26 novembro 2024
Dilema familiar
Candidata predileta de ACM Neto (União) na disputa por uma vaga na Câmara Municipal de Salvador, a vereadora Roberta Caíres (PDT) provocou um certo mal-estar entre aliados na capital ao tentar explicar o apoio da mãe, a missionária Gorete Caires, à pré-candidatura da deputada estadual Cláudia Oliveira (PSD) à Prefeitura de Porto Seguro. Gorete, tida como uma liderança evangélica no município da Costa do Descobrimento, estará no mesmo palanque do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Palanques opostos
Na maior cidade do Extremo-Sul, onde Roberta morou por anos e chegou a ser candidata a prefeita, ACM Neto pretende apoiar a reeleição do prefeito Jânio Natal (PL) ou o postulante do PSDB, o empresário Luigi Rotunno. Ou seja, num município estratégico para a oposição a Jerônimo, a vereadora não assegurou a fidelidade da própria família ao grupo do principal padrinho político na capital, que ainda é visto como o único que pode garantir a reeleição da pedetista.
Munição aos ínvidos
O dilema familiar de Roberta Caíres virou munição entre os vereadores da base do prefeito Bruno Reis (União), já enciumados com o apoio velado de secretários e dirigentes do Executivo municipal à vereadora do PDT em áreas como educação e assistência social. “Ao longo de quase quatro anos, ela, sempre ausente, nunca cuidou das próprias bases. Agora, precisa mais do que nunca da ajuda para se eleger, enquanto a maioria de nós nem sempre é atendida como deveria”, protestou um ínvido edil.
Alvo no Subúrbio
Outro que tem sido alvo da ira dos vereadores da base de Bruno Reis é o prefeito-bairro do Subúrbio, Afonso Rocha. Ele é acusado de trabalhar exclusivamente para favorecer a pré-candidatura de Marcelinho Guimarães (União), que investe alto na disputa proporcional. Os edis dizem que é normal os prefeitos-bairro trabalharem para eleger alguém, mas articular para “roubar” liderança ou prejudicar aliado não pode. Afonso estaria agindo, inclusive, pelas costas do prefeito.
Trator civilizado
Embora seja considerado um “trator” nas comunidades onde atua, o presidente da Câmara de Salvador, Carlos Muniz (PSDB), tem sido elogiado por membros do bloco de sustentação de Bruno Reis no Legislativo pelo comportamento pré-eleitoral. Ao contrário do hoje vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que não considerou ninguém em 2020, quando concorreu à reeleição como chefe do Poder, Muniz evita a todo custo entrar nas bases de aliados. Com isso, marca pontos para se reeleger presidente.
Sou a Universal
Por outro lado, o vereador Luiz Carlos (Republicanos), que sonha em ser o próximo presidente da Câmara Municipal de Salvador, perdeu influência com os colegas ao utilizar a Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Serin), quando ocupava o posto de chefe, até abril, para priorizar a si próprio e aos edis e pré-candidatos ligados à Igreja Universal. O resultado que é Luiz Carlos pode, sim, ser novamente o vereador mais votado, como foi em 2020, mas o plano de se eleger presidente ficou pelo caminho. Vale lembrar que a Serin segue sob a influência do evangélico.
Luz amarela
Como havia antecipado o Política Livre, o vereador Edvaldo Brito (PSD) não vai disputar a reeleição. Ele e o filho, o deputado Antonio Brito (PSD), irão apoiar a candidatura de Carlos Kleber (PSD), ex-secretário de Habitação da Conder. O sinal amarelo, no entanto, foi ligado. Os Brito identificaram que ao menos cinco pré-candidatos do PSD, na faixa dos mil votos, cogitam desistir da disputa para apoiar aliados de Bruno Reis. Isso pode atrapalhar os planos da sigla de eleger um, pois, sem o carisma de Edvaldo, cai o voto de opinião da legenda.
Mão na massa
Vereadores e dirigentes partidários que apoiam a candidatura de Geraldo Júnior disseram à coluna, ao longo desta semana, que o presidente da Conder, José Trindade (PSB), entrou de vez na campanha para ajudar os candidatos da chapa proporcional com intervenções pontuais em comunidades da cidade. Antes, para quem não lembra, a queixa era de que o órgão estaria fazendo corpo mole. A mudança deu uma injeção de ânimo nas bases de Jerônimo na capital e pode favorecer o emedebista.
Elo vinculante
Por falar em José Trindade, ele apoia a candidatura do ex-chefe de Gabinete da Conder, Humberto Neto, a vereador. O detalhe é que Humberto trocou o PSB pela Rede no prazo de filiações, para facilitar o caminho rumo à Câmara. E a Rede forma uma federação com o Psol, que tem como postulante ao Palácio Thomé de Souza o cientista social Kleber Rosa. Ou seja, Trindade também é visto com excepcional carinho na chapa que diz representar, de fato, a esquerda na capital baiana.
Briga socialista
No PSB, a avaliação é que cinco nomes brigam por duas vagas na Câmara Municipal: o vereador Sílvio Humberto; o vice-presidente estadual da sigla, Rodrigo Hita; o presidente do Sindicado dos Servidores da Prefeitura, Bruno Carinhanha; a liderança de Boa Vista do São Caetano Samuel Nonato; e o cantor, ex-vereador e ex-deputado Igor Kannário, cuja candidatura será confirmada na convenção de Geraldo Júnior. A deputada federal Lídice da Mata, presidente da sigla na Bahia, torce muito por Hita.
