23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Esqueça a rejeição das contas de Dilmá no TCU. Esqueça as contas de Cunha na Suíça. Tão pouco vale a pena se fixar nas seguidas derrotas do governo no congresso ou mesmo na continua deterioração do ambiente econômico. Por alguns instantes chego até mesmo a pensar que a divulgação das estatísticas de crimes violentos da nossa já habitual guerra civil é informação velha. A grande notícia da semana é o espetacular florescimento da vida animal na região norte da Ucrânia, mais especificamente, em Chernobyl.
Para quem não se lembra, em Abril de 1986, o reator nuclear da Usina de Chernobyl explodiu causando aquele que viria a ser o pior acidente nuclear de nossa história. O governo estabeleceu uma área de exclusão de trinta quilômetros ao redor da usina (aproximadamente 2.600 km²). Mais de cem mil pessoas foram evacuadas e obrigadas a deixar para trás suas vidas e seus pertences. Havia a expectativa de que a radiação comprometesse de forma irremediável a vida no local, mas para surpresa dos pesquisadores, um estudo divulgado nesta semana mostrou que a fauna se recompôs na região sendo observada uma enorme quantidade de grandes mamíferos, incluindo lobos (indicativo da presença abundante de pequenos animais), javalis, veados e mesmo ursos. Ou seja, a natureza se adaptou e seguiu seu rumo mesmo no cenário de uma explosão nuclear.
Essa deveria ser uma boa notícia, mas no fundo não é. Se nós conseguirmos nos livrar síndrome de Poliana, veremos que os resultados apontam claramente que a presença do homem faz mais mal à vida, à natureza, do que a bomba atômica. De fato, a vida só voltou a florescer na região porque não existem mais pessoas morando por lá.
Essa é uma questão importante, pois coloca em xeque a nossa capacidade construir empreendimentos humanos verdadeiramente sustentáveis. Por sustentáveis refiro-me a atividades cuja exploração no presente não comprometa o seu uso pelas gerações futuras.
Indo um pouco mais longe, Chernobly levanta a questão de que talvez a questão central da sustentabilidade não esteja exatamente na redução das pegadas de carbono e da utilização de energia e recursos renováveis. É possível que a discussão da sustentabilidade tenha que passar pela própria existência de pessoas no planeta.
Como podemos conciliar o consumo de uma sociedade de massa com a preservação dos recursos para uso das gerações futuras? Parece só haver uma solução possível, utilizar esses recursos em um nível inferior à sua capacidade de reposição. Em muitos casos, isso significa que o consumo de certos recursos deve ser simplesmente proibido (como já é o caso hoje de alguns tipos de peixes, por exemplo), e que áreas inteiras devem ser fechadas como forma de preservação. Seguindo por essa linha, isso também significa que os níveis atuais de consumo característicos de certos grupos sociais não poderão ser generalizados, o que coloca na mesa uma intrincada questão social. E ai a porca torce o rabo…
São várias questões para as quais não temos solução, mas talvez esteja na hora de nos perguntarmos se o mundo não está muito cheio… Mas olha outro problemão aí!