Foto: Divulgação/Arquivo
Júlio Pinheiro 30 de junho de 2025 | 09:58

Entrevista – Júlio Pinheiro: “O governo Jerônimo se põe de pé pelas próprias pernas, mas na eleição a dobradinha com Lula potencializa”

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Após uma breve passagem de 69 dias pela Secretaria de Relações Institucionais da Bahia, o ex-prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro (PT), chega à Secretaria Especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal com uma missão muito clara: aproximar Brasília das prefeituras Brasil afora numa articulação para garantir que as políticas desenvolvidas pelo governo Lula, como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os de transferência de renda, possam chegar na ponta, nos municípios.

Para ele, o convite teve peso de convocação, ainda mais por ter tido a bênção do governador Jerônimo Rodrigues, do senador Jaques Wagner e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, com quem vai passar a dividir o mesmo andar do Palácio do Planalto.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Júlio Pinheiro conta detalhes que antecederam sua nomeação e os principais desafios que o esperam na capital federal. Sua estadia na SRI, todavia, não deverá ser muito longa, já que ele mantém os planos de ser candidato a deputado estadual – o que o obriga deixar a função seis meses antes das eleições de outubro. “Eu combinei com a ministra que já estava construindo uma pré-candidatura para deputado estadual, e ela disse que não há problema nenhum”.

Ele ainda analisa o cenário nacional e diz que o governo Jerônimo se põe de pé pelas próprias, mas que a dobradinha com Lula potencializa a reeleição do governador.

Leia a entrevista completa:

Como tem sido essa transição de trocar a Serin da Bahia pela SRI de Brasília?

O convite surgiu depois que eu já estava na assessoria da Secretaria de Relações Institucionais e na verdade é uma convocação. A gente não tem como recusar o convite do presidente Lula para uma função tão importante como essa, que é a função de cuidar da articulação entre a União e os demais entes federativos, estados e municípios, que é tão importante para que a gente possa fazer chegar as políticas públicas, os programas do governo, o PAC, todas essas ações para os municípios, que é quem de fato executa todas essas políticas públicas do governo. Eu estava com o secretário Adolpho, mas é um convite que não poderia ser recusado por conta do tamanho da importância, do desafio que é e de ser um convite da Presidência da República, do presidente Lula e da ministra Gleisi.

De onde partiu o convite para a SRI? Veio da própria ministra? O governador participou da recomendação do seu nome?

Veja, naturalmente, um convite como esse, que partiu da ministra Gleisi Hoffmann, não acontece sem que essas lideranças políticas sejam consultadas, nós temos três grandes líderes na Bahia, que é o governador Jerônimo, o senador Jaques Wagner e o ministro Rui Costa. E tanto a ministra deve ter os escutado como eu fiz questão de depois do convite da ministra conversar com os três para fazer esse alinhamento com essas três grandes lideranças do partido. Os três acham que é uma missão muito importante que ajuda o governo federal e que também possibilita à Bahia mais espaço no governo federal. Então, sem dúvida alguma é uma decisão que foi tomada em conjunto com essas três lideranças.

“Eu combinei com a ministra, deixei claro a ela que eu já estava construindo uma pré-candidatura para deputado estadual, e ela disse que não há problema nenhum”

Com essa ida para Brasília, está mantida sua sua pré-candidatura a deputado estadual?

Está sim, com certeza. Eu combinei com a ministra, deixei claro a ela que eu já estava construindo uma pré-candidatura para deputado estadual, e ela disse que não há problema nenhum. É lógico que há o prazo de desincompatibilização no ano que vem, mas que até lá nós faríamos o trabalho e por ela não haveria nenhum tipo de problema, nenhum óbice quanto a minha candidatura em 2026.

Sua posse estava agendada para segunda, dia 30…

A data nós estamos combinando ainda, não está definida porque, como tem uma previsão de agenda do presidente Lula na Bahia, então pode ser que isso seja postergado para a semana seguinte.

Depois do anúncio da sua ida para Brasília, como foi o primeiro contato com o ministro Rui Costa? Afinal de contas, agora vocês serão agora colegas de trabalho.

Eu fiz questão de, assim que o convite foi feito, eu fiz questão, como eu disse, conversei com o senador Wagner, conversei com Jerônimo e também fiz questão de conversar com o ex-governador e ministro Rui Costa por conta, não só da posição que ele ocupa hoje, que é o coordenador do governo Lula, é o chefe da Casa Civil e pela proximidade que nós vamos ter, vou trabalhar no mesmo andar no Palácio do Planalto, tem muita similaridade na função nessa relação, por exemplo, do acompanhamento e monitoramento do PAC, mas também pelo respeito que tenho a ele, o tanto que fomos parceiros quando eu fui prefeito e ele sendo governador. Então não tenho dúvida que ele ficou também muito feliz e nós vamos trabalhar muito juntos pelo Brasil e pela Bahia.

