22 novembro 2024
Os políticos baianos, ou suas principais lideranças, do governo e da oposição, vão passar o primeiro Carnaval de Salvador depois da pandemia pensando na sucessão de 2024, ano em que o prefeito Bruno Reis (União Brasil) vai disputar a reeleição. É tradicionalmente, de fato, depois da festa, que tudo começa em Salvador, na Bahia e no resto do país em todos os campos. Mas o fato de o maior e mais esperado evento popular do planeta de 2023 anteceder o ano eleitoral seguinte não é motivo para que conversas e articulações sejam postergadas. Pelo contrário, muitas vezes o cenário se transforma num palco privilegiado para as tratativas políticas.
O clima festivo também tem poder para dissipar animosidades antigas e mesmo reacender outras, a depender de como os dois principais executivos – da Prefeitura, coordenadora oficial da festa, e do governo – se relacionam, o que, com a entrada em cena do petista Jerônimo Rodrigues, é até agora uma incógnita. Diferentemente do que aconteceu no passado, entretanto, o PT dá mostras, pelo que emerge principalmente nos bastidores de suas principais correntes, que vai tentar tratar a sucessão de 2024 de maneira mais engenhosa, buscando inserir a disputa sobre o controle da capital baiana numa espécie de agenda prioritária que nunca apresentou.
A mudança de perspectiva – ou de interesse – atende ao perfil de sua nova principal liderança no Estado e obedece a uma leitura que nove entre cada 10 petistas fazem hoje: a eleição estadual esteve longe de ser um passeio para o grupo no poder há 16 anos, o tempo de governo tem relação direta com isso e, objetivamente, tentar ampliar os espaços políticos e administrativos do partido-líder do consórcio vitorioso com uma conquista como a da capital baiana pode se transformar, mais do que num sonho antigo, em uma real obrigação estratégica. Afinal, apesar da vitória do PT tanto nacionalmente quanto no Estado mais uma vez, sabe-se nada do futuro.
No momento, pelo menos dois nomes circulam na sigla com desenvoltura e são, ambos, de mulheres. A vereadora licenciada Maria Marighela, que acaba de assumir a Funarte, é uma delas. A outra é a suplente de deputada federal Vilma Reis, cuja surpreendente votação em Salvador com pouquíssimo apoio partidário se constituiu, mais para alguns do que para a maioria, numa surpresa reveladora de sua força e inserção popular, puxadas por uma história particular de luta e superação digna de nota. Não é à toa que, aqui e ali, surgiram protestos no âmbito petista contra o pouco interesse do governo em ajudá-la a assumir o mandato parlamentar.
Mas Vilma está acostumada a lutar sozinha. A ponto de ter conseguido chegar aonde chegou nas eleições de 2022 e agora, um ano antes de 2024, despontar como um nome que, a contar do que se ouve entre os principais quadros do partido e de sua militância, não poderá ser desprezado nas discussões que serão travadas a respeito da próxima sucessão municipal. Com medo da concorrência dela para a Câmara, os vereadores da legenda já se posicionam como seus apoiadores. Mas não parte só deles a defesa de seu nome como um sinal de que o grupo liderado pelo PT no Estado terá uma candidata. A propósito, é bom que se ouça Jerônimo sobre isso.
* Artigo publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*