24 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Um dos fatos mais significativos da semana que passou foi o processo de consulta à comunidade da UFBA para a escolha do seu novo reitor. Tivemos uma campanha acirrada e proposta para todos os gostos. Na quinta feira foi anunciado o resultado tendo João Carlos Salles sido o mais votado por professores, alunos e técnicos administrativos. Uma vitória significativa. Um dos principais desafios que espera o novo reitor será o da modernização dos processos de gestão da universidade, que se impõe como uma demanda urgente e generalizada da comunidade acadêmica e como necessidade para a plena realização de sua função social.
As mudanças nos últimos anos no ambiente institucional, que rege as instituições de ensino superior (IES), colocou enorme pressão sobre as estruturas administrativas das universidades públicas que são chamadas a inovarem e se reinventarem. Se por um lado, elas dispõem de mais recursos humanos, materiais e tecnológicos do que há vinte anos, por outro lado aumentaram significativamente as demandas, as exigências, os controles, as pressões sociais que precisam ser enfrentadas em um contexto de recursos limitados.
Por exemplo, a necessidade de regular a qualidade das instituições privadas levou ao surgimento de um sistema de acompanhamento e controle que foi estendido as IES públicas que, por sua vez, se viram às voltas com a necessidade de aprimorar seu desempenho, medidos por inúmeros indicadores distintos, como requisito indispensável à sua sobrevivência. Atualmente os repasses de verbas do orçamento do MEC estão vinculados à realização e alcance de uma série de metas e objetivos sendo esses recursos disputados com outras IES públicas em um mecanismo “quase” concorrencial. Some-se a esse quadro, a necessidade de produzir um conhecimento socialmente útil e tecnologicamente avançado e está dado o caldo de cultura ideal para grandes desafios gerenciais.
Curiosamente, o esforço observado na expansão, aparelhamento e resignificação da universidade pública parece não ter sido acompanhado por uma discussão mais profunda sobre as transformações na estrutura e na função gerencial que são necessárias para a sustentação dessas organizações. Tenho a impressão de que as tarefas administrativas são consideradas atividades menores em relação ao ensino, à pesquisa e à extensão e que, por este motivo, receberam pouca atenção dos nossos dirigentes.
Não é estranho encontrar estruturas e práticas administrativas arcaicas convivendo lado a lado com as últimas inovações tecnológicas nos diversos campos do saber. Na mesma forma, existe um gap de qualificação dos funcionários técnico-administrativos que precisa ser vencido e percebemos uma falta de preparo de muito dos nossos gestores, que são excelentes pesquisadores, mas que não tem formação nem aptidão para a gestão.
Este é apenas um dos muitos desafios que o próximo reitor terá que enfrentar. Entretanto, não restam dúvidas que este é, de longe, um dos mais espinhosos e difíceis.