25 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Acho que já comentei, aqui nestes textos de quinta (que às vezes saem na sexta), sobre minha surpresa com o silêncio que se abate sobre a questão da eficiência (ou da produtividade) sempre que a qualidade do serviço público é questionada. A alternativa preferida pela maioria dos políticos tem sido o do aumento dos recursos via impostos. O problema é que essa combinação de ineficiência e tributação é uma praga pior do que aquelas que se abateram sobre o Egito nos tempos de Moisés. Colocar dinheiro novo sobre ações e processos que funcionam em padrão sub ótimo equivale a queimar recursos escassos que poderiam ser utilizados para expandir e melhorar da qualidade do serviço. E os exemplos abundam.
Na semana passada entrei em uma nova farmácia que havia acabado de ser inaugurada no Apipema, agora são três, uma do lado da outra. Não queria comprar nenhum remédio, apenas parei por curiosidade. É que ao longo dos últimos meses passei algumas vezes pelo local e tive a oportunidade de ver a casa original ser demolida, o terreno ser limpo, uma nova construção ser posta no lugar e as instalações serem arrumadas. O que de fato chamou minha atenção foi que a farmácia ficou pronta no mês de Maio e as portas somente foram abertas em Julho! Várias vezes ao passar pelo local vi, pela porta semicerrada, as prateleiras arrumadas e os funcionários cuidando da loja sem poder atender aos possíveis clientes. Esta semana com as portas finalmente abertas não resisti e parei para perguntar a causa da demora. A funcionária com quem falei foi ao ponto rapidamente: faltava o habite-se.
Não conheço os detalhes do processo, nem sei das particularidades da situação específica o que, aliás, não tem a mínima importância. Isso seria relevante se este fosse um caso isolado, mas as evidências apontam para uma situação muito comum e generalizada deixando claro o grande descompasso entre o tempo no qual o poder público e a iniciativa privada operam. Para aqueles que ainda não estão convencidos basta lembrar o caso da Renova, empresa de geração de energia eólica que tem um parque instalado em Caetité, no sul do estado, que está pronto, mas não funciona, pois as linhas de transmissão ainda não chegaram ao local. Da mesma forma que na situação da farmácia pouca importa se a culpa é do IPHAN, do IMA, da CGU, do TCU ou do aquecimento global. O fato é que não chegaram. É por causa de exemplos como estes que precisamos insistir tanto, e tão frequentemente, na questão da eficiência do setor público.
De ineficiência em ineficiência o tal do custo Brasil aumenta e as distorções vão se acumulando. A consequência mais visível dessa dinâmica perversa é que pagamos muito caro por tudo aquilo que consumimos e nossa qualidade de vida está em um padrão abaixo do que desejamos. O caminho é gastar melhor e não gastar mais. Entretanto, do jeito que as coisas vão acho que só pedindo ao Papa Francisco que ore nós.