25 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico define corrupção como a utilização da função privada ou pública para obtenção de ganhos pessoais. Assim, corrupção é um termo abrangente que engloba ações distintas tais como suborno, desvio de recursos, nepotismo e captura (aparelhamento) do Estado. Ela costuma vir associada a outros ilícitos igualmente graves, tais como lavagem de dinheiro, fraude e fixação de resultados em licitações, mas isso não é uma condição necessária.
Independentemente da forma como a definimos, o fato é que a corrupção tem um custo social tão elevado, mas tão elevado, que talvez não seja exagero considerar este como o principal mal a ser combatido na sociedade contemporânea. Grosso modo, é possível pensar em quatro razões principais que justificam a luta contra a corrupção.
Primeiro, a corrupção aumenta os custos de transação necessários à realização dos negócios. Empresas que operam em um contexto corrupto precisam molhar a mão do fiscal, pagar o despachante, ter acesso a informação privilegiada, financiar a campanha do político, manter a rede de amigos e favores gerando custos que, inevitavelmente, serão repassados para o preço dos produtos ou serviços, sendo a conta paga pelo cidadão. A corrupção distorce as relações do mercado.
Segundo, a corrupção leva ao desperdício e ao uso ineficiente de recursos públicos. É aqui que incluímos coisas como a conta do metrô de Salvador, por exemplo, aquele de vai do nada ao lugar nenhum, que já custa o triplo do planejado e que ainda precisa de muito mais dinheiro antes que venha a servir para alguma coisa. Não é incomum que tenhamos que pagar duas ou três vezes pela mesma coisa.
Terceiro, a corrupção exclui os mais pobres do acesso aos serviços do Estado e perpetua a pobreza. Normalmente, os pobres não tem o acesso privilegiado àquelas pessoas que estão em posição de influenciar resultados e propiciar favores. Assim, são os ricos e poderosos os que mais se beneficiam da corrupção reduzindo a possibilidade de sucesso dos indivíduos em função do esforço individual. Aos demais, sobra o fardo de bancar os custos de um serviço ruim. Por exemplo, se você for deputado ou magistrado, você e toda sua família terão acesso ao Sírio Libanês ou ao Einstein. Já se você for uma “pessoa comum”, pague seu plano de saúde ou entre na fila do SUS para ser (mal) atendido daqui a uns meses.
Quarto, a corrupção corrói a confiança pública, solapa as bases do Estado de Direito e deslegitima a ação do Estado. Aqui os exemplos abundam!!! Vou deixar que essa parte seja explicada pelos nossos nobres governantes e por suas excelências, os ministros do Supremo….
O problema é que estamos tão acostumados com a corrupção que não mais percebemos como ela está enraizada em nosso cotidiano, como ela manifesta em pequenas coisas. Parece que a corrupção entranhou nosso DNA atendendo pela alcunha de “jeitinho brasileiro”, tão louvado e cantado em verso e prosa por expressivo número de nossos intelectuais e artistas. Por acaso não é isso que dizem os locutores esportivos quando um jogador brasileiro encena uma falta quando jogamos com times europeus, normalmente considerados secos e inflexíveis? Não estaria isso implícito na nossa proverbial “alegria e espontaneidade” que em última análise expressam uma absurda dificuldade de seguir regras preestabelecidas já que cada um pode fazer o que quiser e danem-se os outros?
Ou seja, é possível que o país seja tão corrupto sem que nós mesmos sejamos corruptos? Não precisa responder, a pergunta é meramente retórica.