24 novembro 2024
O deputado federal João Carlos Bacelar Batista, que usa como nome parlamentar apenas Bacelar (PV), é o primeiro aliado do governador Jerônimo Rodrigues (PT) a admitir publicamente que o presidente da Companha de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), José Trindade (PSB), é o nome favorito na base aliada para ser o candidato do grupo à Prefeitura de Salvador em 2024.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, concedida no último sábado (09), Bacelar analisa o cenário pré-eleitoral na capital, onde já foi vereador em três mandatos e segue com forte atuação política. Cogitado, ele praticamente descarta uma candidatura, e defende a união dos governistas em torno de um único nome que, na opinião do parlamentar, deve ser anunciado até outubro deste ano.
No Congresso Nacional desde 2015, Bacelar também destaca a aprovação da reforma tributária, na semana passada. De acordo com o deputado, o resultado da votação demonstrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está no caminho certo para construir uma base menos fluida e mais sólida. Entretanto, ele não deixa de apontar a responsabilidade do governo federal na retirada do texto da reforma da prorrogação dos benefícios fiscais que facilitariam a instalação da BYD em Camaçari.
O deputado do PV diz que outro erro do Planalto foi não ter nomeado o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, como ministro. Bacelar considera que o presidente está correto em entregar cargos federais importantes na Bahia ao mesmo partido liderado no Estado pelo ex-prefeito ACM Neto (União). “Como eu vou atrair quem foi meu adversário para o meu projeto de governo para eu ter uma base? É mostrando qual é o meu projeto e dando espaços para que ajudem na execução”, afirma.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Política Livre – A Câmara aprovou, na semana passada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, com o voto favorável do senhor. Na sua opinião, foi a reforma ideal, ao menos no que se refere ao consumo?
Bacelar – Tem dois aspectos aí que devemos levar em consideração sobre a reforma tributária: o econômico e o político. Essa era uma pauta que se arrastava há 50 anos no Congresso e todo mundo sempre era a favor, mas quando se apresentava o texto, ficava contra. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi inteligente e habilidoso quando dividiu a reforma, tratando agora da questão do consumo e deixando a área da renda, que é muito mais complexa, para depois. O Brasil é um dos países do mundo com a estrutura tributária mais atrasada, burocrática e complexa, e unificar impostos, passando a cobrança apenas para onde se consome, e não onde se produz, é muito positivo para a economia. Haddad tem dito que o impacto na economia será igual ao do Plano Real. Houve um consenso em torno do texto, na esquerda e na direita, tirando os radicais que só atuam pelo pior. Foi uma reforma também negociada e apoiada por governadores, prefeitos, pelo setor produtivo nacional, pelas grandes organizações empresariais do país, por parte grande dos sindicatos, apesar de alguns terem exigido uma reforma mais radical, o que não foi possível. Não tenho dúvidas de que o texto aprovado, que ainda precisa do aval do Senado, vai promover a geração de emprego e renda e desenvolver o país.
E o aspecto político?
O Brasil elegeu o presidente Lula (PT), mas não elegeu maioria para Lula governar na Câmara. Nosso grupo inicial era de 120 deputados. Com a adesão do PDT e do Cidadania no segundo turno (das eleições de 2022), a gente passou a contar com 140 deputados. Um número reduzido, que é minoria na Câmara. Então, o primeiro grande desafio de Lula era a formação da base de sustentação. E esse é um processo complexo porque, primeiro, há um grande número de partidos. Em segundo lugar, o presidente encontrou um Congresso empoderado, que se afirmou e se fortaleceu muito nos últimos quatro anos, tendo em vista a inoperância e falta de apetite do Executivo sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Vencemos disputas no Legislativo, mas sempre com uma base muito fluida. Com a PEC da reforma tributária, aprovada de forma ampla, há uma sinalização de que o governo consolidou uma base mais sólida. Vencemos com sobras a oposição da extrema direita, com um número bem acima dos votos necessários.
Dá para confiar nos partidos que já contribuíram para derrotar o governo em outras pautas, como na questão do marco legal do saneamento? O Centrão segue pedindo ministérios e mais cargos, principalmente após a semana da aprovação da reforma tributária e de outras pautas pró-governo.
