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O presidente eleito dos EUA, Donald Trump 24 de novembro de 2024 | 09:20

Trump foi um supercandidato, e Kamala perdeu por fraquezas de Biden, de acordo com analistas

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Com a poeira começando a baixar depois da sólida vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, análises de diferentes matizes ideológicos tentam explicar como foi possível que o ex-presidente, acossado por investigações e fora do poder por quatro anos, vencesse de forma tão convincente.

Trump se tornou o primeiro candidato do Partido Republicano a conquistar o voto popular desde 2004 e levou seus correligionários ao poder tanto no Senado quanto na Câmara, garantindo para si controle total do Legislativo. Além disso, o agora presidente eleito venceu em todos os sete estados-pêndulo.

Para o historiador da Universidade de Cambridge Gary Gerstle e o vice-presidente da Open Society Foundations, Leonard Bernardo, essa demonstração de força, além de erros da campanha do Partido Democrata ou de uma eventual guinada à direita da população americana, pode ter uma explicação simples: Trump é um dos políticos mais eficazes da atualidade.

“Dentre milhares de pesquisas eleitorais antes das eleições, nenhuma conseguiu dizer que Trump venceria em todos os estados-pêndulo”, diz Bernardo. “Ele é o que está se chamando de um supercandidato. Não se tratou de um problema com a democracia americana, mas sim do fato de que Trump representa ideias maiores do que ele. E também não conseguimos prever a enorme vontade dos americanos de explodir tudo. Essa é uma ideia que atrai muita gente”.

Gerstle, por sua vez, afirma que um fator importante, sim, foi a fraqueza da candidatura democrata —mas não por causa de Kamala Harris. “Dadas as circunstâncias, ela fez uma excelente campanha, com alguns erros. Mas ela não tinha tempo de se distanciar de Joe Biden, que era um candidato ruim e pressionado pela inflação”.

Os dois especialistas americanos estiveram no Brasil para um evento organizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em São Paulo, nos últimos dias 21 e 22. Em conversa com a reportagem, concordaram com a ideia de que há uma erosão no apoio à democracia ao redor do mundo que afeta também os EUA.

“Kamala fez uma aposta. Ela apostou que os americanos estariam muito incomodados com o que aconteceu em 6 de janeiro em Washington [a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump]. E ainda estou tentando entender por que a resposta parece ter sido tão indiferente”, diz Gerstle.

“Mas é fato que vivemos em um mundo no qual a confiança na democracia está enfraquecida, no qual as pessoas não acreditam que seja necessário sair às ruas para preservá-la a qualquer custo”, opina o historiador. “E a vitória de Trump inspira autoritários em todo o mundo, como [o ex-presidente Jair] Bolsonaro no Brasil”.

“E por que todas essas figuras reacionárias chegam ao poder? Muito tem a ver com os erros de liberais fracos que se comportam como se tivessem um direito divino de governar”, diz Bernardo, em referência à posição tida como arrogante de figuras do Partido Democrata. “Pode ser nos EUA, pode ser os liberais da Hungria antes da ascensão de [Viktor] Orbán, pode ser os peronistas na Argentina. Eles acham que não precisam se explicar por que estão lutando o bom combate. E é uma pena que esses liberais não tenham refletido [sobre suas derrotas]”.

“Ao fim e ao cabo, o Partido Democrata é uma instituição reformista. E a ideia de que a reforma vai nos tirar da miséria, seja essa miséria real ou não, foi vista como ilusória em comparação com a vontade de explodir as coisas”, analisa Bernardo. O cientista político, porém, ressalta que a posição de Kamala, Biden e do governo sobre a guerra na Faixa de Gaza também foi importante para sua derrota.

“Quase 300 mil árabes-americanos moram no estado do Michigan, e muitos são da opinião de que há um genocídio em curso em Gaza. Mesmo que muitos deles não tenham votado em Trump, a maioria apenas se absteve. E a vice-presidente não estava em condições de se opor à política oficial do governo Biden”.

Victor Lacombe/Folhapress
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