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Presidente de honra do MDB da Bahia, Lúcio Vieira Lima 03 de dezembro de 2024 | 10:48

Entrevista – Lúcio Vieira Lima: “Esse negócio de estar na chapa por ter muitos prefeitos a gente viu na eleição passada”

exclusivas

O MDB mais que dobrou o número de prefeitos eleitos em 2024 depois que voltou ao jogo político estadual desde que conquistou a cadeira de vice-governador e duas secretarias na gestão estadual. Saiu de 15 em 2020 para 32 este ano, incluindo grandes cidades como Juazeiro e Itapetinga. A legenda, porém, não vê o aspecto quantitativo como critério para formação da chapa majoritária de 2026, segundo avalia um dos caciques do MDB, Lúcio Vieira Lima.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Política Livre um dia antes do evento que reuniu prefeitos eleitos em Salvador na última sexta-feira, Lúcio diz que não haverá “caça às bruxas” contra quem não apoiou o governador Jerônimo Rodrigues (PT) em 2022, pelo contrário, haverá um movimento de aproximá-los do petista mirando a reeleição.

Lúcio analisa a possibilidade de retorno do PP à base governista e os rumores de que Elmar Nascimento (União Brasil) também estaria em processo de adesão ao time de Lula e Jerônimo. Ele ainda faz um balanço da performance de Geraldo Júnior (MDB) na eleição em Salvador e chama de “vitória indiscutível” a reeleição do prefeito Bruno Reis (União Brasil) com quase 80% dos votos válidos. “Eu não vou dizer a você que nós esperávamos a vitória porque todo mundo sabia que ela não vinha”.

Leia a entrevista completa:

Vocês conseguiram voltar a governar uma grande cidade da Bahia com a vitória lá em Juazeiro. Com que tamanho o MDB saiu das urnas nessas eleições municipais?

Não só Juazeiro como outras cidades importantes, como Serrinha, Itapetinga, são cidades que são polos regionais. Em termos de municípios nós ganhamos em pequenos, médios e grandes municípios. Nós saímos com mais prefeitos eleitos do que a eleição de 2020, quando saímos das urnas com 15 prefeitos eleitos. Agora nós saímos das urnas com 32 prefeitos eleitos. Então, nós crescemos, saímos das urnas como um dos partidos da base que, em termos de número da população, vai governar para mais baianos. Então, nós estamos bem. Saímos maiores do que nós entramos. Estamos passando por um processo de reconstrução e sempre crescendo. Na eleição anterior a essa nós não tínhamos nenhum deputado federal, saímos com um. Nós entramos na eleição sem nenhum estadual e saímos com dois. Nós saímos com o vice-governador do quarto estado da federação. Então a gente vê realmente um crescimento e que espero continuar assim, sem contar que na eleição passada nós fomos fundamentais para a eleição de Jerônimo.

“Agora eu não vou dizer a você que nós esperávamos a vitória [de Geraldo] porque todo mundo sabia que ela não vinha”.

Depois de muito tempo o MDB voltou a ter um candidato em Salvador, mas acabou ficando em terceiro lugar. Que balanço você faz da candidatura de Geraldo Júnior? Como é que você viu essa vitória de Bruno Reis com quase 80 pontos?

Uma vitória indiscutível que ninguém pode questionar. E era uma vitória que talvez não se esperasse desse tamanho. Mas todo mundo sabia que Bruno tinha o amplo favoritismo. Com Geraldo aconteceu que muita gente disse que uma parte da esquerda não acompanhou Geraldo, mas o mais importante disso é que a base do governo teve uma candidatura, o MDB teve uma candidatura, o que não deixa de ser uma semente para o futuro. Agora eu não vou dizer a você que nós esperávamos a vitória porque todo mundo sabia que ela não vinha. Geraldo foi escolhido pelo governador e pela sua base, pelo seu conselho político. Geraldo era filiado ao MDB, mas ele, na verdade, foi uma candidatura de toda a base.

Você acha que teve traição da base? Até considerando a votação de Kleber Rosa?

“Traição é um termo que eu não uso nunca. Nem na minha vida privada, muito menos na política. Eu acho que houve por parte de muitos da base a escolha de uma outra opção, mas não traição. Porque é um termo muito forte, que eu nunca uso.

“Ele [Kleber Rosa] não disse, por exemplo, que não ia apoiar Jerônimo porque via no vice-governador um homem de direita”.

Mas não foi essa mesma base que escolheu Geraldo? O que mudou no percurso?

