Foto: Lula Marques/Agência Brasil/Arquivo
O ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha 27 de maio de 2025 | 17:00

Ex-Abin diz ao STF ter enviado alertas ao governo Lula sobre intenção de invasão de prédios no 8/1

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O ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha afirmou ter enviado alertas, entre 2 e 8 de janeiro, sobre uma movimentação atípica de pessoas chegando a Brasília às vésperas da depredação das sedes dos três Poderes, com discursos extremistas, inclusive ao governo de transição e ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Ele foi ouvido no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (27) como testemunha indicada pela defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal em janeiro de 2023, no processo da trama golpista.

“Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes, com acesso a armas e intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios na Esplanada dos Ministérios também poderiam ser alvo de ações violentas. Esse alerta foi emitido”, afirmou.

O oficial de inteligência já havia prestado depoimento sobre o caso à CPI do 8 de janeiro, em agosto de 2023. Na ocasião, afirmou ter omitido do Congresso os alertas que havia enviado ao ex-ministro do GSI Gonçalves Dias por ordem do próprio então chefe do gabinete vinculado à Presidência.

Moura disse que, no dia 8 de janeiro, comunicou GDias da chegada de cerca de cem ônibus a Brasília por volta das 8h. Segundo o ex-chefe da Abin, o general respondeu “Acho que vamos ter problemas”.

“O nosso primeiro alerta do dia 8 pela manhã é de que a manifestação já ganhava porte. Cem ônibus já são quase 5 mil pessoas. Juntadas aos manifestantes nós teríamos aí já uma manifestação grande”, disse nesta terça.

O jornal Folha de S.Paulo mostrou em abril que a Abin enviou desde 6 de janeiro alertas a Gonçalves Dias e ao Ministério da Justiça, então sob o comando de Flávio Dino, sobre a possibilidade de ações violentas e invasão a prédios públicos.

Esses documentos foram enviados pela Abin à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional no dia 20 de janeiro.

O ex-diretor de inteligência adjunto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Djairlon Henrique Moura também foi ouvido. Ele negou o direcionamento de operações aos estados do Nordeste. No mesmo depoimento, ele também afirmou que houve pedido de fiscalização sobre ônibus saídos de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro com direção à região.

Djairlon Henrique Moura está entre os indiciados pela Polícia Federal pela suspeita de dificultar o deslocamento de eleitores de Lula (PT) nas eleições de 2022 com a realização de blitze durante o segundo turno.

“De forma alguma [houve direcionamento]. Outro assunto que houve na reunião foi um pedido de apoio entre as instituições entre a PRF e a PF naqueles locais onde a PF teria dificuldade de chegar rapidamente. A equipe que estivesse mais próxima poderia evoluir para aquele local até que a PF chegasse. Isso por todo o Brasil. Não houve direcionamento por região”, disse.

O relator do caso, Alexandre de Moraes, voltou ao tema no fim do depoimento. “Há algumas contradições. Ele disse que o pedido para o país todo, mas há uma testemunha que disse que ele solicitou um apoio específico”, disse o ministro.

O delegado então respondeu que não foi à reunião em que este pedido foi feito, mas confirmou a demanda do ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques. De acordo com ele, a partir daí foi formatada a operação entre os dias 21 e 27 de outubro para fiscalizar transporte irregular de passageiros e de dinheiro que configurariam crime eleitoral, mas que teria ocorrido antes do segundo turno.

Ana Pompeu/Folhapress
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