Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula com os presidentes José Raúl Mulino (Panamá), Santiago Peña (Paraguai), Luis Alberto Lacalle Pou (Uruguai) e Luis Arce (Bolívia) 08 de julho de 2024 | 16:22

Conflito com Argentina bloqueia declaração do Mercosul e associados

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As divergências apresentadas pela diplomacia da Argentina, hoje sob o governo de Javier Milei, bloquearam o consenso para uma declaração final do Mercosul e de seus Estados associados na cúpula realizada nesta segunda-feira (8) em Assunção, capital do Paraguai.

O bloco é formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e agora Bolívia, que finalizou os trâmites de seu ingresso, e tem como Estados associados Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

É de praxe que ao final de cúpulas que reúnem chefes de Estado, como esta, sejam adotadas duas declarações. Uma somente dos países-membros. A segunda, incluindo os associados. Desta vez, será apenas uma.

O presidente paraguaio, Santiago Peña, que encerra agora sua liderança rotativa do Mercosul, afirmou em seu discurso final que a resolução dos chefes de Estado foi feita com uma “perseverança inflexível e muita plasticidade”, demonstrativo do desafio nos debates.

Então colocou para votação de seus pares a declaração que agregava também os associados. E logo a tirou do debate. Não havia consenso.

O ponto de conflito foi o embargo argentino a temas como gênero e Agenda 2030, o plano de sustentabilidade global das Nações Unidas, segundo a reportagem confirmou com interlocutores que participam das conversas.

O membro que mais contrariou a posição argentina foi o Brasil, com o presidente Lula (PT) e pelo chanceler Mauro Vieira. Na ausência do presidente Javier Milei, a delegação argentina foi liderada pela chanceler Diana Mondino. O Brasil não aceitou abrir margem para a agenda argentina, por muitos descrita como ultraconservadora.

É um tema que vem se arrastando ao longo das últimas semanas e que agora se expressou no bloco sul-americano que dá sinais de cansaço constantes.

Nos corredores do evento, os poucos membros da delegação argentina que aceitam conversar sobre o tema expressam que as relações com o Brasil seguem as mesmas. As arestas, porém, ficam evidentes, com o próprio presidente Lula fazendo menção em seu discurso às posições argentinas, ainda que sem mencionar o país de Milei.

Tudo ocorre um dia após o ultraliberal discursar em uma conferência conservadora em Santa Catarina. Após temores e pressões das duas diplomacias de que ele mencionasse o presidente Lula, seu desafeto, ou o destratasse verbalmente em solo brasileiro, Milei não mencionou o petista.

Ele passou todo o tempo de seu discurso descrevendo o que acredita serem os “males do socialismo do século 21”. Repetiu trechos de falas que já fez em outros eventos, sempre com seu mote de liberdade, e disse que líderes socialistas enriquecem a si e a suas famílias às custas da população.

Mayara Paixão/Folhapress
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