23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Toda incursão para terras desconhecidas traz alguma dose de ansiedade que se apresenta já no planejamento da viagem, diante do primeiro desafio óbvio para todo aquele que coloca o pé na estrada: como escolher os meios de transporte e locais de hospedagem que serão usados na jornada? E mais, como ter certeza de que as escolhas foram acertadas? A forma tradicional sempre recorrer a amigos, agências de viagens e guias especializados. Entretanto, ainda que essas possibilidades estejam presentes a resposta óbvia para os dias atuais é a internet. E fazemos isso pela facilidade com a qual encontramos todo tipo de informação sobre qualquer coisa seja pela ação de um grande número de pessoas que colaboram voluntariamente para produzir informações que (esperamos sejam) fidedignas, atualizadas e seguras, seja pela ação dos sites inúmeros de busca que ajudam a organizar e sistematizar a gigantesca massa de informações existentes.
Entretanto, nem tudo são flores no mundo digital. Para mim foi uma grande surpresa descobrir que os sites de busca não são tão isentos quanto pensava que eles fossem! Prestando um pouco mais de atenção percebi que a informação que me é disponibilizada varia em função do meu perfil de busca e navegação na internet. Ou seja, os sites leem e acumulam informações pessoais e, a pretexto de fornecerem uma informação customizada, eles direcionam certas informações e chegam a alterar preços e disponibilidade como uma forma de induzir a algumas escolhas.
Numa viagem recente realizada em função da participação em um congresso, por exemplo, me deparei várias vezes com a informação – último assento disponível; só tem mais um quarto neste hotel em que você está pesquisando – para semanas depois de dúvidas e indecisões encontrar exatamente a mesma informação. Pior, chegando ao avião ou ao hotel escolhidos pude constar que aquelas informações não eram verdadeiras. Muitos outros assentos e quartos estavam efetivamente à disposição dos clientes. Aliás, percebi que ao mudar o computador que utilizava para buscas as informações que encontrava apresentavam pequenas, mas significativas variações.
Outra surpresa desagradável foi perceber que algumas notas atribuídas a meios de hospedagens não correspondem ao que você de fato encontra, seja lá que tipo de critério for o que você utiliza. Na busca por um hotel, um amigo identificou o que pareceria ser uma opção do tipo BBB, boa, bonita e barata. O site de reservas dava uma nota 8,7 e a classificação de espetacular. Ele fez a reserva, passou e indicação e vários de nós o seguimos. Como viajamos em horários distintos, o choque de realidade da hospedagem foi sentido apenas pelo primeiro que, ao chegar, prontamente identificou serem os quartos absolutamente inabitáveis!
Como se isso não bastasse, baixei o aplicativo de uma companhia aérea que promete agilizar check-in e ter informações atualizadas sobre voos. Pois, em uma viagem recente para o Maranhão com escala em Recife, depois de um atraso de quase três horas, ainda no aeroporto de Salvador, fui informado pela companhia aérea que o trecho Recife-São Luís havia sido cancelado. Curiosamente o aplicativo da companhia aérea dava a posição correta do avião (algum lugar entre o Espírito Santo e a Bahia), mas ao invés de indicar que estava atrasado ele mostrava que estava no horário e não informava o cancelamento de nenhum trecho da viagem.
A tecnologia pode ser boa, mas não podemos nos esquecer que existem pessoas e interesses que as alimentam….