4 julho 2025
Dirigentes do PSDB pretendem fazer um encontro com o ex-ministro Ciro Gomes na próxima semana para discutir uma eventual filiação dele à sigla. A cúpula da legenda também quer aparar arestas com o ex-governador do Ceará após ele ter feito várias críticas ao partido nos últimos anos.
Ciro é filiado ao PDT, mas a migração do partido para a base aliada do governador Elmano de Freitas (PT) abriu caminho para uma saída dele da sigla.
No PSDB, o responsável pela interlocução com Ciro é o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem boa relação com o ex-ministro e já foi aliado dele no estado.
Em 2018, quando disputou a Presidência da República pela terceira vez, Ciro ironizou uma carta escrita por FHC pedindo a união das candidaturas de centro em meio à polarização que se desenhava entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, que seguiram para o segundo turno das eleições naquele ano.
“É muito mais fácil um boi voar de costas. O FHC não percebe que ele já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, é que troque aquele pijama de bolinhas que está meio estranho por um pijama de estrelinhas. Porque, na verdade, ele está preparando o voto no Fernando Haddad, porque ele não tem respeito a nada e a ninguém, a não ser ao seu próprio ego”, disse Ciro em um ato de campanha.
Ao Painel, da Folha, Perillo minimizou as declarações: “Tenho certeza de que Ciro reconhece as virtudes do presidente Fernando Henrique Cardoso”.
Em entrevista ao SBT em dezembro de 2015, Ciro classificou Aécio Neves, atualmente deputado federal e um dos principais líderes do PSDB, como “uma decepção para um velho amigo de 35 anos”. Segundo fontes, mesmo assim, o político mineiro não teria apresentado ressalvas à filiação de Ciro.
Ciro pode integrar uma coalizão de oposição ao PT no Ceará no próximo ano. Ele foi aliado do partido no estado por 16 anos, mas a aliança implodiu em 2022, quando o atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), lançou candidato próprio petista nas eleições para o governo do Ceará.
Na ocasião, Ciro apoiou o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, que era do PDT e agora está filiado ao União Brasil. A candidatura acabou derrotada pelo PT no primeiro turno.
Em maio, Ciro fez um apelo pela união das oposições no Ceará e sinalizou apoio à candidatura ao Senado do deputado estadual bolsonarista Alcides Fernandes (PL). Ele é pai do deputado federal André Fernandes (PL), derrotado em 2024 no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza. “Espero votar em você para senador”, afirmou Ciro a Alcides.
Caso Ciro seja candidato ao Governo do Ceará, há possibilidade de aliança com o PL e o União Brasil a nível estadual. Dirigentes do PSDB já enviaram recado a Ciro de que não teriam ressalva para qualquer aliança no estado, apesar de o partido tucano possivelmente optar por um palanque diferente do PL a nível nacional em 2026.
Apesar do desejo tucano, Ciro indicou a aliados locais que pretende apoiar Roberto Cláudio para o governo estadual. O ex-prefeito ingressou no União Brasil com apoio do ex-deputado Capitão Wagner, derrotado na disputa pelo Executivo cearense em 2022 e para a prefeitura de Fortaleza três vezes seguidas.
Wagner é cotado para disputar o Senado em 2026 junto com Alcides Fernandes, pai de André Fernandes. Restaria, nesse cenário, a definição do cabeça de chapa, que poderia ser Ciro ou Roberto Cláudio.
Pelo lado governista, Elmano de Freitas deve ser candidato à reeleição. A disputa está pelas duas vagas ao Senado. Os deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT) e Júnior Mano (PSB) são pré-candidatos a senador, assim como o empresário Chiquinho Feitosa (Republicanos), que foi suplente de Tasso Jereissati.
O senador Cid Gomes (PSB) tende a abdicar da reeleição e apoiar Júnior Mano, que foi expulso do PL em 2024 após participar da campanha do prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).
Cid, inclusive, está rompido politicamente com o irmão Ciro. Em entrevista a uma rádio de Sobral (CE) em maio, o senador disse que, se o irmão for candidato em 2026, ficará “numa situação absolutamente constrangedora”.
Antes disso, Ciro afirmou não ter problemas no campo pessoal com o irmão, mas o chamou de cúmplice do governo petista: “Deus tirou das minhas costas a dor lancinante de uma facada nas minhas costas. Entretanto, eu vejo o senador Cid como conivente e cúmplice dessa tragédia que está acontecendo no estado.”
Em caso de filiação, Ciro retornaria ao PSDB após quase 30 anos. Ele foi filiado ao partido entre 1990 e 1997. No período, foi governador do Ceará e ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco.
O histórico partidário do ex-ministro inclui também passagens por PSD, PMDB, PPS, PSB, Pros e PDT. Em várias ocasiões, Ciro definiu sua trajetória partidária como “uma tragédia”, em razões das várias mudanças de agremiação.
José Matheus Santos, Folhapress