23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Um dos elementos fundamentais do processo de produção do conhecimento científico é a publicidade. Não no sentido da propaganda e do marketing, mas na divulgação dos métodos, procedimentos e resultados das pesquisas realizadas para que sejam passíveis de replicação, avaliação e eventual confirmação dos resultados por parte de pesquisadores independentes.
A espinha dorsal desse processo se organiza em torno dos periódicos ou revistas científicas. Publicações especializadas cuja finalidade principal consiste na difusão do conhecimento produzido.
Com o passar do tempo, os periódicos científicos foram se especializando, o seu número se ampliou de forma espetacular, assim como cresceram os seus usos e funções. Como tudo na vida, existem periódicos minúsculos, de baixa visibilidade, cujos artigos são pouco lidos e citados, e existem Periódicos escritos assim mesmo, com maiúscula, tipo sonho de consumo de todo pesquisador sério, que conferem ao seu autor grande visibilidade e prestígio em sua área. Havendo uma diferença no alcance e na importância atribuída aos resultados de pesquisa em função de onde eles são publicados, não tardou para que surgisse toda uma área de estudos sobre avaliação do impacto das revistas e dos artigos. Mais ainda, o fator de impacto passou a ser uma das medidas de avaliação da qualidade dos programas de pós graduação e da produção dos pesquisadores. Base para a distribuição de recursos de pesquisa e objeto de cobiça de grandes casas publicadoras internacionais que buscam o controle sobre a difusão do conhecimento e sua avaliação.
Ainda que a questão da avaliação e do impacto seja uma realidade no Brasil, durante muitos anos passamos incólumes pela disputa das grandes editoras por dois motivos principais: o baixo volume de pesquisas brasileiras de qualidade no contexto internacional que nos deixou “fora do radar”; e uma ação do governo que incentivou a adoção de um modelo aberto e democrático de difusão (open access) que, basicamente, torna o conhecimento produzido no país acessível a qualquer pessoa que tenha acesso à internet.
Entretanto, essa situação se modificou. A produção científica brasileira passou a chamar a atenção em função de um crescimento significativo nos últimos anos, despertando a cobiça das casas publicadoras internacionais, verdadeiros conglomerados editoriais. É nesse ponto que o modelo aberto de difusão adotado no país passa a sofrer questionamento e ataques vindos de fora. A investida mais recente foi dirigida contra uma plataforma de divulgação de periódicos organizada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com apoio do CNPq (Scielo), mas cujo alcance é nacional.
Esse pode parecer um assunto menor diante dos graves problemas que temos enfrentado em nosso país nos últimos tempos. Entretanto, não podemos perder de vista que a capacidade de produzir conhecimento é condição sine qua non de qualquer projeto de desenvolvimento nacional autóctone. Pelo tamanho, pela posição e pela importância do Brasil, não podemos deixar que parte importante desse processo seja controlada por interesses outros que não estejam alinhados a um projeto nacional.
A defesa do modelo de acesso aberto, sem assinaturas, sem limitações, sem restrições de uso, é a defesa de um Brasil mais forte, mais democrático, onde o conhecimento está à disposição para quem quiser dele se utilizar.