Mas o Brasil se desacostumou a fazer política com “p” maiúsculo. Há quatro anos a atividade política vinha sendo marginalizada, com a negociação sendo associada à corrupção, quando a única política que o governo sabia fazer era a distribuição de emendas. Em quatro anos, o centro de poder se deslocou do Planalto para os gabinetes dos presidentes da Câmara e do Senado. Tudo era decidido no próprio Legislativo. Estamos agora vivendo outro momento, com a primazia da política e da democracia, com um presidente do diálogo com todos. Perdemos nessa matéria do marco do saneamento porque essa foi uma iniciativa do próprio Legislativo, no governo anterior. E vamos perder outras, isso é da democracia. O presidente de agora não é autoritário e nem ditador. É homem de conversa e negociação. Se perdeu, chama quem venceu para conversar, e quem foi derrotado para saber as razões da derrota. O presidente não fica de mal humor com isso, não se isola em um cercadinho e fica agredindo os outros, inclusive a imprensa. Essa questão de indicação dos cargos para compor o governo é natural. Se sou da base de sustentação tenho que fazer parte das decisões do governo.
Alguns setores da política atribuem o mérito da aprovação da reforma tributária ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e ao Congresso, e não ao governo Lula…
Quem deu a largada nesse processo, em 2023, foi o presidente Lula. Mas essa proposta aprovada já vinha sendo trabalhada desde 2019, então já tínhamos quatro anos de discussão. No entanto, ela só foi aprovada agora. Quando se triunfa, acho que não se deve ficar querendo saber se os louros são meus ou seus. Mal acabou a votação e o presidente Lula ligou para o presidente Arthur Lira para agradecer, e levou deputados, inclusive de partidos que não estão com o governo, para uma reunião no Palácio da Alvorada. Estavam lá, por exemplo, o Republicanos e o PSDB. É um momento novo que o Brasil vive. Temos consciência que o governo Lula três é de transição, de frente ampla, que chegou para trazer país ao Brasil e plantar as bases para o desenvolvimento.
Houve críticas de que a reforma tributária pode resultar em aumento de impostos ou queda de arrecadação em municípios. Prefeitos, inclusive o de Salvador, Bruno Reis (União), criticaram o texto, mesmo após mudanças e a aprovação. Como o senhor avalia esses posicionamentos?
Em qualquer reforma vai acontecer de alguns setores, como o de serviços, tenham, num primeiro momento, um pequeno aperto. Como deve acontecer em algumas capitais, em um momento inicial, mas por curto espaço de tempo. A reforma tributária é de longo prazo. Estamos pensando em 2035 e 2040, quando teremos mais recursos movimentados na economia e aí todo mundo ganha. É bom ressaltar que o texto foi exaustivamente negociado, aprimorado, e não prevê aumento de carga tributária, apesar de algumas notícias falsas, a exemplo daquela de que taxaríamos o PIX. Vamos é zerar os impostos da cesta básica, deixando claro o que é a cesta básica. Salmão, por exemplo, não é cesta básica. Eu acho engraçado porque os liberais brasileiros são liberais no que diz respeito ao setor do concorrente, do vizinho, quando é do próprio setor querem isenção de tributos. E ainda querem controlar a vida social, dizer com quem você namora, quem você beija, com quem dorme.
Já no final da votação da reforma tributária, um destaque apresentado pelo PL retirou do texto a prorrogação de benefícios fiscais para que empresas multinacionais pudessem se instalar no Norte e Nordeste do país. O senhor até havia alertado de que isso poderia ocorrer, podendo afetar a implantação da BYD em Camaçari. Como reverter?
Isso foi ruim para o Brasil, que sinalizou de forma péssima para fora do país e para dentro, mostrando uma grande insegurança jurídica nas relações comerciais. Como tenho um protocolo assinado no início de junho com uma determinada empresa chinesa, alemã ou norte-americana e 40 dias depois o Congresso faz uma lei que derruba os princípios que estão naquele acordo? Não é coisa de país civilizado. E olha que a direita fala todo dia dessa tal segurança jurídica, mas quando tem oportunidade promove a instabilidade, pois vale o quanto pior, melhor. A segunda coisa é que vimos, nessa questão, que o Brasil está dividido, onde o sul rico e grande não tem solidariedade nenhuma e é egoísta e racista com o norte, nordeste e centro-oeste. Eles defendem o desenvolvimento e o equilíbrio regional, mas isso não vale para projetos que podem beneficiar as regiões mais pobres do país. Nesse caso específico, houve uma interferência direta dos governadores de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná e do Rio Grande do Sul, numa medida que não prejudicaria eles em nada. Foi a arrogância sulista. Com a BYD, podemos transformar a Bahia no maior centro tecnológico automotivo do mundo. E os estados do sul também ganhariam com isso, porque o carro elétrico produzido na Bahia, que ainda será muto caro, terá como destino o comprador do sul e sudeste, onde, com a reforma tributária, os impostos ficam lá, e não aqui, no nordeste. É triste também porque essa atitude afeta o meio ambiente, pois esses governadores estão representando ainda interesses de duas ou três montadoras que produzem carroças poluidoras.