Mudou porque achou que em algum momento…esse é um dos questionamentos, quer dizer…Geraldo para ser vice-governador da base foi anunciadíssimo, foi tido como decisivo, levou alegria à chapa, ficou aqui com a coordenação de Salvador para Jerônimo poder se dedicar ao interior. No entanto, por interesses que não cabe a mim aqui discutir, porque o que eu falo é sobre o resultado final, o que levou a isso não adianta porque aí é questão de foro íntimo de cada um. Então, o Geraldo que para vice-governador acrescentou muito, era bom, era bacana, tirando fotos, inclusive, com o próprio candidato do PSOL quando foi aderir no segundo turno a Jerônimo. Ele não disse, por exemplo, que não ia apoiar Jerônimo porque via no vice-governador um homem de direita. Mas isso é típico do jogo político. Quem quiser reclamar disso, não tem que entrar na política, porque sempre vai ter.

“E aí logicamente o MDB vai fazer esse trabalho sim, esse meio de campo, essa ligação [dos prefeitos com Jerônimo], até porque o objetivo não é fazer nenhuma caça às bruxas, nós não expulsamos ninguém. O objetivo é fortalecer o MDB”

Como é que vai ser essa relação dos prefeitos do MDB que não marcharam com Jerônimo em 2022? O partido vai fazer essa aproximação? Temos como exemplos Reinaldinho, de Xique-Xique, e Rodrigo Hagge, de Itapetinga, este último, inclusive, já foi até ventilado para compor chapa majoritária com ACM Neto em 2026.

Isso aí é uma demonstração do desespero do ex-prefeito de Salvador, mostra que ele não tem nem quadros para formar uma chapa. É a mesma dificuldade quando ele desistiu de concorrer, onde formou uma chapa do Zé Ronaldo, foi o Jutahy Magalhães, irmão Lázaro. A mesma dificuldade ele teria agora. E se tiver essa defecção de Elmar, mais ainda. Porque enquanto a base do governo tem partidos políticos que representam grupos políticos certos, os partidos políticos que estão lá normalmente são como Adão e Eva, feitos da mesma costela. Tanto é que você vê, quando diz ‘ah, partido tal, o prefeito assumiu e indicou seu chefe de gabinete para presidente’, ou seja, eles ficam normalmente apenas com o arcabouço do partido, não tem muita coisa. Diferentemente do lado de cá que você tem o PT, aí você tem a esquerda que tem o PCdoB, o PSB, já são dois agrupamentos políticos, você tem o PSD de Otto, tem o MDB, você tem hoje o Avante, você vê que hoje a discussão maior é como será a formação da chapa da base de Jerônimo. Porque você tem muitos partidos fortes e com representatividade, enquanto do outro lado quem é que você pode citar? Até um partido que é mais forte, que é o PP, ele está todo dividido com os seus deputados já fazendo parte da base do governo e negociando para vir de vez para cá o partido inteiro. Então essa é uma grande dificuldade do adversário em apresentar a sua candidatura. Agora, a questão dos prefeitos que ficaram contra Jerônimo, muitos ficaram por uma questão local que hoje já não existe mais. Até aqueles que você possa dizer que ficaram com Neto por achar que Neto apresentava-se na frente da pesquisa e vendia uma expectativa de vitória, até aqueles que eventualmente ficaram, não só do MDB, mas de outros partidos, com o interesse de apostar no cavalo vencedor, esse cavalo quebrou a perna e para o próximo grande prêmio, se disputar a eleição, vai disputar mancando. Nem a expectativa de vitória tem para atrair. E, lógico, que estar no partido da base facilita o caminho para apoiar Jerônimo. Essa é a importância de estar num partido da base. E aí logicamente o MDB vai fazer esse trabalho sim, esse meio de campo, essa ligação até porque o objetivo não é fazer nenhuma caça às bruxas, nós não expulsamos ninguém. O objetivo é fortalecer o MDB para ele, que tanto contribuiu com a eleição de Jerônimo, a ponto de ocupar a posição de vice-governador, se fortaleça e seja mais importante nessa eleição 26.

“Eu não vou fazer como eu vejo muitos fazerem de escalar a chapa”

O MDB já tem uma posição formada sobre 26? Tem interesse em continuar na vice? Isso já está consolidado dentro do partido? Geraldo é esse nome?

