23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
A cada nova divulgação de dados sobre a saúde da economia brasileira, um novo susto. Redução violenta do ritmo de atividade econômica empurrando o país para a recessão, aumento nas taxas de desemprego reduzindo a massa salarial disponível para consumo, crescimento das taxas de inflação, principalmente em função dos preços administrados pelo governo, corroendo o poder aquisitivo população. E como se isso tudo não bastasse, temos ainda uma crise política instalada e sem perspectivas de solução em curto prazo. Por mais desanimadora que seja a situação, esta não é a primeira vez que nos deparamos com um cenário de crise como essa e a experiência mostra que, apesar dos elevadíssimos custos políticos e sociais já previstos e contratados, essa situação será eventualmente superada.
Entretanto, há um aspecto do atual cenário econômico que se não revertido produzirá consequências de longo prazo de difícil reparação: refiro-me ao rápido e sistemático desmonte do setor industrial brasileiro.
Ainda que se fale muito que estamos caminhando para uma economia baseada em bens intangíveis e, consequentemente, no setor de serviços, existem alguns problemas graves associados a essa situação: perda de empregos de qualidade. Em linhas gerais, a indústria demanda um trabalhador com qualificações maiores do que aquelas necessárias para atuação no setor de serviços. Trabalhos mais qualificados estão diretamente associados à remunerações mais elevadas. E por outro lado, o setor industrial o principal agente consumidor e difusor de inovação tecnológica. Em um mundo onde a capacidade competitiva esta cada vez mais associada à capacidade de produzir e utilizar tecnologia, a redução do poder industrial deve ser vista como uma séria ameaça estratégica ao futuro do país. Nesse sentido, creio que está na hora de começarmos a pensar em políticas e práticas de incentivo à efetiva reindustrialização da economia brasileira.
Essa temática já está presente na agenda política na Europa e nos EUA aonde a discussão vem sendo conduzida apoiada em dois eixos principais cujos fundamentos estão intimamente relacionados: o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas ao desenvolvimento sustentável e a redução de custos dos custos de geração de energia.
No caso do Brasil, precisamos acompanhar estas janelas de oportunidades que estão abertas, mas nós também precisamos levar em consideração a necessidade que temos de gerar empregos em grande quantidade e nesse sentido, um caminho talvez seja avançar no domínio de cadeias produtivas de produtos nos quais já somos fortes e que sejam intensivos de mão de obra, como o caso da indústria têxtil, por exemplo. Atualmente, existe forte predisposição nos principais mercados consumidores, em especial aqueles na Europa, de rejeitar produtos que tenham sido produzidos com base na destruição do meio ambiente e na exploração do trabalho (vide a proposta de rejeição à Nutella, na França, em função do uso de óleo de dendê cuja cultura é considerada uma das grandes responsáveis pela devastação de largas áreas de floresta na Ásia). Custos de produção mais baixos observados em países sudeste asiático podem ser contrapostos por uma conjunção de barreiras fiscais e sanitárias e por um foco em segmentos de maior valor agregado.
Não custa insistir, pelo tamanho de nosso país, abrir mão de um setor industrial forte significa assumir a nossa condição de eterna dependência e submissão a decisões e interesses estrangeiros.