Caberá ao Senado reverter, devolvendo o texto da reforma para a Câmara?
Será revertido, sim. No Senado, a correlação de forças é diferente, porque o número de senadores é o mesmo para cada estado. Voltando para a Câmara, também iremos aprovar, numa nova configuração. No dia dessa votação, fiquei muito irritado, chateado, mas depois, com calma, analisando bem a situação, vi que não tivemos uma derrota. Obtivemos 307 votos, um a menos do que o necessário. Praticamente dois terços da Câmara apoiou a prorrogação dos incentivos, mesmo enfrentando toda a pressão desses governadores que ligaram para os deputados dos estados passando, muitas vezes, até dados incorretos. Tivemos um quórum baixo na sexta, depois de uma sessão que entrou na madrugada, e muitos parlamentares já estavam retornando aos estados. Além disso, o governo teve uma intervenção tímida e apressada neste assunto, porque também foi o último assunto a ser discutido, levantado pelo governo da Bahia, que chamou a atenção para o problema, mas já o fez meio que em cima da hora. E mesmo que não seja revertido no Senado, o Planalto pode enviar um projeto de lei ou uma Medida Provisória tratando da questão, que também é importante para a indústria de produção de hidrogênio verde. A Unigel, por exemplo, pretende investir cerca de R$2 bilhões nesse segmento na Bahia.
O senhor ficou chateado com o deputado Otto Filho (PSD), que votou pela retirada dos incentivos da reforma? Ou com o deputado Arthur Maia (União), que não votou?
Não, não. Fiquei chateado com o resultado. Volto a dizer: não foi uma derrota. Muitos deputados me ligaram depois dizendo que não participaram da votação porque estavam se deslocando para seus estados. Precisamos também ressaltar o trabalho que fizemos. Eu, a deputada Lídice da Mata (PSB), o deputado Zé Neto (PT), trabalhamos muito até durante a madrugada. O secretário estadual da Casa Civil, Afonso Florente, também atuou. A expectativa era de uma derrota acachapante por conta dos governadores do sul e sudeste, mas isso não aconteceu. Jerônimo já deve ter conversado com o presidente Lula, com Arthur Lira e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para avançar e vencer quando o tema voltar à pauta após o recesso.
Falando em hidrogênio verde, o senhor propôs a criação de uma comissão especial na Câmara para tratar dessa questão. Qual será o objetivo deste colegiado?
Propus a criação da comissão que tem como objetivo discutir a elaboração de um projeto para regulamentar essa questão da transição para a energia limpa e a produção de hidrogênio verde. Sou relator da comissão. Desde o Acordo de Paris, se assumiu o consenso científico de que o aumento da temperatura global se deve às emissões de gases de efeito estufa. Desde então, a comunidade internacional tem exigido que se encontre uma matriz energética não mais focada nos combustíveis fósseis, mas com baixa ou zero emissões de carbono, baseada em fontes renováveis. Neste cenário mundial, o Brasil tem um papel fundamental, mesmo tendo uma das matrizes energéticas mais limpas, mas com potencial destacado para produzir energia eólica, solar e com biocombustível. Isso vai ficar ainda mais evidente com a instalação da BYD e da Unigel, bem como da atuação de outras empresas, como a Acelen. Vamos discutir na comissão como disciplinar e financiar projetos sobre fontes renováveis e produção de hidrogénio verde.
O senhor participou, no início do governo, das negociações envolvendo a ocupação de ministérios como representante do PV. Mas o partido ficou sem espaço no primeiro escalão. A sigla está satisfeita?