Logicamente que se o partido ocupa uma posição hoje ele quer ao menos manter essa posição. Não tenha dúvida que isso está consolidado dentro do partido. Agora eu não vou fazer como eu vejo muitos fazerem de escalar a chapa. Primeiro que 2026 é em 2026, segundo que a chapa depende muito do candidato a governador. E terceiro que que cada um tem que mostrar o porquê de estar presente na chapa. Da mesma forma que nós na eleição passada, mesmo sem ter deputado federal, deputado estadual, mas nós tínhamos a força partidária, a força da legenda que era importante, e nós conquistamos o cargo de vice-governador, então eu acho que cabe a cada partido se estruturar e mostrar que é útil para a vitória de Jerônimo. Ser útil não é simplesmente com número de prefeitos, o que seja, é o que esse partido representa de ganho político para estar presente numa chapa. Volto a dizer, na eleição passada quando disputamos a vice nós tínhamos apenas 12 prefeitos, não tínhamos deputado estadual, não tínhamos deputado federal, mas naquele momento a força política do MDB representava a decisão da eleição. Por isso que Wagner na sabedoria que todo mundo diz, conhece ele como o bruxo da política, o mago da política, foi nos buscar, fez a conversa e nós ganhamos a eleição.

“O PP dizia que tinha muitos prefeitos, quando chegou na hora de decidir, os prefeitos apoiaram Jerônimo”.

Na semana passada o governador colocou o Avante como um partido que tem condição de pleitear um espaço na majoritária em 2026. Como é que você está vendo esse movimento? Isso pode estremecer a negociação da majoritária?

Não, de forma nenhuma, eu também concordo com o governador. Pleitear é um direito de todo mundo. Não sei se você se lembra, quando Geddel foi candidato ao governo em 2010, o próprio PT dizia que Wagner era o candidato natural, que tinha o direito à reeleição. Essa foi a maior crítica que Geddel sofreu. Não foi desrespeitando isso que ele foi candidato, mas isso já faz tempo, não adianta debater agora. Esse é o discurso de Jaques Wagner, que ele tem direito à reeleição, esse é o discurso do PSD de Coronel, de que tem direito à reeleição. Então logicamente nesse primeiro critério, o MDB também tem direito à reeleição ao cargo de vice na chapa. O resto é pesar que todo mundo tem direito a postular, mas na hora de decidir vai decidir o que for melhor para ganhar a eleição. Esse negócio de ter muitos prefeitos e que merece estar na chapa, a gente viu esse filme na eleição passada. O PP dizia que tinha muitos prefeitos, quando chegou na hora de decidir, os prefeitos apoiaram Jerônimo e não seguiram a liderança do PP. Por isso que eu digo, o que decide é a força política global, não é o número de deputados, não é o número de prefeitos. Se você pegar hoje o PP, que está lá com o ex-prefeito, ele tem deputados estaduais etc, então você vai dizer que é forte porque tem tantos todos os deputados, mas não estão com o ex-prefeito ACM Neto, estão cá no governo. Então não é não é assim dessa forma. Você tem a política nacional, como é que vai ser a composição? Você sabe que tem uma ligação da eleição nacional com a estadual. O que é que acrescenta nacionalmente esses partidos dentro da eleição nacional?

“Agora como vai se dar essa incorporação [do PP] na base de Jerônimo é que tem que ter habilidade para que não seja traumática para a base existente”.

E por falar em PP, como é que você recebe essa possibilidade de retorno oficial do partido à base, considerando sobretudo a forma como saiu?

Rapaz, veja bem, o governador é Jerônimo Rodrigues, quem tem que ver a conveniência ou não é Jerônimo Rodrigues. Eu acho que o PP é um grande partido, tem grandes deputados tanto estadual como federal, o PP é uma força nacional, ninguém discute isso. Agora como vai se dar essa incorporação na base de Jerônimo é que tem que ter habilidade para que não seja traumática para a base existente. E isso quem tem que julgar é o governador Jerônimo, a forma que vai ser quem vai dizer é o governador Jerônimo, não é nenhum outro partido.

“Eu acho que para se mudar uma posição, você tem que disputar a eleição. Quem ficou contra Jerônimo, contra Lula tem que, na próxima eleição, subir no palanque e dizer que agora ele viu que Jerônimo é Lula é melhor. E aí o povo vai julgar essa mudança de posição”.

E sobre essas notícias de Elmar Nascimento se aproximando do time de Lula lá em cima e aqui também com o governador Jerônimo Rodrigues?

