26 novembro 2024
A passagem incólume do prefeito ACM Neto (DEM) pela Conferência do Clima em Salvador, quebrada exclusivamente ontem por vaias no momento em que se dirigiu, em agradecimento, ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mostrou que o democrata, mesmo em ambientes marcados pelo ativismo predominantemente esquerdista, não é associado ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). É mais um sinal de que o presidente e Neto são como água e óleo. Podem até se aproximar, traçar eventualmente algum tipo de estratégia pontual, mas jamais serão considerados, aos olhos da população, e do eleitorado, como feitos do mesmo material.
Apontado como responsável pelo crescimento do desmatamento na Amazônia, motivo de uma briga sem precedentes e insensata de seu chefe com países poderosos que ajudam a manter, com vastos recursos, um Fundo destinado a preservá-la para o mundo, Salles foi recepcionado com vaias e gritos de protestos estrondosos que variaram de “fascista” e “bandido” a “assassino”, os quais praticamente impediram o ministro de falar, obrigando-o a encerrar sua participação no evento às pressas e correr para um carro que o levaria ao aeroporto sem conversar com a imprensa.
A distância regulamentar com relação a Bolsonaro é, portanto, um ponto para Neto, que pegará uma eleição municipal pela frente, no ano que vem, onde deve jogar todo o seu empenho pela escolha e vitória de seu sucessor, que atende pelo nome de Bruno Reis (DEM), por acaso, seu vice-prefeito. Mantendo sua imagem distinta da do presidente da República, que alguns querem por querem reputar desde já como um grande eleitor em 2020, o prefeito não arca com o possível desgaste com que ele deverá chegar ao próximo ano, a continuar com as declarações estapafúrdias e o desinteresse pela melhora dos indicadores econômicos.
Se, por acaso, houver uma mudança positiva no país, para o que qualquer cidadão de sã consciência reza, o prefeito poderá escolher se posicionar como partícipe do jogo feito pelo governo federal, do qual membros importantes de seu partido já participam, surfando numa onda de novo alento que naturalmente deverá ajudar aqueles que buscarem se identificar com o presidente. Por enquanto, no entanto, faz bem o prefeito em buscar o distanciamento regulamentar, algo, em seu caso, absolutamente natural, já que defendeu até o fim o voto em Geraldo Alckmin (PSDB) para a Presidência, evitando compromissos com o bolsonarismo para o segundo turno.
Para isso, enfrentou até uma quase rebelião em casa, protagonizada pelo candidato ao governo que apoiou na Bahia, o ex-prefeito de Feira José Ronaldo (DEM), que, secundado por uma campanha de comunicação sofrível, a qual fez a proeza de aumentar sua rejeição no eleitorado, achou, num ato de desespero, que poderia melhorar sua performance na disputa associando-se à figura do então ascendente Bolsonaro. Foi o que, sob condição diversa, fizeram candidatos ao governo de outros Estados que acabaram ganhando as eleições usando o mesmo estratagema, o qual foi repelido publicamente pelo prefeito de Salvador à época.
* Artido do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*