25 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Na semana passada a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um relatório onde buscou avaliar o bem estar e a qualidade de vida dos países membros. As perguntas que orientaram o estudo são bastante simples, mas sua efetiva mensuração impõe profundos desafios conceituais e metodológicos, principalmente porque, até bem pouco tempo, não havia uma preocupação por parte dos diversos países em medir o nível de bem estar de sua população. Normalmente as estatísticas nacionais focam em aspectos financeiros considerados mais duros e objetivos. O ponto de partida foi a seguinte pergunta: nossa vida tem melhorado ao longo do tempo? E se ela melhorou como isso pode ser avaliado? O trabalho apresentado agrega o resultado de pesquisas e análises realizadas ao longo dos últimos dez anos. Apesar do Brasil não fazer parte do OECD, ele foi incluído neste estudo.
Mas como o bem estar pode ser avaliado? Inicialmente eles distinguiram dois domínios principais: o bem estar atual, uma medida bidimensional estimada a partir de indicadores para condições materiais de vida (trabalho, renda e habitação); e qualidade de vida, uma medida composta por uma séria de indicadores que incluem: saúde, educação, equilíbrio entre trabalho e vida, redes de relacionamento, envolvimento cívico, segurança, qualidade do ambiente, governança e bem estar subjetivo. Um segundo domínio avaliou a sustentabilidade do bem estar no futuro e sendo correlacionado com fatores como capital social, humano, econômico e natural.
Pela simples observação dos elementos que foram levados em consideração é fácil concluir que os resultados são bastante amplos e complexos. De qualquer forma, creio que é importante destacar que ficou patente, mais uma vez, o impacto que as crises econômicas têm sobre as pessoas reafirmando a importância e a centralidade do trabalho. Ter um trabalho compatível com as competências individuais e que seja remunerado de forma adequada é uma aspiração mundial e estar desempregado tem um amplo impacto nas condições físicas, de saúde mental e de bem estar subjetivo dos indivíduos. Nessa direção, a OCDE reafirma que o aspecto central das políticas econômicas em todos os países deve ser o de buscar melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos.
Saindo do polo individual e olhando para as consequências sociais da crise econômica, o relatório mostra que em países onde a crise financeira se instalou de forma mais contundente foram percebidas significativas diminuições nos níveis de confiança nos governos e instituições abrindo espaço para ideologias radicais.
As implicações deste trabalho são extensas e se espalham por um grande número de áreas merecendo uma atenção mais específica para suas conclusões. De qualquer forma, precisamos aproveitar que a temporada de caça ao voto parece já ter sido aberta e exigir de nossos (vários) candidatos que expressem claramente suas posições em relação ao trabalho, emprego e bem estar dos indivíduos e da sociedade.