24 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Às vezes eu me cobro um pouco de otimismo em relação ao futuro do Brasil e as perspectivas de um mundo melhor. Preciso reconhecer que esta não é uma tarefa fácil. Sou da geração que despertou para a vida nos anos oitenta, a chamada década perdida do Brasil. Faço isso, principalmente, pensando no que aguarda minhas filhas e no tipo de vida que elas terão. Não que eu seja pessimista, mas sou cético em relação às promessas dos políticos. Apesar dos ventos alentadores da abertura política, vivemos tempos de constante e profunda crise econômica, caracterizada por altas taxas de inflação e baixíssimos níveis de crescimento. De tempos em tempos, surgia um plano econômico com a promessa de dias melhores, mas que eram rapidamente substituídos pela desesperança e por novas crises, novos planos e novas promessas. Essa era também a época do Brasil, país do Futuro, um sentimento difuso de que poderíamos dar certo, um dia, e a esperança em tempos melhores.
Mesmo a estabilidade dos anos noventa não foi suficiente para espantar os traços de pessimismo e da desconfiança, afinal passamos por sucessivas crises internacionais que mostravam o quanto o equilíbrio alcançado era frágil e instável. Deve ter sido por isso que olhei para a bonança dos anos dois mil, com uma profunda desconfiança. Não havia nada em nossa história pregressa que justificasse o otimismo desmedido. Coincidiu que passei parte desse período na Inglaterra, fazendo meu doutorado, e não podia deixar de comparar tudo o que vi e vivi com a situação de nosso país. Certamente isso influenciou minhas percepções e visão de mundo, mas o fato é que achava os cantos de glória e as loas entoadas sobre o país coisa de cigarra deslumbrada e que a ausência do inverno deveria ser coisa do aquecimento global. Essa ideia me custou algumas amizades, mas a ética da formiga estava muito em baixa nesse período.
Tendo atravessado tempos tão turbulentos, não seria uma capa do The Economist, com o Cristo decolando como um foguete, suficiente para me encher de otimismo desmedido. Entretanto, reconheço que parte importante da população não tem memória desses períodos bicudos e talvez daí a profunda frustação e pessimismo que se abateu sobre nós. Quer dizer, a frustração advém das promessas e expectativas não cumpridas e o pessimismo parece ser oriundo para ausência de perspectivas.
Não temos saúde do primeiro mundo, não vimos a revolução da educação, os carros que compramos estão presos nos engarrafamentos e os milhões de novos membros da classe média perceberam que sua ascensão social são tão estáveis e tão duradoras quanto fizeram crer. Neste contexto, a copa encarna a expectativas não realizadas na promessa de construção do país grande, daí a frustração. Os estádios são monumentos permanentes a nos recordar que fomos enganados. Ou como diria o grande poeta popular, o cumpade Washington, sabe nada inocente. Já o pessimismo é oriundo da grande desconfiança que desenvolvemos sobre a vida cotidiana e as instituições e a falta de perspectivas para o futuro próximo. O Estudo da Pew Researching, tão comentado nos últimos dias, mostra isso claramente. A população desaprova fortemente a forma como o governo lida com a corrupção, a violência, a saúde, o transporte publico, a política externa…
Nessa altura do campeonato não se trata mais de saber se existem condições materiais e concretas que justifiquem o pessimismo e a frustração. Não adianta dizer que nuncantes…A questão agora é resgatar a esperança, dar uma perspectiva de futuro ao país, pensar em deixar um legado positivo para as próximas gerações. O negócio é MUDAR!