26 novembro 2024
O técnico agropecuário e administrador de empresas Geraldo Simões, funcionário público da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), conhece bem o PT. Desde o início da década de 1980 até os dias atuais, foi seu único partido, pelo qual já exerceu os mandatos de deputado estadual (duas vezes) e federal (três vezes), além de prefeito de Itabuna (duas vezes), cargo para o qual deseja concorrer nas eleições deste ano. Mas, para isso, precisa superar forças contrárias internas do próprio partido.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele faz duras críticas à ala petista que opta por apoiar a reeleição do prefeito Augusto Castro (PSD), a quem almeja enfrentar nas urnas em outubro. Embora o gestor de Itabuna esteja na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), Geraldo Simões o considera um traidor que fez o município retroceder na esfera política e administrativa.
O ex-prefeito afirma ainda que o PT precisa pensar nos próprios interesses nas eleições municipais e critica o excesso de confiança depositado nos aliados, inclusive no PSD. Ele lembra que os petistas já chegaram a ter dez prefeitos no Sul da Bahia – atualmente, há apenas um, o de Itacaré, Antonio de Anizio – e quase 100 na Bahia – em 2020, foram eleitos somente 32.
Geraldo Simões, que já exerceu diversos outros cargos públicos, a exemplo de secretário estadual de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado e presidente da Companhia das Docas da Bahia (Codeba), admite que, embora seja fiel ao PT, pode apoiar um adversário de Augusto Castro em Itabuna se não for escolhido candidato. Ou seja, existe a possibilidade de subir no palanque que não seja o mesmo de Jerônimo.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Quando o PT vai decidir se o senhor será candidato à Prefeitura de Itabuna ou se o partido caminhará com o atual prefeito, Augusto Castro (PSD), postulante à reeleição?
Aqui em Itabuna continua em aberto. As duas teses existem, como você colocou. Há 44 delegados do partido que estão comigo e outros 44 que desejam apoiar o prefeito, conforme ficou estabelecido no último encontro que fizemos. O diretório estadual do PT já marcou uma data três vezes para os delegados se reunirem e sempre isso é remarcado. E isso é muito ruim. A decisão precisa acontecer para que todos os envolvidos possam cuidar de suas vidas.
Existe uma data limite para que ocorra? Além disso, como há 44 delegados para cada lado, pode acontecer um empate. Nesse caso, quem decidirá?
Seria dia 26 de maio o prazo limite. Mas a gente encontra brechas para isso ser jogado ainda mais para a frente, o que não deveria interessar a ninguém. Se houver empate, caberá ao PT estadual e nacional decidirem. O fato é que a direção estadual estará cometendo um erro enorme se cancelar a minha candidatura para apoiar o PSD. Veja o que aconteceu com o PP. Abrimos mão de ter candidatos em 2020 para apoiar o PP pela Bahia e, em 2022, fomos traídos. Ninguém nos garante que o PSD de Kassab (Gilberto Kassab, presidente da legenda no Brasil) e de Otto (Alencar, senador e comandante da sigla na Bahia) não irá nos trair lá na frente. E se tiverem o mesmo comportamento? Espero que não tenha, pois Otto tem sido até aqui aliado, mas ele vai ficar eternamente no comando do PSD baiano? Não podemos sair por aí deixando de ter candidato fortalecendo ainda mais os demais. E o PT, fica enfraquecido nos municípios?
O senhor não confia na aliança entre Otto e o PT?
Estou dizendo é que o PT não pode abrir mão dos seus próprios projetos, da necessidade de crescer, sempre em favor dos aliados. O PSD hoje tem o maior número de prefeitos na Bahia. E trabalha para seguir forte. O PT deve fazer o mesmo, ainda mais quando se trata de um município tão importante como Itabuna. O PT já teve dez prefeitos aqui na nossa região, e hoje tem apenas um. Já comandamos a Amurc (Associação dos Municípios da Região Cacaueira da Bahia), entidade importantíssima. Na Bahia, já tivemos 94 prefeitos. Em 2020, elegemos apenas 32. Isso não é certo, ainda mais para o partido do presidente, do governador. Com isso, temos apoiado aliados que não retribuem. É só ver o resultado do presidente Lula (PT) e do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em Itabuna em 2022. O PT não pode eleger apenas três dezenas de prefeitos na Bahia em troca da política da boa vizinhança.
Augusto Castro não apoiou Jerônimo e Lula em 2022?
Um apoio de mentira. Os secretários dele votaram nos nossos adversários, no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e no ex-prefeito de Salvador (ACM Neto, do União Brasil). Ele (Augusto Castro) apareceu para fazer campanha nas poucas vezes em que Jerônimo aparecia em Itabuna. Lula venceu a eleição na Bahia com mais de 72% dos votos, enquanto em Itabuna o percentual foi de 52%, Em Itabuna, ACM Neto ganhou a eleição de Jerônimo com 26 mil votos de frente. O prefeito não fez campanha para o PT. Ele também participou ativamente do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), nas ruas, nos palanques. A história dele sempre foi com a oposição ao PT. Esse tipo de erro é que não pode voltar a acontecer em Itabuna e em outras cidades da Bahia. Não podemos pagar esse preço novamente.
O líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Rosemberg Pinto (PT), que já declarou apoio a Augusto Castro, tem dito que se o PT referendar sua candidatura, a federação que o partido forma com o PV e do PCdoB veta. Isso porque essas duas legendas também já teriam fechado apoio ao prefeito de Itabuna.
Os outros partidos da federação estão de fato com Augusto, já receberam cargos e benesses da Prefeitura. E o PCdoB e o PV têm um projeto legislativo, querem eleger vereadores e deputados, e não comandar o Executivo. No Executivo, se contentam com espaços. São partidos menores, que entraram na federação para sobreviver. Não são eles que têm o direito de decidir pelo PT numa votação ao estilo dois a um. O PT tem história em Itabuna, já governamos a cidade. Não podemos nos tornar reféns de um instrumento criado para salvar partidos menores, do ponto de vista da expressão política e eleitoral.
Mas uma parte do PT em Itabuna também deseja apoiar Augusto Castro…
Por vantagens pessoais. São pessoas que ocupam cargos de confiança ou recebem gratificação salarial do prefeito. Se quiser, pode perguntar isso ao presidente municipal do PT. Nós fazemos parte da ala do PT que tem ideais, que defende Lula, que defende Jerônimo. O prefeito usa as armas que tem para interferir no processo interno do PT. Ele faz cooptação.
Como o senhor avaliou as declarações recentes do senador Jaques Wagner (PT) de que o PT deve apoiar Augusto Castro porque o prefeito tem a preferência da reeleição, pois é filiado a um partido da base de Jerônimo?
Acho que esse assunto tem que ser resolvido no PT de Itabuna. E essa questão da reeleição precisa ser analisada direito, caso a caso. Como eu disse, o prefeito aqui não tem sido correto com o PT. O que entendo é que o PT deveria cuidar do PT. Tenho receio de, no dia 6 de outubro, quando a contagem das urnas já estiver encerrada, que o PSD apareça bem posicionado, assim como o Avante, com uma boa quantidade de prefeitos, e o PT siga no patamar bem abaixo dos demais, sendo o partido do governador da Bahia há quase 20 anos.
O senhor já procurou o governador para conversar sobre a sucessão em Itabuna?
Respeito bastante o governador, mas não acho que preciso conversar sobre isso. Ele sabe do meu propósito e conhece a minha história. Tenho buscado tratar desse assunto no âmbito do PT em Itabuna, dialogando com as lideranças partidárias e com os aliados que estão ao meu lado.
Acredita que pode haver uma composição entre PT e PSD envolvendo Itabuna e Ilhéus, onde os petistas buscam o apoio do partido de Otto à candidatura da ex-secretária estadual de Educação Adélia Pinheiro?
Não vejo um acordo sobre isso sendo cogitado não. Acho que são dois municípios em que as questões políticas e eleitorais estão sendo tratadas de forma separada.
Se não for escolhido candidato e o PT optar pelo apoio a Augusto Castro, o senhor pode apoiar um dos nomes da oposição, a exemplo do deputado estadual Pancadinha (Solidariedade), que, embora de um partido da base do governador, integra a bancada da minoria na Assembleia?
Vou conversar sobre isso com a parte do PT que não se vendeu ao prefeito e com o MDB, que tem sido um parceiro leal nessa pré-campanha. Vou dialogar com os amigos. Mas uma coisa é certa: eu nunca vou caminhar com o atual prefeito. Vamos buscar um outro caminho.
Essa sua rejeição a Augusto Castro se deve somente a questões políticas?
Não. Trata-se também do pior governo da história de Itabuna nos últimos tempos. A cidade está abandonada, endividada. Eu digo, e as pesquisas mostram, que 70% da população de Itabuna rejeita o governo dele. O nosso município perdeu o protagonismo que precisa ser recuperado. Veja que temos bons ventos agora na cacauicultora e isso não é aproveitado pela Prefeitura da forma como deveria ser. Precisamos cuidar do desenvolvimento da cidade, que perdeu 20 mil habitantes. Deveremos perder ainda mais para Barreiras, Ilhéus e Porto Seguro. Não temos alternativa econômica para gerar emprego e renda. Por que não podemos também atrair indústrias, como acontece em Camaçari? Vivemos uma gestão municipal do atraso e da inconsequência. Se o PT entrar continuar nessa, vai afundar junto com o barco.
E sua avaliação do governo Jerônimo, sobretudo na região sul?
Tem muitos investimentos na nossa região. Mas a gente sabe que governo não deve se preocupar apenas em fazer obra. Obra é importante, sim, mas governar também é se relacionar com as pessoas, valorizar e atender sobretudo quem caminha ao seu lado. O que quero dizer é que fazer a boa política, sem perseguir ninguém, mas valorizando os verdadeiros aliados, também faz parte do ato de governar.
Diante desse cenário pré-eleitoral em Itabuna, o senhor cogitou deixar o PT no prazo das filiações partidárias?
Nunca. Minha trajetória política sempre foi dentro do PT. E vou seguir travando o bom combate, defendendo os ideais nos quais acredito, dentro do PT.
Política Livre