Olhe, estamos satisfeitos com o governo na área administrativa. É um governo que tem entregas importantíssimas como o Bolsa Família fortalecido, a volta do estímulo às pesquisas, reajuste do programa nacional de alimentação escolar, o Minha Casa, Minha Vida, a volta da campanha forte de vacinação, a retomada da Ferrovia de Integrações Oeste-Leste (Fiol), o respeito do Brasil reconquistado no exterior, a economia melhorou. Acho que são seis meses virtuosos de gestão. Já do ponto de vista político eu acho que o PV merece e precisa de um espaço maior. Claro, nós temos limitações, e a maior delas é o tamanho da nossa bancada, de apenas seis deputados federais. Fazemos parte de uma federação com o PT e o PCdoB que tem 81 deputados, mas nós somos apenas seis. Também fomos vítimas de um desempenho não muito virtuoso do governo, no início, na distribuição de ministérios, que talvez seja o grande erro político do governo. Deram ministérios demais a alguns e puniram outros.
O senhor se refere ao União Brasil, que ficou com três ministérios e até a votação da reforma tributária não vinha entregando o voto na Câmara como aliado de fato?
É, mas por exemplo: veja que a distribuição de ministérios para o União Brasil não contemplou o partido, apenas uma pequena ala. Acho que foi um erro a não nomeação do deputado Elmar Nascimento (União) para o ministério. E, para consertar esse erro, estamos tendo que empregar mais força do que devíamos. Acho que a situação do PV se encaixa nesse exemplo. Temos cargos de segundo escalão, como a presidência do Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural), temos diretorias do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), em Itaipu, subsidiária do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, mas precisamos e podemos colaborar mais, como na área da cultura e do meio ambiente. Mas esse retrato do governo é, acho, bastante provisório, de primeiro ano. A partir do segundo ano, acredito que teremos um novo desenho e o PV será contemplado.
O senhor já foi contemplado indicações de cargos federais na Bahia?
A participação do PV nos cargos federais regionais na Bahia está sendo discutida com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Isso ainda será definido. Aliás, esse assunto (nomeações dos cargos federais nos estados) estava andando a passos muito lentos, mas o presidente chamou o ministro para colocar ordem e começaram a destravar.
Aliados do governador Jerônimo, sobretudo no PT, criticam o espaço que o governo Lula tem dado ao União Brasil também nos cargos federais na Bahia. O partido comanda as duas superintendências da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e os Correios no Estado. O senhor compartilha dessa crítica?
Eu não. Eu acho que o governo se divide. Volto a dizer: se tivéssemos tido um número bastante positivo na eleição para a Câmara Federal, essa divisão de cargos seria um pouco diferente. Como eu vou atrair quem foi meu adversário para o meu projeto de governo para eu ter uma base? É mostrando qual é o meu projeto e dando espaços para que ajudem na execução. Quero o União Brasil no governo, quero o Republicanos também e o PSDB. Eu não quero no governo a extrema direita, o PL.
Mas o PL ajudou com 20 votos na aprovação da PEC da reforma tributária. Um baiano do partido, o deputado Jonga Bacelar, foi um deles, e já emplacou o comando da Superintendência de Patrimônio da União (SPU) na Bahia e está na praticamente na base do governo.
O que eu não quero é acordo com o PL, de jeito nenhum, mas com os deputados e senadores do PL, queremos sim. Eles nunca serão tratados como companheiros de segunda categoria. Pelo contrário. Isso é política, gente, o que nós deixamos de fazer. As coisas antes estavam funcionando muito na base da raiva, da arrogância, do cercadinho. Quero os deputados do PL nos ajudando, quero Elmar Nascimento nos ajudando…
O nome de Elmar é hoje o mais forte para suceder Arthur Lira na presidência da Câmara?
Sou um amigo próximo do presidente Arthur Lira desde a primeira candidatura dele. Fui um dos primeiros a apoiá-lo. Eu acho um desrespeito com ele, que está no primeiro ano deste segundo mandato, já falar de sucessão na Câmara. Estou muito satisfeito com a gestão dele. Mas não posso negar que Elmar é um grande nome. A Bahia tem grandes nomes. Além do líder do União Brasil, tem o deputado Antonio Brito, outro quadro com viabilidade eleitoral. Se fosse por mérito, teríamos muitos outros, mas estamos falando em viabilidade eleitoral. Acabou aquele negócio de que meu adversário na província continuava sendo meu adversário na capital federal.
