Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Sambando na beira do abismo

Não há como uma imagem ser mais eloquente: sambando à beira do abismo captura de forma simples e direta o espírito do tempo em que vivemos. Para quem não ligou os pontos, essa foi a chamada de uma matéria sobre o Brasil no The Economist duas semanas atrás.

Os que se acham mais críticos dirão que se trata de mais uma ação imperialista do capital financeiro internacional que visa manter a pressão sobre os países em desenvolvimento – Eles têm medo de nós! Pode até ser, entretanto, uma explicação mais simples, creio, fornece uma resposta mais adequada: é muito difícil para um europeu ou um americano compreender a nossa dificuldade/incapacidade de enfrentar e resolver os problemas, simples ou complexos, que enfrentamos.

Nesse ponto preciso dizer que não li a matéria, mas fui capturado pelo título. Vivemos em um momento particularmente complicado e a conjunção de recesso parlamentar com Carnaval, não tornou nossa vida mais fácil, nem encaminhou qualquer tipo de solução para os nossos múltiplos e inadiáveis problemas. No campo econômico entramos no terceiro ano seguido de recessão, com forte retração dos investimentos e do consumo. A inflação segue persistente e não há sinais visíveis de recuperação no curto prazo. A situação é tão dramática que eventuais ganhos da população adquiridos nos últimos anos estão comprometidos: desemprego, redução da massa salarial, queda na qualidade do serviço público e aumento de preços atingem direta e fortemente os mais pobres. Há uma clara deterioração da condição social. A tão propalada expansão da classe média no Lulupetismo está seriamente ameaçada.

No campo da Saúde somente acordamos para a Zika depois de a tragédia bater à porta de milhares de famílias e do mosquito atravessar o mar. Uma tragédia sem par, de alcance ainda incalculável. Antes de sair na defesa do governo, lembre que há anos convivemos com uma epidemia de dengue (eu mesmo já tive duas) e ano passado ganhamos a chikungunya, todos transmitidos pelo Aedes Aegypti. Oswaldo Cruz deve estar se revirando no túmulo…

E para completar, vivemos uma paralisia política que expõe de maneira crua e dolorosa a incapacidade do sistema de reagir e de propor soluções para os problemas reais e concretos que enfrentamos, dando a impressão de que ele foi totalmente capturado por interesses meramente corporativos e particulares. Se o sistema político não oferece portas de saída para a crise, há o risco das soluções não institucionais ou, tão ruim quanto, de que um aventureiro seja eleito sem uma base política real. Nós já vimos esse filme e sabemos que ele não termina bem.
Ainda que nenhum desses problemas tenha uma solução rápida ou fácil, parece que estamos anestesiados e que não há um sentido de urgência no seu enfrentamento. É isso que espanta os gringos. No fundo, parece que nada disso importa.O carnaval acabou, o ano finalmente começou, mas e ai? Qual é a direção? Abismo, ooooonnnddeeeee………..?

Comentários