23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
O aumento da violência contra os jovens negros tem provocado um debate ainda silencioso sobre suas causas e possíveis soluções. Os dados divulgados reverberam de forma assustadora. Entre 2002 e 2010 quase 35 mil jovens negros foram assassinados em um país onde aparentemente não há enfrentamentos étnicos, raciais, religiosos, de fronteiras ou políticos. Na Bahia, onde a maioria da população é afrodescendente foram 5 mil mortos no período, um aumento de mais de 300%. O Brasil está no topo em se tratando de homicídios de negros entre 15 e 29 anos de idade.
As políticas de reparação e segurança pública falharam. Resta agora uma redefinicão de estratégias na Bahia e no Brasil para reverter o quadro de genocídio da população negra; números de mortos que se assemelham aos de uma guerra.
Sabemos da existência da Secretaria Nacional da Juventude da Presidência da República mas não conhecemos os resultados de suas ações; é crucial que as políticas dirigidas aos jovens sejam discutidas e implantadas de forma rápida pois a violência cresce avassaladoramente, não espera que nos organizemos. Ao contrário. Sem alternativas de qualificação profissional e sem ter conquistado uma educação de qualidade, rapazes e moças negros têm alargado as estatísticas.
De maneira passiva, testemunhamos no Brasil, os direitos humanos sistematicamente serem afrontados pela violência e insegurança, em evidente desrespeito aos direitos de liberdade e igualdade. Pensamos cada vez mais que o Plano Nacional de Educação deve estabelecer metas claras para garantir que o ensino público seja beneficiado de forma consistente com o objetivo de oferecer uma alternativa segura, desde a primeira infância. Aumentar as vagas nas creches para que os filhos dos jovens sejam acolhidos e eles possam trabalhar e sustentar uma família recém constituída, é uma das necessidades proeminentes.
A fórmula é conhecida mas está sendo de difícil aplicação. Uma realidade que precisa ser transformada. O acesso à educação de qualidade, a inclusão digital para que os jovens cheguem ao mercado de trabalho com iguais oportunidades, atividades culturais, esportivas e de lazer além de incentivo à criação de grupos sociais que passem a capacitá-los para ações comunitárias e que previnam a violência irão oferecer sim, reais oportunidade para os jovens melhorar as condições de vida e desenvolver a cidadania.
Precisamos ainda de uma mobilização popular que pressione os governos a investigar e punir os responsáveis pela violência praticada contra os jovens negros. A omissão e a falta de punição garantem a continuidade de um contexto que nos indigna, nos envergonha e que precisamos transformar com ações planejadas.
Em Salvador – capital predominantemente afrodescendente- sobram riscos, faltam perspectivas. Não temos ginásios, piscina olímpica ou sem-olímpica destinados aos meninos e meninas estimulados a praticar esportes. É um dos caminhos que pode auxiliar as famílias a cuidar de seus jovens e vislumbrar um futuro diferente. Algumas novidades já despontam, como é o caso da construção do Complexo Esportivo de Cajazeiras e outro em Cosme de Farias.
Em Valéria, subúrbio ferroviário, já funciona há mais de um ano o Ginásio de Esportes Nelson Cazumbá para atender às escolas do complexo municipal, com arquibancada para 400 pessoas e aulas de esporte. Ainda é pouco. Precisamos muito mais. Vamos apostar que uma injeção de ideias e atitudes efetivas possam fazer girar esse panorama. O estímulo ao esporte com preparo de jovens atletas para competições nacionais, cursos profissionalizantes na cidade e no campo, apoio tecnológico e educação eficiente formam, sem dúvida, uma trincheira de peso contra a violência que ameaça nossos meninos, o futuro de nosso país. Para garantir o futuro, o caminho seguro é apostar no presente.