Olhe, isso eu estou vendo com uma naturalidade que não deveria existir. Eu sou do tempo que quem ganha governa, quem perde é oposição. Hoje se acabou isso. Hoje você disputa uma eleição defendendo ideias diferentes e depois que a pessoa ganha quem perdeu quer vir para o governo. Eu acho que isso é uma preocupação que toda a classe política deve ter, porque você não cria partidos fortes, você não cria novas lideranças, termina sendo a política no pragmatismo, o que é péssimo, o que é ruim, começa a faltar compromisso. Então, eu vejo com naturalidade como a política está se dando, naturalidade em função disso. É uma coisa natural, mas não é uma coisa boa, porque não respeita a vontade do povo. Quando você vai às urnas o povo vai votar em você, você defendendo tal projeto. Então quando você depois muda, você termina cometendo uma espécie de estelionato eleitoral. Eu acho que para se mudar uma posição, você tem que disputar a eleição. Quem ficou contra Jerônimo, contra Lula tem que, na próxima eleição, subir no palanque e dizer que agora ele viu que Jerônimo é Lula é melhor. E aí o povo vai julgar essa mudança de posição dele e elegê-lo ou não. E aí ele está na base vitoriosa. Mas, vindo das urnas a decisão. Você se eleger com discurso, mudar de posição, eu acho que não é uma política razoável, pode ser uma política pragmática, mas uma política razoável não me parece ser.

Você está acompanhando essa disputa entre Rui e Wagner por ocupação de passes no governo?

Veja bem, aí é uma coisa que não cabe a mim opinar porque isso é uma coisa da família petista, é a história de cada um. É a mesma coisa se alguém perguntar a você o que acha de uma eventual disputa entre Lúcio e Geddel dentro do MDB. A gente ouve muito boato, coisa pela imprensa, mas eu nunca vi nenhuma agressão de Rui a Wagner, pelo contrário. Se houver disputa por espaço, é disputa política, afinal de contas quem ocupa mais espaço de fato está mais forte. E o político que cresce é o político que tem a força. Mas eu não vejo como uma briga, como um desentendimento fatal entre as duas fortes lideranças do PT. Volto a dizer, eu não tenho elementos, o caso que eu tenho é baseado em fofoca, baseado em disse me disse, baseado em história. A não ser que eu vá pela pela teoria que não gosto, mas tem muita gente gosta, daquele ditado popular que diz que onde há fumaça há fogo.

“Se não tiver nenhuma restrição por parte do governador, o MDB está satisfeito com o desempenho dos que foram indicados”.

Com relação à reforma do secretariado, o MDB vai propor alguma alteração de nome dos espaços que já ocupa?

A primeira coisa que tem que se ver é a satisfação ou não do governador com os ocupantes dos cargos. Nós temos o espaço, é do MDB, agora a indicação depende do governador, mas como ele não chamou para discutir ou não posso saber. Mas se não tiver nenhuma restrição por parte do governador, o MDB está satisfeito com o desempenho dos que foram indicados.

Sobre a presidência da UPB, o partido vai fechar questão em torno de alguma candidatura ou vai liberar os prefeitos?

Veja bem, esse é um posicionamento que nós temos claro, a UPB é um assunto dos prefeitos. Logicamente temos um candidato, que é Beto Pinto [prefeito de Medeiros Neto], que faz a articulação dele. Agora eu sou contra qualquer partido ir a ponto de dizer que o prefeito tem que apoiar esse ou aquele candidato. Eu acho que os prefeitos têm que conversar e é lógico que os prefeitos do MDB podem na conversa dizer eu gostaria de ouvir a posição do meu partido, assim como os de outros partidos da mesma forma. Mas basicamente é uma eleição cujos eleitores são os prefeitos, é a mesma coisa de uma eleição na Câmara, na Assembleia, os eleitores são os deputados, são os vereadores. Em toda eleição a opinião dos eleitores é soberana.

O governo Lula está te agradando?

Logo de saída o governo Lula agrada demais até porque o comparativo é com seu antecessor, que era um governo péssimo. Então, Lula até parado, comparado com o outro já é melhor. Principalmente no que diz respeito à liberdade, ao relacionamento com a imprensa, a recuperação da credibilidade internacional, e com isso recuperando investimentos para o país. Veja agora o cumprimento de promessas de campanha, hoje por exemplo, ele anunciou a questão da isenção do imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais por mês, isso foi uma promessa de campanha. Então quando a gente vê um candidato que cumpre as promessas feitas no palanque, você fica satisfeito porque você pensa, eu posso votar nele pelo programa que ele propõe e você sabe que ele vai cumprir. Então, se você vai falar que você está cem por cento satisfeito… ora, eu não estou cem por cento satisfeito porque não tem cem por cento do mandato dele. Então eu não posso querer que, no mandato que ele foi eleito para quatro anos, em dois eu esteja cem por cento satisfeito. Mas no caminhar que vai, quando chegar no final do seu mandato, se não tiver cem por cento, que logicamente a unanimidade é impossível, eu vou estar entre oitenta a noventa por cento satisfeito e vamos partir para a reeleição, tanto dele quanto de Jerônimo.

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