“A ministra Gleisi define que a prioridade total agora é justamente a gente construir uma relação ainda mais próxima das prefeituras, apoiando as prefeituras para que a gente possa executar mais ações, principalmente como a do PAC”

Qual é a tarefa que de antemão o senhor já recebeu no que diz respeito à relação com as prefeituras. A gente viu no início do governo uma certa inquietude dos prefeitos com a liberação de recursos do FPM, mas ao que parece o governo contornou isso. Qual é o desafio que está posto agora na relação com os prefeitos nessa reta final do governo Lula.

Veja, a Secretaria tem missão de fazer com que o pacto federativo seja efetivo, ou seja, nesse pacto cada um dos entes federados tem uma tarefa, tem obrigações e com isso também, naturalmente, responsabilidades, e a União por ser o ente que dá diretriz da política pública nacional, dos sistemas nacionais, ela tem um papel muito importante nesse compartilhamento de obrigações que são comuns aos três entes federativos. Se você pegar, por exemplo, o SUS ou o SUAS, que é o Sistema da Assistência Social, eles são geridos de forma tripartite. Existem esses programas que o governo federal elabora, implementa, mas que são executados na ponta pelos municípios, então a nossa tarefa é que essa relação seja a mais fluida possível. A ministra Gleisi define que a prioridade total agora é justamente a gente construir uma relação ainda mais próxima das prefeituras, apoiando as prefeituras para que a gente possa executar mais ações, principalmente como a do PAC, por exemplo, que é tocado pela Casa Civil, mas que nós pela relação institucional temos também o papel de acompanhar, fazer com que a execução dos programas como os de transferência de renda, como os programas sociais possam também os municípios aproveitar ao máximo a possibilidade de cadastramento, de transferência de renda, de recurso, e portanto a gente consiga dar efetividade àquelas políticas que são pensadas, planejadas no âmbito federal. Essa é a prioridade. E apoiar os municípios com informações, com orientação das mais diversas demandas que o município tem. Além também de acompanhar a pauta municipalista, porque além das demandas individuais de cada município, nós temos pautas que são comuns e que são articuladas pelas entidades municipalistas, no caso da Bahia, por exemplo, pela UPB ou em âmbito nacional pela Frente Nacional dos Prefeitos. Então tudo isso é tarefa desta secretaria. A prioridade nossa é justamente tornar essa relação mais fluida, mais transparente e eficiente possível para que a gente possa garantir que os recursos que são destinados pelo governo federal possam chegar na ponta e cumprir a função que é transformar a realidade, mudar a vida das pessoas, melhorar os indicadores, e nós estamos imbuídos nesse compromisso.

“Essa pauta [PEC 66] não é do Executivo, é uma pauta do Congresso por se tratar de uma emenda à Constituição, mas o presidente Lula já sinalizou positivamente que apoia para que os municípios possam renegociar a dívida”

Nesse radar também está a PEC 66?

Sim, também. A PEC 66 é uma prioridade do movimento municipalista e vai possibilitar, com a renegociação da dívida da Previdência, fazer com que os municípios tenham mais fôlego para ter capacidade de investimento. O governo federal já sinalizou o apoio a essa pauta, essa pauta não é do Executivo, é uma pauta do Congresso por se tratar de uma emenda à Constituição, mas o presidente Lula já sinalizou positivamente, assim como o governo, que apoia a pauta para que os municípios possam renegociar a dívida e, portanto, ter a condição de prestar os serviços e fazer os investimentos com recursos próprios.

“Isso [a reprovação] é retrato de um momento, eu entendo que isso não é o sentimento consolidado do governo Lula, até porque é um governo de muita realização”

A gente tem visto as pesquisas repetidamente mostrarem índices elevados de reprovação do presidente Lula, inclusive aqui na Bahia. A que o senhor atribui isso?

