Foto: Amanda Oliveira/GOVBA
14 de abril de 2020 | 09:16

‘Chato demais esse negócio de quarentena’, disse Moraes Moreira em última entrevista

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Quatro dias antes de morrer, o cantor e compositor Moraes Moreira concedeu uma entrevista à Revista E, do Sesc São Paulo. “Tá chato demais esse negócio de quarentena… Insuportável”, disse. Moraes falou dos Novos Baianos, das influências e do legado do grupo para a música brasileira.

“É um grupo que marcou o Brasil e em todo momento em que o Brasil tem dificuldade, os Novos Baianos aparecem para levantar a autoestima do povo brasileiro”, disse o cantor.

Segundo ele, os Novos Baianos “nunca fizeram música engajada”, afirmou. “O pessoal do Partido Comunista dizia que nós não servíamos para ser do partido porque éramos muito alegres.”

“Você nunca ouviu os Novos Baianos dizerem: ‘Abaixo à Ditadura’. Novos Baianos diziam: ‘Vou mostrando como eu sou e vou sendo como posso’. Entendeu? Novos Baianos diziam outra coisa, era outra linguagem, não era panfletária.”

Recentemente, o grupo foi homenageado com um musical que ficou em cartaz em São Paulo até dezembro do ano passado. Moraes disse na entrevista que aprovou ao ator que o interpretou. “Parecia que era eu que tava no palco. Maravilhoso.”

“Tive uma discussão com Baby. Por causa do musical sobre os Novos Baianos. Ela não queria que aparecessem drogas etc. Ora, que chateação. Havia drogas, sim, como havia alegria e música o tempo inteiro. Não dá para depois de velho querer apagar coisas de nossa juventude. Não dá para esconder, isso é meio ruim. Não dá para mudar a história, né? Éramos daquele jeito que apareceu no musical, sim.”

Morais também falou da vida no sítio em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Segundo ele, apesar de ter sido bastante feliz no local, foi um momento bem caótico de sua vida, dificultando a criação de seus filhos de forma “sã e saudável” -e isso foi um dos motivos que o levou a considerar sair do grupo. “Quis muito continuar no grupo e morar em outro lugar. Batalhei por essa alternativa, mas não foi aceita”, diz.

“Naqueles tempos, acho que começava a abertura no Brasil e pensei que os Novos Baianos, aquele grupo bem fechado, tivessem começado também um pouco a sua abertura. Mas foi um engano muito grande.”

Sobre o legado do grupo, o cantor disse que “os Novos Baianos ainda são e, pelo jeito, ainda vão continuar sendo, um grupo que marcou não só os anos 1970 como vem marcando a vida dos brasileiros”.

Moraes Moreira morreu às 6h da manhã desta segunda (13), no seu apartamento, na zona sul do Rio de Janeiro, aos 72 anos.

A morte foi confirmada pelo cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor, que está repassando a informação a antigos companheiros de Moraes, como Pepeu Gomes e Baby do Brasil.

Segundo a família do músico, a causa da morte foi um infarto no miocárdio.

Por causa da pandemia do novo coronavírus, que levou uma série de estados e municípios no país a decretar medidas de distanciamento social, local e horário do enterro não serão divulgados. Parentes de Moraes pedem, assim, que quem quiser homenageá-lo ouça a obra dele.

Folhapress
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