Foto: Elza Fiúza/Arquivo/Agência Brasil
Mulheres recebem o dobro de ofensas pessoais que homens na política, diz estudo 30 de junho de 2025 | 08:51

Mulheres recebem o dobro de ofensas pessoais que homens na política, diz estudo

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Mulheres que atuam na política recebem duas vezes mais ataques pessoais e misóginos do que os homens, que são mais criticados por seu desempenho profissional.

A conclusão é de um estudo que analisou mais de 400 mil mensagens de grupos públicos de WhatsApp.

A pesquisa foi conduzida pelas economistas Fernanda Peron e Paula Carvalho Pereda, do Departamento de Economia da USP (Universidade de São Paulo), em parceria com a Palver — empresa especializada em monitoramento e análise de redes.

A cada 100 mensagens direcionadas a mulheres, 12 contêm ofensas de cunho pessoal e estereótipos de gênero, com termos como “feia”, “gorda” e “puta”. Entre os homens, a proporção é de 6 mensagens a cada 100.

“Os estereótipos sobre mulheres na política ainda são muito fortes e geralmente vêm na forma de dizer que elas não são aptas para ocupar esses espaços políticos. Dizem que elas são muito emocionadas, que têm que cuidar da família, ou tentam descredibilizá-las por características físicas ou da vida sexual”, afirma Fernanda.

Segundo o estudo, nas críticas direcionadas ao gênero masculino é mais comum encontrar palavras que atacam suas competências profissionais ou intelectuais, como “incompetente” e “burro”.

A economista explica que os números podem ser ainda maiores na vida real. “É perceptível que, na internet, as pessoas podem recorrer a uma espécie de autocensura. Por exemplo, quando estão falando no Twitter ou no WhatsApp, podem ser menos misóginas do que quando estão sentadas numa mesa de bar.”

As mensagens analisadas foram extraídas de grupos públicos da plataforma entre agosto de 2022 e abril de 2024. O trabalho também identificou que robôs —os chamados bots— têm um papel central na amplificação de discursos misóginos e agressivos.

Segundo as autoras, esse efeito se torna ainda mais evidente durante os períodos eleitorais, quando o volume de ataques cresce e a vigilância sobre figuras públicas aumenta.

Embora as mulheres representem 24% dos políticos analisados na amostra, elas são alvo de 18% das mensagens, o que, segundo a pesquisa, reflete tanto uma sub-representação feminina nos espaços de poder quanto uma menor visibilidade pública.

O estudo também considera outros marcadores sociais, como raça e ideologia, na análise do discurso online. A pesquisa mostra, por exemplo, que mulheres negras estão ainda mais expostas a esse tipo de narrativa.

Mônica Bergamo/Folhapress
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