artifício para se aproximar de sua filha assuntos relacionados à atividade de hipismo”, pelo fato de ela ser atleta de tal modalidade, afirmou ele.

O mesmo ocorreu com a mãe do militar. O tenente-coronel conta que Kuntz abordou Agnes Cid pelo menos três vezes na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo. Em uma dessas abordagens, o advogado Paulo Cunha Bueno —atual advogado de Bolsonaro— estava presente.

A mãe de Cid diz que, nas conversas, os advogados “se colocaram à disposição para atuar defesa do declarante”.

O militar afirmou à Polícia Federal que viu nas abordagens e no teor das conversas que os advogados Kuntz e Wajngarten tentaram “obter informações do acordo de colaboração firmado pelo declarante, como forma de interferir nas investigações em andamento”.

Com base nas declarações de Cid e dos familiares do militar, a defesa do tenente-coronel pediu à PF que investigue os advogados Luiz Eduardo Kuntz e Fabio Wanjgarten sobre possível tentativa de obstrução de investigação.

Apesar dos relatos sobre Paulo Bueno, a defesa de Cid não incluiu o advogado de Bolsonaro na investigação.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou na quinta-feira (25) que os três advogados sejam ouvidos pela Polícia Federal sobre as suspeitas levantadas por Mauro Cid.

Kuntz afirmou à reportagem que “dada a indevida interpretação da minha atividade profissional, irei me manifestar nos autos, inclusive para preservar a menor”. “Destaco, apenas, que tais documentos são muito importantes para reforçar que a prisão do meu cliente (Cel Marcelo Câmara) é desnecessária e, consequentemente, ilegal”, disse.

Wajngarten escreveu no X (ex-Twitter) que recebeu com tranquilidade a notícia de que terá de prestar depoimento à Polícia Federal. “A criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração”, completou.

Procurado, Paulo Bueno não se manifestou.

No depoimento à PF, o tenente-coronel voltou a negar que tenha utilizado uma conta no Instagram para conversar com o advogado Kuntz sobre sua delação premiada.

O diálogo supostamente trocado pelos dois foi apresentado por Kuntz ao STF na última semana. O advogado mostrou uma foto de Cid, gravações de voz e mensagens de texto trocadas entre os perfis do Instagram.

Documentos enviados pela Meta mostram que o perfil suspeito, @gabrielar702, está vinculado ao email de Mauro Cid no Gmail.

O militar disse à PF que suspeita que as trocas de mensagens tenham sido forjadas.

“Indagado sobre como o advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz teria obtido áudios e foto do declarante, respondeu que acredita que alguém teria gravado o declarante, sem sua ciência e autorização, e repassado os áudios para o advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz”, disse Cid, segundo o termo de depoimento.

“Que um dos áudios divulgados pela revista Veja, ouvido pela declarante, está editado e recortado; que em relação a foto, acredita que tenha sido algum arquivo vazado e que foi usado para compor a imagem apresentada pelo advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz”, completou.

A suspeita da defesa de Cid é de que alguém que o visitou tenha gravado a conversa na sala da casa do militar. A expectativa é que a Polícia Federal consiga responder às suspeitas antes do julgamento dos réus da trama golpista.

Cézar Feitoza/Folhapress
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