Endinheirados e incautos
Embora a Justiça Eleitoral tenha definido o limite de pouco mais de R$ 586 mil para os vereadores gastarem na campanha de Salvador, tem pré-candidatos que estimam torrar até R$ 3 milhões. Há novatos, e gente que tenta retornar ao Legislativo sem ter feito um bom trabalho de base, esbanjando com lideranças pelos bairros da capital e prometendo fazer um esforço gigantesco na reta final. Nesses tempos, o mercado da enganação também opera em alta entre as lideranças, montando armadilhas aos incautos.
Lugar ao sol
Membros da base do governador apontam que Jerônimo finalmente intensificou as articulações visando as eleições de outubro. Até parlamentares do PSD, que andavam criticando o petista, passaram a elogiá-lo. Jerônimo foi decisivo, por exemplo, na articulação para que o deputado federal petista Zé Neto se licenciasse do mandato, resolvendo entraves com o PT e o PSD. Como ninguém é perfeito, o grupo dos chamados novos aliados, formado por deputados do PP, Solidariedade, Podemos e PL, ainda aguarda um lugar ao sol no primeiro escalão.
Regresso de Augustão
Em Ilhéus, por exemplo, uma articulação conduzida por Jerônimo pode tirar o atual vice-prefeito Bebeto (PSB) da chapa liderada pela pré-candidata do PT, Adélia Pinheiro. O governador trabalha para que o vereador Augustão, lançado como pretendente à Prefeitura pelo PDT, seja o vice da petista, se retirando da disputa. Em troca, o governo se empenharia para eleger Bebeto deputado federal ou estadual em 2026. O acordo, se selado, pode tornar Adélia favorita a vencer o pleito. Augustão já foi do PT.
Dormindo com o inimigo
Ainda sobre Ilhéus, a deputada estadual Soane Galvão ficou numa situação delicada com o rompimento do partido dela, o PSB, com o prefeito Mário Alexandre (PSD), com quem é casada. A primeira-dama quer deixar a legenda, mas já soube que, se o fizer, o partido pode pedir o mandato dela na Justiça Eleitoral por infidelidade. Ela já enfrenta um processo na Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico, referente ao pleito de 2022, que pode tirar-lhe o mandato. O prefeito lançou a pré-candidatura do ex-secretário Bento Lima (PSD).
Candidata do coração
Com uma gestão mal avaliada, o prefeito de Jacobina, Tiago Dias (PCdoB), não se ajuda na tarefa de tentar viabilizar a reeleição. No início deste mês, ele se ausentou de uma agenda de Jerônimo na cidade vizinha, Capim Grosso. Chateado com o comunista, o governador se sentiu livre para seguir o coração e fazer um afago na pré-candidata do PSB em Jacobina, a dentista Mariana Oliveira, que deixou o PT para poder concorrer em outubro. Jerônimo chamou a ex-petista para ficar pertinho dele, na frente do palanque.
Previdente
A “Operação Ceres”, do MP baiano, que desbaratou um esquema de corrupção existente no Inema envolvendo funcionários, mostrou que o secretário estadual de Meio Ambiente, Eduardo Sodré, estava certíssimo ao ter dado uma boa mexida no órgão subordinado à pasta assim que a assumiu. Iniciativa de quem tem um pendor especial para a gestão e fareja problemas à distância.
Pitacos
* A federação PSDB/Cidadania realizou, nesta quarta (24), uma convenção em Salvador para adiantar a documentação dos postulantes a vereador. A festa mesmo dos tucanos acontece nesta quinta (25), na oficialização de Bruno Reis como candidato.
* Por falar em PSDB, o agora tucano Adriano Meirelles, ex-vereador e pré-candidato a retornar à Câmara em outubro, promove um evento político no sábado (27), no Subúrbio, com as presenças de Bruno Reis e do secretário de Governo, Cacá Leão (PP).
* Com a desistência de Sérgio Kabrocha (PSD) em concorrer a uma cadeira na Câmara de Salvador este ano, o ex-deputado e ex-vereador Paulo Câmara (PSDB) vai apoiar a candidatura do empresário Rodrigo Amaral (PSDB).
* Aliado de Bruno Reis, embora esteja no PV, partido que fechou com Geraldo Júnior, o vereador André Fraga decidiu: não vai nem à convenção do prefeito e nem na do vice-governador. Quer evitar problemas de ordem legal e política.
* Além de Juazeiro, a federação formada por PT, PCdoB e PV tem que resolver, na reunião desta quinta (25), impasses para a definição de candidaturas em cerca de 20 outros municípios de menor porte.
* O deputado estadual Eures Ribeiro vai colocar no mesmo palanque na eleição para a Prefeitura de Bom Jesus da Lapa o PSD, partido dele, o União Brasil, o Republicanos, o PSB e o PP. Aliança heterogênea para tentar retomar a Prefeitura.
* Pré-candidato do PDT em Itabuna, o médico Isaac Nery disse nesta quarta (24) a aliados que se mantém na disputa, ou seja, não vai aceitar ser vice do deputado estadual Pancadinha (Solidariedade), como quer ACM Neto.
* Em Feira, a aliança do PDT com o União Brasil pode dar xabu. Com a relação azedada por conta de desacertos em grandes cidades, a exemplo de Itabuna, os pedetistas podem deixar José Ronaldo e apoiar Zé Neto.
* Para tentar atrair o MDB, o pré-candidato do PT em Barreiras, Tito Cordeiro, ofereceu entregar, caso eleito, o comando da Secretaria Municipal de Saúde à ex-vereadora Karlúcia Macedo, postulante do MDB. Karlúcia recusou.
* Pré-candidata do MDB em Conceição do Coité, Val divulgou o convite da convenção com Jerônimo e o presidente Lula na foto. O detalhe é que lá o governador ficará neutro, uma vez que o PT também lançou candidato: o ex-prefeito Assis.
Radar do Poder, a coluna de bastidores do Política Livre