23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Não podemos esconder que no Brasil convivemos com uma cruel repetição genealógica a partir dos primeiros habitantes do país que não sabiam ler nem escrever e viviam sem assistência ou programas educacionais de relevância. Muita coisa mudou se considerarmos o marco inicial da República (1889) até os tempos atuais? Claro que sim. No entanto, a depender do tema avaliado evoluímos pouco. Como no quesito analfabetismo.
Por aqui, temos 60 milhões de analfabetos (incluindo os analfabetos funcionais); muito provavelmente esses serão (re)produtores de uma nova geração de analfabetos. Por outro lado, um casal letrado não vai permitir que os filhos fiquem longe da escola. Ao contrário, esses pais acompanharão com afinco o desempenho da prole na sala de aula.
A Bahia é o estado com maior número de analfabetos, segundo o Censo 2010. Mais de 1,7 milhão de cidadãos acima dos 15 anos estão nessa faixa. Analfabetismo se herda também através de um déficit histórico. Quando analisamos os números pelo recorte racial a situação fica ainda pior.
Os negros alcançam a menor taxa de alfabetização na Bahia (17,8%), estado com esmagadora maioria da população afrodescendente. Além disso, a maior parte dos jovens negros não está cursando a série correta, ou seja, está em atraso escolar muito maior que alunos brancos.
O governo do estado e as prefeituras têm que priorizar a educação infantil e o ensino fundamental além de eliminar o problema da geração de novos analfabetos. O Topa, em andamento na Bahia é propagado como salvador da pátria porém divulga números que não batem.
Como corrigir uma tragédia histórica sem programas sérios, de prazo indeterminado e com o comprometimento de toda sociedade?
De forma mais do que pertinente, o senador Cristovam Buarque, em artigo recente, citou o Programa de Apoio ao Estudante proposto em 2003 através do qual universitários de instituições particulares receberiam bolsa de estudos se participassem de atividades relacionadas à alfabetização de adultos por 6 horas semanais durante apenas um semestre do seu curso. Infelizmente o programa descrito em Projeto de Lei não saiu do papel.
O programa de apoio ao universitário que existe hoje é o Prouni sem nenhuma exigência ao beneficiário, portanto, sem nenhum auxílio à erradicação do índice que nos envergonha a todos.
Enfim, para mudar o ritmo dessa história que em nada lembra o progresso escrito em nossa bandeira e não soletrado por pelo menos 13 milhões de filhos legítimos – mas discriminados ao extremo – a pátria amada ainda tem muita estrada a percorrer.