23 dezembro 2024
Maior derrotado nestas eleições municipais na Bahia, o governador Rui Costa (PT) fez um inusitado post nas redes sociais, nas primeiras horas da manhã de hoje, tentando contestar um fracasso político que não é só óbvio, como ululante.
“Em 2016, nas eleições municipais, o PT obteve 762.365 Votos para Prefeito (sic) no 1 turno na Bahia. Em 2020 obteve 1.087.034 Votos. Um crescimento de 42,59%, com 324.669 Votos a mais”, disse o governador, para completar:
“A luta continua, por um Brasil mais justo e de oportunidades para todos.” Como disse um aliado surpreso com a manifestação do governador, era melhor que ele tivesse ficado calado. Outro assinalou que Rui pode não ter dormido, sugerindo desorientação.
De fato, querer ver crescimento onde o resultado é de derrota pode ficar bom até para um estatístico, um professor de matemática ou um cientista maluco, mas para um político é simplesmente devastador. Se Rui pensa assim mesmo, quem depende dele politicamente está no pântano.
Em pratos limpos, o governador foi fragorasamente derrotado em Salvador, onde protagonizou uma péssima escolha para a sucessão municipal, e fracassou redondamente em Feira de Santana e Vitória da Conquista, onde se dedicou tanto quanto o adversário ACM Neto (DEM) para eleger os respectivos aliados.
O panorama foi ainda mais desastrado porque os dois petistas que disputavam em Feira, Zé Neto, e em Conquista, Zé Raimundo, saíram do primeiro turno como francos favoritos a ganhar a eleição no segundo.
Dessa pintura meio borrada, se depreende que faltou garra ou, o que é muito pior, competência. Curiosamente, são os correligionários os mais animados com a derrota imposta a Rui pelo eleitor das maiores cidades, na expectativa de que, dos números, ele extraia algum ensinamento.
Ontem à noite, eles já lembravam que Rui marchou para a campanha, tanto na capital baiana quanto nos dois outros municípios, sem um coordenador político, um chefe da Casa Civil e um secretário de Relações Institucionais.
“É incrível como parece que ele não vê nada”, desabafou um outro correligionário, este petista, antecipando as consequências da “péssima”, conforme enfatizou, condução dada pelo governador à sucessão municipal na Bahia.
Mas elas já estão na boca dos próprios políticos, tanto do governo quanto da oposição. O prefeito ACM Neto, que ganhou em Salvador e viu seu esforço ser recompensado em Feira e Conquista, é, incontestavelmente, o grande vitorioso da campanha.
O que torna o democrata, principalmente na visão dos mais próximos, favorito para a disputa do governo estadual em 2022, provavelmente contra o senador Jaques Wagner, que, se já chegaria lá com um déficit de novidade e um superávit de desgaste natural, agora o fará também com menos apoios tanto locais quanto nacionalmente, onde o lulismo foi dizimado.
Wagner deve estar hoje a roer as unhas do pé. Se o destino não passar a ajudá-lo, terá que se articular tendo no meio do caminho uma pedra chamada Rui Costa. Uma pedra, diga-se de passagem, que ele mesmo burilou.
A menos que o governador, entendendo que errou, e errou feio, não tendo acertado uma, calce as sandálias da humildade e passe o controle do processo político imediatamente ao senador. Os rumores de que Rui não quer honrar com os aliados o que pactuou para o primeiro turno em Salvador foi um péssimo sinal.
Assim como este post que fez na manhã de hoje, que, seguramente, vai entrar rapidinho para o recente anedotário político baiano, quiçá nacional.