23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Tudo começou como uma brincadeira quando, em 1986, a renomada revista de negócios britânica, a The Economist, publicou pela primeira vez o seu índice Big Mac. A ideia era ilustrar a diferença entre a paridade do poder de compra entre moedas distintas e demonstrar, de uma maneira que fosse fácil de ser digerida pelo público leigo, os efeitos das taxas de câmbio que levam produtos idênticos a terem preços muitos diferentes entre os diversos países.
A escolha pelo sanduíche do MacDonalds se deveu três fatores básicos: por um lado ele é fruto de uma composição de produtos e serviços que se repete em todos os países onde ele é produzido; por outro lado, essa é uma marca conhecida com larga penetração nos mais diversos mercados mundiais. E por fim, tem a questão dele ser digerível…
Ainda que os economistas mais ortodoxos não levem o índice Big Mac a sério, o fato é que ele vem sendo publicado todos os anos, desde o seu lançamento. Bem, eu não sou economista, mas acho a ideia de compreender diferenças de poder de compra e câmbio pela comparação de preços uma coisa muito intuitiva e útil para nós, cada dia mais pobres mortais, habitantes da Terræ Brasilis.
A esse propósito circula nas redes sociais uma charge que ilustra o grau de desorganização a que chegou a nossa economia. Na verdade é um quase anúncio, uma promoção, diria. A chamada: comprando um computador Apple, ele vem com IPVA grátis! Isso mesmo, um computador pessoal custando o mesmo preço de um automóvel. Ainda que os produtos na Apple não sejam baratos em nenhum lugar do mundo, essa diferença só pode ser (mais um) sinal de que tem alguma coisa muito errada acontecendo. Só a título de ilustração, no laptop de entrada, a diferença do produto adquirido no Brasil daquele que pode ser comprado nos EUA é de 2,47 vezes, ou seja, quase 150%.
Antes que alguém levante o argumento babaca de que só os ricos compram produtos Mac, lembro que essa diferença exprime uma dura e complexa realidade de deterioração do ambiente de negócios que se espalha por diversos setores e que, no final, afeta a todos os brasileiros: um claro sinal de empobrecimento de nossa população e uma brutal perda de poder aquisitivo, uma estrutura de impostos que penaliza o consumidor nacional; um fechamento do marcado nacional ao produto estrangeiro, diminuição do consumo, perda de arrecadação, defasagem tecnológica (crítica em um mundo cada vez mais conectado), um estímulo à entrada de produtos muito desejados por vias não formais (o famoso contrabando), e por ai vai…Isso tudo sem contar que ganhar mil dólares nos EUA é muito mais fácil e rápido do que ganhar mil dólares no Brasil! E para completar, não há nenhum sinal de que as coisas vão melhorar em um futuro próximo.
Juro que gostaria de acreditar no país, mas confesso que isso é cada vez mais difícil. Estou ficando velho. Esse negócio de ser o país do futuro já não dá mais para mim. Preciso de um PAÍS agora!