16 janeiro 2025
O governo de Israel negou nesta segunda-feira (6) ter feito um acordo com o Hamas para uma nova trégua na guerra que devasta a Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo, militares israelenses reiteraram que continuam os preparativos para a alardeada invasão terrestre na cidade palestina de Rafah. Horas antes, a facção terrorista havia dito que aceitava os termos de uma proposta e que o cessar-fogo só dependia de Tel Aviv.
As negociações são mediadas por autoridades do Qatar, Egito e Estados Unidos. Caso fosse implementada, a trégua seria a primeira desde a pausa de uma semana nos combates que ocorreu em novembro. Desde então, acumulam-se tentativas fracassadas para interromper novamente os combates, libertar outros reféns e permitir a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza.
De acordo com o jornal The Times of Israel, entretanto, a proposta que foi aceita pelo Hamas não atende às principais demandas do gabinete de guerra israelense. As autoridades, no sentido contrário, teriam decidido avançar com os planos para invadir Rafah. Os objetivos da ofensiva, segundo comunicado, são “aplicar pressão militar” sobre a facção e “fazer progressos na libertação de reféns”.
Horas antes os militares de Israel ordenaram o esvaziamento de uma área de Rafah, cidade no sul de Gaza hoje superlotada de pessoas forçadas a se deslocar na guerra —segundo estimativas, metade dos 2,3 milhões de habitantes locais estão na região. Ataques aéreos descritos como intensos também foram registrados no leste da cidade, em mais um indicativo de que a invasão terrestre está prestes a ocorrer.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, vem fazendo promessas reiteradas de invadir Rafah a despeito do temor manifestado por líderes globais de que a ação iria aprofundar a crise humanitária na região. Segundo o premiê, a ação é necessária para eliminar os últimos redutos do Hamas em Gaza.
Segundo a Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, conversou com Netanyahu por telefone sobre a possibilidade do cessar-fogo. Washington, maior aliado de Tel Aviv, disse que estava avaliando o posicionamento do Hamas e reforçou os pedidos para Israel suspender os ataques contra Rafah.
“Continuamos acreditando que um acordo sobre os reféns é o mais benéfico para o povo israelense e o povo palestino”, afirmou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano.
Do lado palestino, Khalil Al-Hayya, vice-chefe do Hamas em Gaza, disse à rede qatari Al Jazeera que o grupo havia aceitado uma proposta de trégua dítvida em três fases, cada uma delas com 42 dias de duração, que incluiria troca de reféns, o fim do bloqueio contra o território e a retirada de tropas israelenses. À agência AFP um dos líderes da facção disse apenas que a “bola estava no campo” de Israel.
Mas autoridades israelenses desmentiram o acordo. À Reuters um funcionário do governo afirmou que a proposta inclui medidas de longo prazo que Tel Aviv não poderia aceitar. Ele afirmou também que as declarações parecem ser uma estratégia para responsabilizar Israel pelos fracassos nos diálogos.
O plano anunciado pelo Hamas seria diferente do que vinha sendo trabalhado por Israel. Ainda assim, autoridades de Tel Aviv chegaram a examinar a proposta, segundo a agência Associated Press.
Ainda assim, civis saíram às ruas de várias cidades palestinas para comemorar o anúncio do grupo terrorista de que a proposta havia sido aceita. Antes, líderes do Hamas haviam dito que qualquer ação israelense contra Rafah colocaria as negociações de trégua em risco, o que aumentou as preocupações de que negociações ficassem paralisadas.
No fim de novembro, um acordo mediado pelos mesmos atores permitiu um cessar-fogo de sete dias, nos quais 240 prisioneiros palestinos sem julgamento definitivo foram libertados, enquanto cerca de cem reféns feitos pelo Hamas no mega-atentado deixaram o cativeiro. Quase sete meses após o início da guerra, cerca de 130 pessoas sequestradas por terroristas em 7 de outubro continuam em Gaza.
Diante da guerra de versões, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a Israel e Hamas que façam esforços extras necessários para selar uma trégua e “deter o sofrimento” provocado pela guerra em Gaza. Ele ainda disse estar “profundamente preocupado” com os sinais de que uma operação em larga escala na cidade de Rafah poderia ser iminente.
Antes do início das conversas atuais, havia algum otimismo. No entanto, o diálogo tem tropeçado na demanda do Hamas por um compromisso de encerrar a ofensiva. Israel insiste que, após qualquer cessar-fogo, retomaria as operações destinadas a desarmar e desmantelar a facção.
Um funcionário israelense sinalizou no sábado (4) que a posição central de Tel Aviv permanece inalterada, afirmando que, em nenhuma hipótese, concordaria em encerrar a guerra por um acordo para libertar reféns.
Líderes do Hamas, por outro lado, acusam Netanyahu de dificultar os esforços para que um acordo seja alcançado, devido a interesses pessoais. Israel também acusou o Hamas de obstruir as negociações.
A guerra começou depois que o Hamas surpreendeu Israel com um ataque terrorista sem precedentes em 7 de outubro, no qual 1.200 pessoas foram mortas e 252 reféns foram feitos, de acordo com contagens israelenses. Desde então, a resposta militar de Tel Aviv já matou quase 35 mil palestinos, e mais de 77 mil ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista.
Folhapress