Mas esse espaço todo que o governo Lula dá ao União Brasil não pode acabar por fortalecer uma nova candidatura do ex-prefeito ACM Neto, maior líder da legenda na Bahia quando o assunto é voto popular, a governador, em 2026?
Eu estou preocupado é com o Brasil. Não estou preocupado com “a”, “b” ou “c”. Lula dando certo, o nosso grupo fica fortalecido. E queremos esses deputados que estão brilhando em Roma também como nossos aliados na província.
Vamos falar então da província, da Bahia. No governo Jerônimo Rodrigues (PT), o PV está no comando da Secretaria de Turismo (Setur), onde o titular é Maurício Bacelar, seu irmão. A Executiva estadual “verde” reclamou de que a sigla merecia mais, já que também ficou de fora de espaços relevantes no segundo escalão. O senhor concorda?
Acredito que politicamente o PV foi contemplado, mas tecnicamente não. Politicamente o PV não era base do governo. O partido entrou no governo em 2022. E entrou num governo de continuidade, com espaços já ocupados. O PV elegeu na Bahia um deputado federal e quatro estaduais, sendo que nenhum era originalmente o partido e todos já tinham participação no governo. Então, manteve-se os acordos anteriores. Então, do ponto de vista da política, o PV está bem representado, mas do ponto de vista técnico, não, porque temos quadros muito qualificados que podem ocupar outras funções, inclusive o presidente estadual, Ivanilson Gomes, altamente qualificado e que poderia estar em qualquer cargo de primeiro ou segundo escalão.
Maurício Bacelar na Setur foi uma indicação pessoal do senhor ou do PV?
É dentro do raciocínio que falei. O secretário Maurício Bacelar já ocupava o espaço desde o governo Rui Costa (PT), e vem fazendo um excelente trabalho. Agora, Maurício é “verde”, ou seja, é do partido, do PV. Ele participa das atividades do partido. Então, esse espaço também é do PV.
O senhor faz política em Salvador há muitos anos. É um político muito conhecido na cidade, com serviços prestados ao longo de sua trajetória na vida pública. Uma nova candidatura a prefeito da capital está nos seus planos para 2024?
Qualquer político que faz política e tenha base nessa cidade tão importante e linda gostaria de ser candidato a prefeito e de ser prefeito. Mas precisamos colocar os interesses de Salvador acima de tudo. Acho que Salvador precisa de uma mudança de projeto político, e não só de nomes. Temos hoje na cidade conduzida por um projeto político elitista, concentrador, altamente baseado num esquema tributária que chega quase ao limite do absurdo. Precisamos mudar isso. E por causa disso as nossas forças do governo do Estado, que já mudaram o patamar da Bahia, precisam se articular para fazer o mesmo na capital. Estou muito mais preocupado em contribuir com a unidade do nosso grupo do que com uma eventual candidatura minha. Gostaria muito de ser o candidato, mas acho que as condições objetivas no momento vão em outra direção. Temos nomes forte, como o de Lídice, de Antonio Brito, da deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), da Vilma Reis (PT), do deputado estadual Robinson Almeida (PT), do presidente da Conder, José Trindade (PSB).
São muitos postulantes. O senhor acha que vai haver a unidade em torno de uma candidatura única? E quando ela deve ser anunciada?
Temos que construir isso. Está na hora das correntes partidárias sugerirem nomes, mas esse processo tem que ser afunilado até outubro deste ano, para que tenhamos aí um ano para trabalhar esse nome e apresentar nosso projeto. Temos lideranças da envergadura de Jerônimo, do ministro Rui Costa (Casa Civil), e dos senadores Jaques Wagner (PT), Otto Alencar (PSD) e Ângelo Coronel (PSD), que estão engajados para que isso aconteça, para que encontremos um nome com muita conversa, negociação e espírito público.
Quem o senhor acha que é o favorito entre todos esses nomes?
Eu acho que já temos um favorito, que você mesmo já deve estar sabendo entre esses que falei. Um deles tem uma musculatura maior…
José Trindade, tido como favorito de Rui Costa?
