23 junho 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu nesta segunda-feira (9) que apoiaria a prisão do governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, após protestos contra as políticas migratórias da Casa Branca tomarem o estado.
No sábado (7), o responsável pela fronteira do governo, Tom Homan, ameaçou prender qualquer pessoa que obstruísse os esforços de aplicação da lei de migração no estado, incluindo Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass.
Questionado sobre o assunto nesta segunda, Trump disse que apoiaria a medida. “Eu faria isso se fosse o Tom. Acho ótimo. Gavin gosta de publicidade, mas acho que seria uma ótima coisa”, disse o republicano a jornalistas ao retornar à Casa Branca.
O presidente também culpou “agitadores profissionais” pelos protestos. “As pessoas que causam os problemas são agitadores profissionais e insurgentes. São pessoas más”, declarou a jornalistas na Casa Branca.
No domingo (8), um dia após a ameaça de prisão, Newsom desafiou Homan durante uma entrevista à NBC News. “Ele é um cara durão. Por que não faz isso? Ele sabe onde me encontrar”, disse o democrata, visto como um potencial candidato à Presidência em 2028. “Esse tipo de conversa fiada é exaustivo. Então, Tom, me prenda. Vamos lá.”
Nesta segunda, o governador afirmou que nunca esperaria ver um presidente pedindo a prisão de um governador em exercício nos EUA. “Não me importa se você é democrata ou republicano, esta é uma linha que não podemos cruzar como nação —este é um passo inequívoco em direção ao autoritarismo”, disse Newsom na rede social X.
A tensão deve crescer nos próximos dias. Também nesta segunda, a Califórnia afirmou que está processando o governo Trump pelo envio de tropas da Guarda Nacional para Los Angeles durante os protestos, disse o procurador-geral do estado, Rob Bonta.
“[Trump] atiçou e agiu ilegalmente para federalizar a Guarda Nacional”, afirmou Newsom no X. “Estamos processando-o”.
No domingo, Trump ordenou o envio de 2.000 agentes para a cidade —uma força militar de reserva usada em situações como desastres naturais, mas raramente em distúrbios civis. Nesta segunda, ele voltou a pedir reforço em sua rede social, a Truth Social. “Parece que as coisas realmente estão ruins em L.A. Enviem as tropas!”, escreveu o presidente. “Prendam as pessoas encapuzadas, agora.”
Os protestos eclodiram na sexta (6), quando agentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega, na sigla em inglês) realizaram operações em vários locais da cidade como parte dos esforços do governo para prender migrantes —Trump quer bater a meta de prender pelo menos 3.000 migrantes por dia após prometer a maior operação de deportação da história durante a sua campanha.
As manifestações continuaram durante o fim de semana, resultando em uma grande resposta policial.
Os três dias de protestos fizeram a ONU pedir, nesta segunda, uma desescalada na situação. “Não queremos ver uma maior militarização da situação e apelamos a todas as partes, nos níveis local, estadual e federal, para que trabalhem nesse sentido”, disse Farhan Haq, porta-voz-adjunto do secretário-geral das Nações Unidas.
A polícia de Los Angeles ordenou no domingo a proibição de reuniões no centro da cidade. Uma área do distrito comercial, conhecida como Civic Center, também foi declarada zona de não reunião. Em imagens aéreas divulgadas pela televisão, era possível ver diversos veículos policiais patrulhando ruas desertas do centro e forças de segurança posicionadas nos cruzamentos.
Segundo a polícia de Los Angeles, 56 pessoas foram detidas em dois dias, e três agentes ficaram levemente feridos. Os protestos se espalharam por outras cidades —nesta segunda, a polícia de San Francisco, também na Califórnia, anunciou que 60 pessoas foram presas no domingo durante manifestações.
A Casa Branca argumentou que os protestos eram mais um motivo para os republicanos no Congresso votarem a favor de um projeto de lei para aumentar a segurança nas fronteiras e os gastos militares. Se aprovado, o texto também reduziria impostos, cortaria benefícios do Medicaid e eliminaria iniciativas de energia verde.
“Precisamos que o grande e belo projeto de lei seja aprovado o mais rápido possível”, publicou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, no X. A medida enfrenta resistência até mesmo de republicanos no Senado, que rejeitam um projeto que pode aumentar o déficit orçamentário do país.
Folhapress