Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Como um Cientista Ingênuo?

Quando era aluno do curso de Psicologia uma das situações mais marcantes da minha graduação foram as primeiras aulas das duas disciplinas de Psicologia Social que compunham o currículo de então. Ainda lembro como se fosse hoje da fala da professora na aula inaugural…

– Não há muito que dizer sobre esta matéria. Existe um conteúdo antigo baseado em uma abordagem americana da Psicologia Social que é defasado e que não faz mais sentido. Essa é uma abordagem muito positivista, determinista da realidade.

Dito isso, ela deu por encerrado o conteúdo formal da disciplina e direcionou as aulas para outros temas de seu interesse, especialmente aqueles relacionados com a clínica de inspiração psicanalítica. Lembro-me de pensar como era curioso o fato do currículo dedicar duas disciplinas para um tema sem sentido, mas que instrumentos e conhecimentos possuíamos para avaliar o quer era importante ou não?

Não entendia eu à época que isso expressava um padrão que iria se manifestar em muitos outros momentos, onde a escolha de conteúdos de disciplinas (o nome agora é componente curricular) se determinava pelas competências (na maioria das vezes incompetências mesmo) pessoais e pelos vieses ideológicos dos professores mais do que pela concepção de um conjunto organizado de conteúdos essenciais para a formação cidadã e o exercício profissional. Olhando hoje para essa situação, acho que ali já se insinuava um padrão de disputa pelo poder em torno dessa área da Psicologia, o que só tem se aprofundado ao longo do tempo.

A psicologia social busca compreender como nossos pensamentos, comportamentos e sentimentos são influenciados pela presença real, implícita ou simplesmente imaginada de outras pessoas. Só nos constituímos como sujeitos a partir da interação com outras pessoas.

Um tema particularmente interessante é o da atribuição de causalidade ao comportamento. Toda vez que observamos o comportamento de alguém desencadeamos processos cognitivos que têm por finalidade estabelecer uma explicação sobre o porquê ela age de uma forma específica. Agimos como cientistas ingênuos buscando relações de causa e efeito com base no senso comum, mesmo quando elas não existem.

Via de regra, não dispomos de todas as informações necessárias relacionadas a uma pessoa ou evento. Isso faz com que nossos processos inferenciais de julgamento e de tomada de decisão sejam baseados em pedaços limitados de conhecimento, pistas mesmo, sobre um determinado aspecto da realidade ou sobre uma pessoa. Assim, quando explicamos o comportamento de alguém temos uma tendência a subestimar fatores de contexto e a superestimar a extensão e os efeitos das atitudes e características individuais como causa da ação.

Curiosamente, esse padrão não é seguido quando julgamos os nossos próprios erros e acertos. Aqui temos a tendência a superestimar nossa contribuição para o sucesso e a atribuir ao contexto, aos fatores do ambiente, as razões para o fracasso. Exemplos desse processo estão visíveis a mancheias nos jornais cotidianos: quando um político abre a boca parece que ele é a própria encarnação do viés atributivo: quando dá certo é como se ele tivesse recebido o sopro de inspiração divina e construído, seja lá o que for, com as próprias mãos. Entretanto, quando as coisas desandam e as coisas estão dando errado, a culpa é da crise internacional, da oposição que não propõe, das forças poderosas e invisíveis que se levantam contra o interesse da nação….

Levar a conversa de bar dessa forma faz parte da construção cotidiana da sociabilidade, mas é possível, ou mesmo desejável, que as discussões políticas que guiam nosso país sejam conduzidas dessa forma?

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