06 de outubro de 2017 | 20:47

Desigualdade no Brasil é maior do que estudos anteriores mostram

Pesquisa realizada pelo irlandês Marc Morgan, estudante da Escola de Economia de Paris e orientando do renomado economista francês Thomas Piketty, autor de O Capital do Século 21, mostrou que a desigualdade no Brasil é maior do que aquela apontada pelo IBGE, com dados recolhidos pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad).Segundo a Pnad de fevereiro de 2016, a concentração de renda dos 10% mais ricos do Brasil teria caído de 45,3% em 2005 para 40,5% enquanto que a renda dos 50% mais pobres teria subido de 14% para 18%, e a da classe média, de 40% para cerca de 41%.Mas, de acordo com a pesquisa de Morgan, publicada em agosto, entre 2001 e 2015 os 10% mais ricos aumentaram sua concentração de renda de 54% para 55%, os 50% mais pobres foram de 11% para 12% e os 40% da camada mediana foram de 34% para 32%. A diferença de resultados se explica pela metodologia.Para chegar nesses resultados Morgan utilizou, além dos dados do IBGE, informações das declarações de Imposto de Renda dos brasileiros, dado que não é contemplado pelo Pnad. “Ele parte do pressuposto que os mais ricos têm outras fontes de renda, como juros de investimentos e aluguéis, e muitas vezes não mencionam isso em pesquisas como o Pnad”, diz Maurício de Almeida Prado, mestre em antropologia e diretor executivo da Plano CDE, empresa de pesquisa de comportamento entre as classes CDE.Para Almeida Prado, o resultado mais preocupante da pesquisa francesa é que, além de a desigualdade ser maior do que se pensava, ela não vem diminuindo nos últimos 15 anos. Para efeito de comparação, países desenvolvidos como Estados Unidos e França têm uma concentração de renda entre 20 a 30% entre os mais ricos.Marcelo Medeiros, sociólogo, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), diz que a pesquisa de Morgan chama a atenção para a importância do peso que os ganhos de capital tem sobre a desigualdade. A Pnad foi desenvolvida para avaliar renda e previdência com origem no trabalho, e não para medir também rendimentos de aplicações financeiras.”Não devemos esperar resultados para os quais a Pnad, que é excelente, não foi desenvolvida. Mas também não podemos ignorar ela deixa de medir alguns fatores que ajudam a promover a desigualdade”, diz Medeiros, que já realizou estudos com metodologia semelhante à usada pelo irlandês, incluindo dados do Imposto de Renda, e que já haviam chegado a conclusões parecidas. “Mas Morgan usou mais informações”, afirma o pesquisador brasileiro. Ainda segundo Medeiros, os resultados da pesquisa francesa mostram que a desigualdade é muito mais determinada pela diferença entre os ricos e o restante da população do que entre os pobres e o resto.

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