João Carlos Bacelar

Educação

João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.

Topa tudo?

Ainda sobre o Ministro da Propaganda de Hitler: “uma mentira repetida milhões de vezes vira verdade”. Goebbles, senhor de absoluta razão ao proferir a célebre frase, na década de 1930. Mas, de cá, do outro lado da realidade em preto e branco, quase um século depois, podemos avaliar a bem produzida propaganda do governo do estado que anuncia na telinha, nos jornais e na revista Bahia, Terra de Todos nós o espetaculoso número de mais de 1 milhão de pessoas alfabetizadas pelo Topa- Todos pela Alfabetização, braço do projeto federal para reduzir a grande população de jovens e adultos que não sabem ler e escrever.

De acordo com a última contagem do IBGE mais 300 mil brasileiros e brasileiras engrossaram a fileira de analfabetos no país. E é no Nordeste onde está mais da metade desse contingente. Uma triste constatação mas que seguramente nos aponta uma direção: é preciso mudar. Escolher novos caminhos, diferentes diretrizes, reinventar a vontade política para executar programas e divulgar resultados reais, como estes que não escondem o crescimento do número de analfabetos no país.

A quantidade estampada na página 78 da Revista citada acima faz-nos acreditar em um cenário perfeito e sonhado pelo educador Paulo Freire. Partindo do princípio de que a Bahia possui um imenso território e que não deve ser fácil reunir as coordenações para acompanhar as ações pedagógicas do programa, a pergunta é simples: como anunciar mais de 1 milhão de alfabetizados em seis anos se é sabido que a evasão escolar desse público estudantil é de quase 90%?

Também sabemos que a divulgação do alto número de jovens acima de 15 anos de idade, adultos e idosos, aliada à parceria firmada com um instituto de proficiência asseguram grande visibilidade ao programa mas a sociedade não pode viver fundamentada e limitada pela propaganda. O efeito não dura pra sempre. Na vida real tudo é mais difícil. O estudante não é boneco de videogame ou desenho animado. É gente com todas emoções, expectativas e necessidades.

Criar condições efetivas para inclusão social, política, educacional e cultural é, de fato, cuidar das pessoas. O ingresso e a permanência na escola devem fazer parte de um sonho a ser perseguido pelos governantes; checar dados estatísticos produzidos pela própria equipe exige obstinação em transformar a realidade dos cidadãos.

Portanto, a desconfiança é a melhor bússola para se encontrar o caminho. Não esqueçamos, por exemplo, que uma escola estadual que funciona no Jardim Santo Inácio, em Salvador, – a 29 de Março- foi a pior do Brasil na comparação com outras 30.841 escolas analisadas para elaboração do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Segundo a Secretaria Estadual de Educação houve um erro na transmissão de dados para o sistema do MEC, o que gerou um indicador que não corresponde à verdade. No entanto, o Ministério da Educação não se posicionou sobre o assunto e ainda estamos aqui sem saber exatamente o que aconteceu. Ou seja, pra muitos, talvez o melhor – e mais fácil – seja acreditar no perfeito, sem rugas nem arranhões. Mas, a realidade, sim, essa é bem diferente e não esconde as imperfeições qual um programa de Photoshop.

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