23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
O que é certo? O que é errado? Durante muito tempo não havia dúvidas sobre isso. Roubar é errado, não importa a sua cor, o seu credo, a sua idade ou a sua orientação política. Poderia até haver atenuantes, como estado de necessidade, por exemplo, mas roubar era roubar. Hoje parece que valores perderam sua validade e, pior, sua legitimidade.
A cada dia se aprofunda a impressão de que o país perdeu o rumo e que nós estamos à deriva. Não me refiro ao rumo econômico ou mesmo político, mas ao rumo moral. As antes sólidas fronteiras entre o certo e o errado, entre o adequado e o ridículo, parece que se dissolveram no ar como espectros a nos assombrar.
Somos como um paciente enfermo, não do corpo que ainda demonstra algum vigor e energia, mas da alma que aos poucos se degenera e se transfigura. O que veríamos se o país pudesse se olhar no espelho?
Os sinais dessa doença da alma se apresentam em todos os âmbitos da vida cotidiana. A esclerose social se manifesta nitidamente quando percebemos que a propaganda política não hesita recuperar e reviver as imagens da propaganda nazista como forma de enfrentamento do adversário que precisa se desumanizado para ser mais violentamente combatido, e isso não nos incomoda. Parece que todo o esforço histórico de transferir para a política (através do parlamento) parte importante da resolução dos conflitos sociais tem sido solenemente desprezados e o conflito entre grupos e pessoas tem sido, de fato, estimulado. Pior, não para avanço do bem estar geral da sociedade, mas para a manutenção do poder de grupos cujos interesses não se confundem com os da nação. E continuamos a achar que tudo isso é natural….
Como podemos expressar adequadamente a perda da nossa capacidade de rirmos de nós mesmos quando damos importância excessiva às coisas que são irrelevantes sem que isso seja visto como mais um sintoma do adoecimento de nossa sociedade? De que outra forma podemos compreender a denúncia feita contra a nova propaganda da Bombril ao CONAR (Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária) por discriminação de gênero e ofensa à figura masculina!?!? Besta, irreverente, ela brinca com um jogo de palavras – as mulheres são como divas e os homens são devagar. Ofensa aos homens é achar que devemos nos sentir ofendidos por algo desse tipo! Ofensa grave é mais essa tentativa do politicamente correto de nos emascular de forma definitiva.
Contra os males da alma de um país, só um futuro comum. Contra a desagregação dos valores da sociedade, só a resistência cotidiana àqueles que buscam nos enfraquecer. Contra aqueles que buscam nos espoliar e se apropriar do bem público, só a resistência da lei. Contra a intimidação, despotismo e a opressão, o ronco das ruas.