22 junho 2025
O desembargador Lidivaldo Reaiche Raimundo Britto é o mais novo membro da Academia de Letras Jurídicas da Bahia. O magistrado tomou posse na sexta-feira (6), em uma cerimônia prestigiada por familiares, amigos e muitos profissionais do meio jurídico baiano, entre magistrados e servidores do Judiciário, promotores, procuradores, advogados e defensores.
O novo integrante assume a cadeira 11, antes ocupada pelo desembargador Manuel José Pereira da Silva, idealizador da Academia, em 1983, quando era presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA). Ele faleceu em março de 2024, aos 100 anos.
“Sinto-me lisonjeado de substituir o idealizador desta augusta Academia, o desembargador Manuel Pereira. Ser humano extremamente afável que enfrentou, com nobreza de espírito, o preconceito de uma sociedade racista”, disse o desembargador Lidivaldo, que é negro, assim como o seu antecessor, o primeiro desembargador negro do TJ-BA. A psicóloga Sabine Kateb, filha de Manuel Pereira, esteve presente.
O agora Imortal enalteceu o papel da família e da educação em sua trajetória. “Minha mãe tinha até o quinto ano primário, meu pai estudou até a sétima série, mas eles sempre incentivaram muito para que eu e meus irmãos estudássemos, nos formássemos, e conseguiram formar os quatro filhos. Eu sempre fui muito curioso, gostava de ler, gostava de pesquisar e amava a história. Fico muito feliz porque os livros que escrevi foram escritos com muita dedicação e pesquisa, e esse trabalho de pesquisa foi reconhecido. Sinto-me muito honrado. Espero que contribua para a produção intelectual deste sodalício”, afirmou.
O desembargador é autor dos livros “Julgamentos e Fatos Históricos do Tribunal da Relação do Brasil” (2024); “A proteção legal dos terreiros de candomblé: da repressão policial ao reconhecimento como patrimônio histórico-cultural” (2016); e “Os primos-crônicas de uma família libanesa na Bahia” (2004).
Constituída por 40 juristas, a Academia de Letras Jurídicas da Bahia é uma associação civil de utilidade pública que se dedica à difusão da cultura jurídica, por meio da realização de eventos e da publicação de obras. Por ela já passaram expoentes da sociedade baiana, como Orlando Gomes, Manoel Ribeiro, Gerson Pereira dos Santos, José Joaquim Calmon de Passos e muitos outros. Seus membros são vitalícios.
A cerimônia de posse foi conduzida pelo presidente da Academia, Ricardo Maurício Freire Soares, e abrilhantada pelo discurso de saudação feito por outro confrade, o professor e advogado César de Faria Júnior.
“Não há dúvida de que o ingresso de Lidivaldo Britto em muito enriquecerá a nossa Academia de Letras Jurídicas. No seu sincretismo cultural e religioso, podemos dizer, sem exagerar, que a Bahia de Mãe Menininha do Gantois, de Mãe Stella de Oxóssi, ingressa também na Bahia de Ruy Barbosa, fervoroso defensor da liberdade, e de Castro Alves, poeta dos escravos. Todavia, independente de crenças ou religiões, somente existe aquilo que lembramos, como sabiamente nos adverte Norberto Bobbio em O Tempo da Memória. E há em Lidivaldo, naturalmente, uma vocação para historiador, o que muito se adequa a uma Academia de Letras, na medida em que ela tem como função primordial preservar a memória jurídica da Bahia, dando um sentido de continuidade”, declamou César de Faria Júnior.