Veja, todo mundo que é gestor público, que tem mandato, principalmente no Executivo, acompanha a gestão pública através de pesquisa e sabe que é comum, é natural essas oscilações. Isso é retrato de um momento, eu entendo que isso não é o sentimento consolidado do governo Lula, até porque é um governo de muita realização com, por exemplo, o novo PAC, são mais de vinte mil obras que estão sendo distribuídas aí pra todos os municípios do Brasil, economia crescendo acima de 3% nos dois primeiros anos do governo Lula, coisa que não aconteceu há muito tempo, alta taxa de geração de emprego, nós estamos aí com 6,6%, menos da metade do que o que chegou a taxa de desemprego no governo Bolsonaro. Então tem muita realização do governo, melhor distribuição de renda, aumento real do salário mínimo, temos a situação também das transferências de renda que aumentaram, novos programas como o Pé de Meia. Ou seja, tem muita coisa acontecendo no país, o presidente Lula tem acertado muito, inclusive tendo voltado a sua política fiscal para desonerar as pessoas que mais precisam, que ganham menos, os salários menores. Por exemplo, agora com proposta para isenção de renda para quem ganha até cinco mil reais, que é um sonho antigo da esquerda e dos movimentos trabalhistas. Ou seja, tem uma série de ganhos e eu não tenho dúvida que isso vai chegar cada vez mais forte na população, os resultados estão aparecendo e isso vai gerar um sentimento da necessidade, não apenas da vontade do presidente Lula, mas da necessidade do povo brasileiro de que Lula continue governando o país por mais quatro anos, porque é quem tem condições de conduzir o nosso país ao desenvolvimento como demonstrou. Tirou o Brasil de uma situação muito crítica de fome, voltou a colocar o país entre as maiores economias do mundo, crescendo a taxas mais altas do que vinha crescendo, então não tenho dúvida que isso vai chegar na população e que o povo vai entender a necessidade de reeleger Lula.

De alguma forma essa fotografia de momento causa uma certa apreensão em alguns governistas sobre o temor de haver reflexos aqui na Bahia a ponto de comprometer a reeleição do governador Jerônimo. Como enxerga isso?

Eu acho que não, o governador Jerônimo tem trabalhado muito e tem feito muitas entregas, escolas, unidades de saúde, novos hospitais. A população está vendo e está reconhecendo o trabalho de Jerônimo, então não tenho também nenhuma dúvida quanto a sua reeleição pelos próprios méritos, pelo trabalho que ele vem desenvolvendo, pela relação que tem construído não só com as lideranças políticas, mas com a base, com todos os cidadãos baianos que têm tido a oportunidade de chegar próximo do governador, de abraçar o governador. Jerônimo tem um perfil muito popular e isso tem feito com que ele esteja próximo do povo e com isso sentindo as demandas reais e fazendo as entregas que a população precisa. Então acho que é um governo que se põe de pé pelas próprias pernas, mas sem dúvida alguma essa parceria com o governo Lula não só através daquilo que o governo federal consegue entregar na Bahia, mas também por conta de que na eleição essa essa dobradinha potencializa o governador Jerônimo, assim também como as entregas do governo da Bahia vão ajudar a potencializar o presidente Lula, sendo a Bahia mais uma vez decisiva na eleição.

E sobre a eleição para a presidência do PT da Bahia? Há muitas críticas à atual direção do partido e à escolha de Tássio Brito pelo senador Jaques Wagner, inclusive vindas do ex-presidente Jonas Paulo, que colocou o nome na disputa.

Tássio é um nome que vai ao encontro daquilo que o PT da Bahia tem promovido, que é a renovação política. Eu costumo dizer que a o oxigênio da política é a renovação e Tássio está dentro desse grupo de novas figuras, de novas lideranças do PT na Bahia, como por exemplo o próprio atual presidente Éden Valadares, Adolpho Loyola, secretário Relações Institucionais, Lucas [Reis], que é chefe de gabinete do senador Jaques Wagner. Ou seja, tem um conjunto de figuras da nossa geração que estão assumindo postos importantes e eu acho que é mais do que natural que isso aconteça. Tássio está preparado para isso, acho que ele deve ganhar a eleição para presidente do PT. Ter a indicação do senador Jaques Wagner eu acho que é um orgulho para qualquer nova liderança, como é o meu caso, como é o caso de todos esses que eu citei, e eu não tenho dúvida que, assim como aconteceu com o governador Rui Costa, com o governador Jerônimo, nós estamos dentro desse processo de renovação, que é importantíssimo para o Partido dos Trabalhadores. As disputas, as divergências são naturais, até porque o PT é o único partido que abre a escolha dos seus dirigentes a toda militância. Então o debate político acontece para que as pessoas possam escolher melhor, com mais clareza, com mais informação. Eu tenho certeza que Tássio está preparado, torço para que ele se eleja, para que a gente possa continuar a renovação e oxigenar cada vez mais o partido, que é tão importante para a Bahia e para o Brasil.

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