Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Confiança

Esta semana acompanhei uma discussão interessante sobre a forma de utilização de um sistema de registro de ocorrências, cuja finalidade principal consiste em identificar e mapear incidentes de segurança. De um lado da discussão estavam aqueles que defendiam um acesso limitado ao sistema, que se daria via indivíduos previamente identificados, cadastrados e autorizados a efetuar os registros. O cerne do argumento se localizava na desconfiança em relação ao eventual usuário e na possibilidade de mau uso do sistema. Do outro lado se alinharam os que defendiam o acesso universal partindo da premissa que os usuários são responsáveis, que ele é identificado ao logar no sistema e que esta desconfiança a priorí levava a mais uma desnecessária burocratização da organização e ao aumento de carga sobre trabalhadores específicos que assumiriam mais esta responsabilidade. O interessante foi observar como essa discussão materializou duas perspectivas distintas sobre o papel da confiança nas organizações e seu impacto no trabalho e nas relações humanas.

Em sentido lato, confiança consiste na certeza mútua de que nenhuma das partes envolvidas em uma troca/relação (qualquer) se aproveitará de eventuais vulnerabilidades da outra parte. Esta questão tem sido habitualmente tratada a partir de dois pontos de vista distintos. A perspectiva da análise econômica parte do pressuposto de que as partes não são confiáveis e que, por este motivo, mecanismos de governança legais /contratuais precisam ser erigidos como forma de vinculação e obrigação das partes.

Já aqueles que se baseiam em uma perspectiva comportamental partem do pressuposto de que as partes zelam pelos recursos que estão disponíveis e que são dignas de confiança. Nesta direção se sugere que custos sociais sejam impostos aqueles que buscarem comportamentos oportunistas como forma de obtenção de vantagens indevidas.
Qual das duas abordagens está correta? Não é possível estabelecer uma resposta para questões deste tipo. Ambas correntes têm argumentos sólidos e fundamentados. Seus pontos de partida são, normalmente, posições extremadas e generalizações irreais. Muito provavelmente a razão se encontra no caminho do meio.

Existem pessoas confiáveis e pessoas não confiáveis. Não há dúvidas de que precisamos de mecanismos contratuais legais que possam ser acionados em casos de descumprimentos de relações de troca, mas ao mesmo tempo precisamos construir relacionamentos e contextos culturais onde a confiança esteja na base do sistema de modo que as relações possam ser mais simples, diretas e desburocratizadas. No caso do sistema de registro que mencionei na abertura deste texto, defendi a posição do acesso universal. Parto do pressuposto de que as pessoas são dignas de confiança e acho que isso constrói ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.

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