30 outubro 2024
O ataque a tiros contra o ex-presidente Donald Trump virou pauta do ato bolsonarista esvaziado realizado na avenida Paulista neste domingo (14). Gritos de “Trump vive” se juntaram a cantos contra o presidente Lula (PT), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes ocuparam menos de um quarteirão em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), em apenas um dos sentidos da via, aberta para pedestres.
Em forma de bonecos de Olinda, enfeitando uma pick-up pintada com as cores da bandeira da Argentina de Javier Milei, estavam o político americano, que irá disputar a eleição à Presidência dos Estados Unidos em novembro, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sorrindo lado a lado. Compunha ainda o cenário do protesto na capital paulista um gigante Lula inflável vestido de presidiário.
O ato não contou com a presença de Bolsonaro, que foi a Santos (SP) participar do lançamento da pré-candidatura de Rosana Valle (PL) à Prefeitura.
Apesar da deflagração de nova fase da operação que mira a existência da chamada “Abin paralela” e de ter sido indiciado pela Polícia Federal em investigação sobre a venda de joias recebidas de presente pelo seu governo, o ex-presidente manteve ritmo de viagens e agendas político-eleitorais.
O ato deste domingo é o segundo promovido pelo recém-criado Movimento Liberdade, que se define como de direita e liberal e diz ter como objetivo divulgar a pauta conservadora e a educação política aos jovens. Uma motociata também saiu do Sambódromo, foi à cidade de Jundiaí e retornou a São Paulo para se unir aos manifestantes.
Na avenida Paulista, os manifestantes falavam com indignação e incredulidade sobre a tentativa de assassinato contra Trump. Ganhou coro entre o grupo também narrativa difundida em redes bolsonaristas de que veículos de comunicação teriam minimizado o episódio ou inventado que o americano apenas caiu.
Uma mulher reclamava que a mídia disse que “Trump tropeçou”, enquanto distribuía, com uma prancheta, um abaixo-assinado por um projeto de lei que obrigue a contagem manual de votos no Brasil.
Assim como outros organizadores do evento, ela vestia camiseta com a mensagem: “Democracia só com contagem pública dos votos”, repetindo bandeira bolsonarista da eleição de 2022. Outra manifestante usava uma blusa com os rostos de Bolsonaro e Trump. Durante a execução do hino nacional, as bandeiras brasileira e norte-americana foram erguidas.
No caminhão de som, um sósia do presidente argentino Milei comparou o atentado nos EUA à facada contra Bolsonaro em 2018: “Esse é o modus operandi da esquerda. É a morte, é a destruição”, discursou o homem que se identificou como Ademar Meireles, suplente de deputado federal por Santa Catarina pelo PL. Ele terminou com a famosa frase do argentino: “Viva la libertad, carajo”.
O carro foi coberto de placas com os escritos “fora Morais [sic]”. Outro cartaz trazia fotos de ministros do Supremo e pedia “demissão coletiva do STF, compre essa idéia [sic]”, chamando a corte de “inútil e corrupta”. Os manifestantes puxaram coros ainda de “volta, Bolsonaro” e “fora Pachecão, capacho do Xandão”.
Participaram do ato o senador Eduardo Girão (Novo-CE), pré-candidato a prefeito de Fortaleza, e o youtuber português Sérgio Tavares, que ficou conhecido por ser detido no aeroporto de Guarulhos em fevereiro ao desembarcar para ir a ato de Bolsonaro. “Quiseram matar mais um homem de bem”, discursou ele sobre Trump neste domingo.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), um dos únicos nomes de peso do bolsonarismo que anunciou sua presença nas redes sociais, acabou não comparecendo.
Segundo os organizadores, o objetivo do protesto era pedir o impeachment de Lula e de Moraes, além da defesa de pautas como a liberdade de expressão e a anistia aos presos políticos dos ataques golpistas de 8 de janeiro, e de se manifestar contra o aborto e o que chamam de perseguição a Bolsonaro.
Em comunicado, eles pediram que não fossem levadas faixas que pedissem fechamento de instituições, golpe de Estado ou intervenção militar, que ofendessem a honra e a dignidade de pessoas e que propusessem soluções violentas ou ilícitas.
O ato terminou com uma breve confusão por causa do trânsito. Segundo policiais militares no local, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) liberou o trânsito na avenida antes do previsto, e alguns carros ficaram “presos” no meio da manifestação. Dois homens discutiram, e um chegou a dar socos no outro, mas a briga foi rapidamente apartada e os carros saíram de ré com auxílio da PM.
Júlia Barbon/Folhapress