Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo
Moeda americana fecha em seu maior valor nominal desde janeiro de 2022 26 de junho de 2024 | 19:00

Dólar dispara e fecha em R$ 5,51 após fala de Lula sobre corte de gastos

economia

O dólar registrou alta de 1,16% e fechou cotado a R$ 5,518 nesta quarta-feira (26), em seu maior valor nominal desde 18 de janeiro de 2022, numa sessão de avanço generalizado da moeda americana ante outras divisas no exterior. O movimento foi acelerado por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a situação fiscal do Brasil.

Nesta manhã, Lula colocou em dúvida a necessidade de efetuar um corte de gastos para melhorar o equilíbrio fiscal do governo. O mandatário afirmou que será preciso analisar se a questão pode ser resolvida com aumento da arrecadação.

“O problema não é que tem que cortar. Problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”, afirmou o presidente em entrevista ao UOL.

Lula ainda acrescentou que seu governo está fazendo uma análise sobre se está havendo “gasto exagerado”, mas que isso está sendo feito “sem levar em conta nervosismos do mercado”

O desempenho do real também acompanha o movimento no exterior. No fim da tarde, a moeda norte-americana avançava ante uma cesta de divisas fortes, em especial em relação ao iene, que atingiu seu nível mais baixo desde 1986. As moedas de países emergentes também registravam baixa em relação ao dólar.

Como pano de fundo, os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro americano registravam forte alta, ainda sob efeito de comentários mais duros de uma diretora do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre o futuro da política de juros dos Estados Unidos. Há, ainda, cautela do mercado antes da divulgação de um novo dado de inflação do país, marcada para sexta (28).

Altas nos rendimentos dos títulos americanos beneficiam o dólar pois aumentam a atratividade da renda fixa americana, direcionando recursos para o mercado dos EUA e penalizando países emergentes e ativos de renda variável.

A situação também pressionou a Bolsa brasileira durante boa parte do dia, mas o Ibovespa engatou alta e garantiu uma sessão positiva no pregão, fechando com avanço de 0,25%, aos 122.641 pontos, impulsionada pelo desempenho de Vale e de outras empresas exportadoras.

De acordo com o chefe da EQI Research, Luís Moran, a Bolsa brasileira continua com um volume fraco, então qualquer movimento maior acaba fazendo preço —como foi o caso do efeito da alta do dólar em exportadoras nesta sessão.

Ele destacou que para a Bolsa deslanchar é necessário existir fluxo de recursos, principalmente de estrangeiros. Mas para isso ocorrer, acrescentou, o Federal Reserve precisa cortar juros. “Nós estamos meio que nesse limbo”, afirmou.

De acordo com dados da B3, o saldo de capital externo na B3 em junho está negativo em R$ 4,7 bilhões. No ano, as vendas superam as compras em R$ 40,6 bilhões.

No Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou a 0,39% em junho, após marcar 0,44% em maio, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado deste mês ficou abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam nova variação de 0,44% em junho.

Em 12 meses, porém, o IPCA-15 ganhou força e acumulou inflação de 4,06%, de acordo com o IBGE. Nesse recorte, a taxa era de 3,70% até maio.

César Garritano, economista-chefe da Somma Investimentos, avalia que a dinâmica da inflação no curto prazo está benigna, mas que ainda há alertas para os próximos meses, em especial por conta da recente desancoragem das expectativas de inflação e pela forte desvalorização do real observada nas últimas semanas.

Ele afirma, no entanto, que ainda há espaço para melhora nas expectativas. No cenário local, a continuidade das contas externas favoráveis e da política monetária apertada podem ajudar a obter menores níveis de inflação. No exterior, um possível corte de juros nos EUA também pode ser benéfico.

“Esse cenário mais benigno só poderá se tornar palpável se o governo colocar em prática medidas que consigam, minimamente, conter a enorme onda de pessimismo que se instaurou nos mercados. O anúncio de um bom nome para comandar o BC e atitudes que apontem na direção de respeito do arcabouço fiscal parecem ser condições essenciais para as próximas semanas e meses”, diz Garritano.

Folhapress
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