Foto: Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes 04 de outubro de 2020 | 10:02

Bolsonaro não entende planos econômicos, Guedes tem manias e indecisão ameaça o país

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No furdunço da pedalada desta semana, Jair Bolsonaro ouviu também conselhos de Roberto Campos, presidente do Banco Central, e gostou. Disse a um assessor do Planalto que Campos não entra em “brigalhada”, não faz barulho, é calmo e “joga para o time, sem vaidade”.

O assessor conta que perguntou se Bolsonaro estava então convencido de que seria preciso evitar manobras “fura-teto” para fazer o Renda Cidadã. O presidente respondeu algo como “é, isso a gente vai ver depois”. Importante mesmo era todo mundo do governo fechar a boca e deixar de “brigalhada”.

O presidente teria dito algo assim: “O Paulo Guedes precisa falar menos, precisa ficar uns dois meses quieto. O Braga Netto não fala nada. O Heleno parou de falar”.

Esse assessor pede para ressaltar que não há perspectiva de Guedes sair do governo e que os rumores velhos de que Campos ocuparia o lugar do ministro teriam sido plantados por inimigos pessoais.

Pelos relatos de quem anda perto de Bolsonaro, o presidente parece acreditar na última conversa que ouve a respeito de algum plano econômico, desde que o projeto não mexa com militares, policiais, aposentados e servidores. Fica feliz quando um grupo de políticos ou assessores apresenta o que parece ser uma solução definitiva e rápida, de modo efusivo e efervescente; “vai na onda”. Se o plano dá errado ou é mal recebido, tem dificuldade de entender os motivos e procura um culpado ou conspirador.

O presidente teria grande desconfiança da equipe econômica, que “não joga para o time”, não acha soluções, que inventa soluções burocráticas. Não seria o caso de Guedes, que teria ingenuidades e vaidades, mas seria leal e merece gratidão por ter apoiado Bolsonaro desde antes da campanha eleitoral.

Seja como for, Guedes é incapaz de convencer Bolsonaro de um plano ordenado e completo a respeito de quase qualquer coisa, vide a novela do Renda Cidadã. Por outro lado, acredita que vai tourear o presidente e convencê-lo de suas ideias fixas, como a CPMF. Mesmo com os vetos gritantes de Bolsonaro ao imposto, desde antes da posse do governo, o ministro jamais desistiu da ideia, como ficou evidente. São dois anos de cabo de guerra, problema que ora ameaça afundar a reforma tributária.

Gente do próprio ministério da Economia diz, de resto, que o ministro leva a Bolsonaro ideias que ainda não estão prontas, que acabam sendo chanceladas com pouca base, ou volta do Planalto com planos novos que acertou com o Planalto, mas que ainda não têm ou não terão fundamento. Sim, além do mais há secretários de Guedes que não gostam de Guedes.

E daí? É fácil perceber que esse método, digamos, produz indecisão sistemática, problema até para um governo que é fundamentalmente desvairado e apartado do universo da razão.

Os economistas do governo agora trabalham em um plano de cortes de despesas sociais “aos poucos”, de modo a não afrontar Bolsonaro, evitar um estouro do teto de gastos e financiar um Renda Cidadã, enquanto tentam ainda levar adiante as emendas emergenciais que permitirão um talho na renda dos servidores. Políticos do governismo e parte do ministério tentam ainda uma saída alternativa, que envolve sim um fura-teto, talvez extraordinário, como uma extensão do período de calamidade, do que Guedes está bem ciente e fala em público.

Não, não é esse o grande debate sobre o Brasil, mas é o que temos. É do acerto de pelo menos essa desordem vulgar que depende o futuro imediato da economia, goste-se ou não da solução.

Folha de S. Paulo
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