22 novembro 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) moderou seu discurso alvo de críticas sobre a Guerra da Ucrânia e disse, nesta terça-feira (9), que Ucrânia e União Europeia têm suas razões no conflito do Leste Europeu, que já dura mais de um ano.
Lula afirmou ainda que os ucranianos têm de resistir à invasão russa, em declaração que destoa de falas anteriores, em que o presidente causou polêmica ao equiparar as responsabilidades de Moscou e Kiev.
“Penso que cada país tem sua razão. A Ucrânia, efetivamente, não pode aceitar ocupação do seu território, ela tem que resistir. A União Europeia tem sua razão de tomar a decisão que tomou. E o Brasil e outros países têm sua razão para tentar encontrar um meio-termo. Se eu acreditasse que era impossível [a paz], que não vai ter sucesso, não estaria metido nisso até os dentes”, disse o presidente.
A declaração foi feita após reunião com o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, no Palácio do Planalto. À noite, estava previsto um jantar dos dois líderes no Itamaraty.
Rutte tem um posicionamento diferente do de Lula em relação à guerra. Ele disse que o conflito não ameaça apenas os valores de seu país, mas também a segurança, caso a Rússia tenha êxito. “Expliquei [a Lula] que também fornecemos armas para a Ucrânia, porque se não tivéssemos feito isso, Kiev teria caído nas primeiras semanas”, disse o premiê.
Lula, que já vetou o envio de munição a Kiev em nome de um princípio de neutralidade, disse que a “diplomacia” seria sua arma. Rutte também adotou tom moderado e elogiou o esforço do presidente brasileiro na busca pela paz. “Os passos tomados pelo Brasil são muito importantes também para encontrar soluções para a situação”, disse.
Na véspera, Rutte esteve em São Paulo, onde se reuniu com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). À reportagem, disse que as declarações de Lula sobre a Guerra da Ucrânia podem ter gerado controvérsia, mas, no que cabe à Holanda, há outras questões na mesa. “Quando penso no objetivo final dessa relação [entre Brasil e Holanda], ela não é só sobre a Ucrânia”, disse afirmou o premiê, citando temas como Amazônia, luta contra o desmatamento e transição energética.
Após as repercussões negativas da fala de Lula, o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, irá viajar à Ucrânia. Ele já se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, em um gesto visto como uma espécie de manifestação de apoio, ainda que tenham sido as declarações de Lula as responsáveis por provocar a repercussão negativa.
Nesse sentido, a viagem de Amorim à capital do país invadido pode ajudar a limpar a barra da diplomacia brasileira. Ainda que sem avanços concretos, a principal proposta de Lula é a criação de um “clube da paz” para mediar negociações que levem ao fim da Guerra da Ucrânia. O fórum internacional teria a participação de países vistos por Brasília como não alinhados nem a Kiev nem a Moscou —também este um critério difícil de ser posto em prática, uma vez que Lula defende que a China tenha participação ativa no processo, mas Pequim é considerada a maior aliada da Rússia no novo cenário geopolítico.
O presidente brasileiro tem sido abertamente criticado por declarações recentes sobre o conflito. Em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, disse que nem Putin nem seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, “tomam a iniciativa de parar”.
“A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: ‘basta'”, disse Lula antes de encerrar sua visita à nação árabe.
As críticas a Washington e União Europeia foram as que geraram maior impacto negativo, de modo que, desde então, o brasileiro buscou um discurso mais moderado. Em Portugal, afirmou que “nunca igualou” as responsabilidades de Rússia e Ucrânia no conflito, embora o tenha feito em mais de uma ocasião.
“Eu não fui à Rússia e não vou à Ucrânia. Eu só vou quando houver possibilidade de efetivamente ter um clima de construção de paz. Eu sempre fui uma pessoa que quer integridade territorial”, afirmou Lula.
Marianna Holanda/Folhapress