24 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
A história é feita de versões. Normalmente prevalece aquela do vencedor, que decide o que é relevante, o que deve ser esquecido e como os “fatos” devem ser lembrados. Em tempos recentes temos visto a história ser reescrita bem em frente aos nossos olhos em diversas ocasiões. Isso não é necessariamente uma coisa ruim, erros históricos são reparados por novas versões sobre os fatos, mas também temos visto vários episódios de falsificação da história onde fatos históricos são propositadamente “esquecidos” em nome da doutrinação ideológica.
Esta semana estava em um banco quando presenciei uma “assembleia” do sindicato dos bancários com os funcionários onde se discutia a pauta de reinvindicações. A certa altura da conversa o sindicalista informou que haveria uma reunião no dia seguinte que seria crucial para os rumos da negociação, um dia D, na sua expressão, ai ele emendou…“não o dia D, como a mentira da vitória dos aliados na segunda guerra, já que a guerra foi vencida pelo lado oriental….”. Quando a fala terminou me dirigi ao orador para elogiar sua expressão, ele falava muito bem, diga-se de passagem, e comentei: Achei interessante sua colocação de que a II Guerra Mundial foi ganha pelo lado Oriental! Ele orgulhoso começou a falar da vitória da União Soviética na batalha de Estalingrado que marcou a virada da guerra no front oriental. Ai, eu aproveitei o embalo e perguntei: “E o Pacto Molotov-Ribbentrop?” Neste momento senti que ele tomou um susto, não esperava a pergunta, ficou meio sem jeito, fez uma menção ao acordo de antes da guerra como uma (sic) ação tática de Stalin…se despediu e foi embora. A conversa teve mais uns detalhes, mas seu resumo é mais ou menos este.
Para quem não se lembra, o pacto Molotov-Ribbentrop foi um acordo de não agressão assinado no dia 23 de Agosto de 1939, entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a Alemanha Nazista, por seus ministros de relações exteriores, respectivamente Vyacheslav Molotov (o mesmo dos coquetéis explosivos) e Joachim von Ribbentrop. O acordo incluía um protocolo secreto que previa a divisão da Europa e rearranjos territoriais entre os dois países, com influência/controle da URSS sobre os territórios da Romania, Polonia, Lituania, Letonia, Estonia e Finlandia.. A base comum para o entendimento entre a Alemanha e a União Soviética foi o seu declarado anti-capitalismo….Pouco antes da assinatura deste acordo, precisamente no dia 19 de Agosto, a URSS suspendeu conversas que desenvolvia com a Inglaterra e a França em relação à uma reação conjunta em razão de uma agressão Nazista.
Com a tranquilidade garantida no front oriental, Hitler se sentiu livre para desencadear sua ofensiva no oeste e deu início a uma das mais sangrentas guerras da história da humanidade (estima-se em 25 milhões o número de mortos). No dia 1 de setembro de 39, oito dias após o acordo com a União Soviética, a Alemanha invade a Polônia marcando o início da guerra no Território Europeu (para os chineses a guerra se iniciou em 37 com a invasão da Mandchúria pelo Japão, mas isso é outra história). No dia 17 do mesmo mês, de forma coordenada com as forças Nazistas, Stalin invade a porção oriental Polônia e pega sua parte no acordo. O protocolo foi modificado/ajustado algumas vezes até que em 1941, Hitler decide invadir a URSS (operação Barbarossa) por não confiar em Stalin.
Em tempos de propaganda eleitoral, onde cada um diz o que quer, eu achei que valia a pena contar esta estória para deixar meu registro de que mesmo diante de várias versões possíveis, devem existir limites à falsificação da história sobre os quais não podemos transigir.
A propósito, previsão de greve dos bancários no final do mês…