24 junho 2025
A vereadora Eliete Paraguassu (PSOL) acusou o vereador Cláudio Tinoco (União) de racismo em sessão plenária ocorrida na tarde desta segunda-feira (26) na Câmara Municipal de Salvador. Ela afirmou que foi vítima de violência verbal patrocinada pelo colega na última quinta-feira (22), durante a invasão da Casa por sindicalistas e manifestantes que protestaram de forma violenta contra o projeto enviado pelo Palácio Thomé de Souza de reajuste salarial do funcionalismo.
Tinoco, que presidiu a maior parte da sessão de hoje, transcorrida com debates acalorados marcados por acusações mútuas em função do episódio de quinta, ameaçou acionar disciplinarmente a parlamentar para que prove as acusações.
Eliete afirmou que sofreu violência na sala reservada em que os vereadores votaram o projeto de reajuste após a invasão do plenário, que segue funcionando de forma improvisada no Centro Cultural depois do incêndio que ocorreu no prédio principal. “Tinoco, ele chateado e nervoso naquele momento, disse: vereadora, o seu lugar não é aqui, seu lugar é lá na rua, com seu povo”, denunciou a edil.
“Não tenho medo de falar quando sou violentada verbalmente. Isso é racismo, quando dizem a uma vereadora eleita que este não é o lugar dela. É meu sim, tem de estar sendo ocupado por mim”, acrescentou. Eliete disse, ainda, que foi acusada por Tinoco de ser responsável pela invasão da Casa na quinta.
Alegando a defesa do rito parlamentar, Tinoco pediu que Eliete registrasse uma ação disciplinar contra ele. “Se a senhora não o fizer, eu farei (contra ela)”, frisou o vereador do União Brasil. Depois, o vereador do União Brasil pediu que Eliete ficasse calma, e afirmou que o vereador Hamilton Assis (PSOL) tinha solicitado o mesmo ao tocá-la no ombro. A fala elevou ainda mais a temperatura, pois Hamilton respondeu, gritando fora do microfone, que a colega não recebia ordens dele, mas que era apenas liderada.
Sobre o episódio de quinta, Tinoco disse que havia apenas pedido aos dois vereadores do PSOL que tentassem “construir uma ponte” com as lideranças do partido que estavam ao lado dos sindicalistas e manifestantes, a exemplo do deputado estadual Hilton Coelho e do professor Kleber Rosa, que foi candidato a prefeito de Salvador em 2024.
Clima quente
A sessão de hoje também foi marcada por um discurso da vereadora Marcelle Moraes (União). Ela afirmou que havia um vereador de máscara na sala reservada dos edis, na quinta, que deixou o recinto antes dos demais porque alegava estar doente, mas logo se colocou ao lado dos manifestantes. Marcelle se referiu indiretamente a Hamilton Assis.
“O vereador não atendeu ao pedido do vereador Daniel Alves (PSDB) para que todos saíssem juntos da sala, por uma questão de segurança. Ele saiu antes porque disse que estava se sentindo mal. Foi para o plenário, tirou a máscara e ficou lá por mais de 30 minutos dando entrevistas. Depois, ficou até tarde da noite na delegacia (ao lado dos manifestantes detidos). Afinal de contas, o voto vale mais do que o caráter”, disse Marcelle.
Hamilton se pronunciou no plenário. Ele afirmou que só chegou à Câmara na quinta quando a invasão já tinha ocorrido, ao ser informado do problema enquanto defendia uma tese de mestrado. O edil frisou que sempre atuou para mediar conflitos sindicais e responsabilizou o prefeito Bruno Reis (União) pelo episódio. “A Prefeitura, ao escolher o caminho de colocar nas mãos desta Casa o projeto de reajuste, sem dialogar com as categorias, premeditou o que ocorreu. Fez um pacotão sem debater com as categorias. Eu me retirei da sala (dos vereadores) porque meu compromisso é com o povo, que tem sido colocado debaixo do chinelo nesta cidade”.
Punição aos responsáveis
O presidente da Câmara, vereador Carlos Muniz (PSDB), que abriu a sessão de hoje, garantiu, em conversas com jornalistas, que servidores da Casa e até vereadores serão punidos se ficar comprovado o envolvimento nos atos de quinta-feira. “Se houve participação de vandalismo, qualquer que seja a pessoa, ela tem que pagar pelo erro que cometeu”, pontuou. Já há quem defenda, nos bastidores, a criação de uma comissão para apurar a condução de Hamilton Assis.
Ainda segundo Muniz, uma comissão foi formada para analisar os vídeos das câmeras de segurança e identificar todos os envolvidos no episódio. O tucano criticou a “contaminação” da Casa pela antecipação do ambiente eleitoral de 2026. “Quando o povo vota em você, confia que ali tem um representante que vai fazer algo pensando nele. A campanha está distante, temos que resolver questões urgentes como saúde, educação e a ameaça de greve no transporte público”.
Líder do governo, Kiki Bispo (União) acusou Hilton Coelho e o diretor licenciado do Sindicato dos Servidores da Prefeitura do Salvador, Bruno Carinhanha, que foi preso na quinta, de estimularem os atos de violência, que resultaram na agressão de dois vereadores: Sidninho (PP) e Maurício Trindade (União). Kiki chegou a comparar o ocorrido na Câmara com os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, em Brasília. “Não podemos deixar isso barato e vamos apurar rigorosamente”.
Já a líder da oposição, vereadora Aladilce Souza (PCdoB), responsabilizou Bruno Reis pela invasão, que foi condenada por ela, apontando que o prefeito interrompeu as negociações com os servidores ao articular a aprovação urgente do projeto na Câmara. Além disso, ela apontou a existência de pessoas estranhas e até colaboradores do Executivo municipal na Casa na quinta.
“Tinham pessoas que entraram pela garagem dos vereadores. Eu e vereadoras da oposição fomos acuadas por gente que entrou até com spray de pimenta. Gente de Prefeitura-Bairro. Tem áudio dizendo que veio para cá para participar da manifestação contra professor, com promessa de serem pagos. É um caldeirão de coisas que não deveria estar acontecendo aqui”, lamentou a comunista.
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