Você mesmo está dizendo. No momento, José Trindade é o que reúne mais forças no grupo do governador para disputar Salvador, e por razões objetivas. Primeiramente, é o nome que pilota as obras mais importantes e estruturantes em Salvador, em todos os cantos da cidade. Além disso, foi vereador da cidade e conhece bem os problemas de Salvador. Tem mais: é democrático e acessível. Ele reúne todas as condições para assumir essa missão.
Na semana passada, o diretório do PT de Salvador aprovou o indicativo de que o partido deve ter candidato próprio à Prefeitura da capital, o que motivou críticas de Ivanilson Gomes, presidente do seu partido, e do ex-ministro Geddel Vieira Lima. O que o senhor achou dessa decisão?
Isso é ruim. O PT não deveria tomar essa decisão, até porque existe a federação. O PT também não pode indicar candidato. Se fizer isso, seria uma atitude arrogante. Agora os dirigentes do PT podem apresentar nomes, evidentemente. Mas não acho que as direções nacional e estadual do PT concordem com uma decisão como essa. Agora é mais fácil ser candidato utilizando o número do presidente que tem uma excelente avaliação em Salvador e na Bahia. Basta ver como Lula foi recebido no Dois de Julho. Parecia um pop star.
O PV tem um vereador em Salvador, André Fraga, que apoiou a candidatura do senhor para deputado federal em 2022, mas ainda integra a base do prefeito Bruno Reis. Como fica a situação do edil, que é um “verde” orgânico?
É um quadro excepcional, tanto do ponto de vista político, quanto de caráter, de amizade, de propostas, de compreensão. Ele apoiou a eleição do atual prefeito de Salvador e está corretíssimo que ele esteja na base, ainda mais se os pleitos dele estiverem sendo atendidos. Mas você mesmo disse que ele é um quadro orgânico do partido. Não posso decidir por ele, mas gostaria muito de poder influenciar o vereador na decisão dele, porque não é correto o partido apoiar outro candidato que não seja da base de Jerônimo porque fazemos parte do governo estadual. O partido vai estar num projeto das forças que poiam o governador. Não posso estar num partido apoiando um candidato que é contra o projeto do meu partido. Isso vai ser conversado com André, mas dentro dos limites que dei.
O senhor sempre foi muito próximo de Bruno, principalmente quando integrava o grupo político dele e de ACM Neto. Como é a relação atualmente com o prefeito?
Estamos em campos opostos na política. Na questão pessoal, não temos tido uma relação por conta da agenda dele, que é muito pesada. Mas sempre tivemos uma relação muito forte de amizade, como você sabe, mas, infelizmente, não tem havido muita convivência. Mas sinto falta desse contato pessoal, até porque temos laços familiares e sempre nos tratamos com respeito.
O senhor está na base do governo do Estado desde o primeiro governo de Rui Costa. A relação é diferente com Jerônimo?
Eu conheci Jerônimo quando ele cuidava da formulação do programa de governo de Rui Costa, ainda candidato. E ele me chamava a atenção pela capacidade, força de trabalho e simpatia. Dentro de mim, algo me dizia, naquela época, que Jerônimo seria candidato a prefeito de Salvador. Acho que cheguei a dizer numa reunião com ele, já secretário estadual da Educação, de que ele seria meu candidato a prefeito de Salvador em 2024. Mas o destino colocou na vida dele a missão de ser governador do Estado. Quem tem a habilidade política de Wagner e capacidade de gestão de Rui tem um futuro promissor pela frente. Ele vai ser um nome da política nacional. Sabe ouvir, gosta do povo, é cobrador e sabe planejar as ações. Além disso, é identificado com todas as camadas da população, do índio ao professor.
Em entrevista ao site, Ivanilson Gomes estimou que o PV vai eleger pelo menos 15 prefeitos em 2024. O senhor concorda com esse número? E qual deve ser o critério para a escolha de candidatos dentro da federação onde PV, PT e PCdoB tenham candidaturas a prefeito colocadas?
Eu acho que nos locais em que o partido tem o prefeito eleito desde 2020, é preciso que esse partido indique o nome à sucessão. Nos outros locais, o critério é a política, a conversa, a relação, os apoios de outras legendas. Acho que o número que Ivanilson citou é bastante modesto. Não podemos esquecer que temos quatro deputados estaduais com bases eleitorais fortíssimas. Temos condições de eleger pelo menos 30 prefeitos.
Política Livre